domingo, 2 de maio de 2021

Ordem dos Advogados: requisição do Zmar pode pôr em causa Direitos Humanos

 


SOCIEDADE

Ordem dos Advogados: requisição do Zmar pode pôr em causa Direitos Humanos

 

1 MAIO 2021 13:52

João Miguel Salvador

Jornalista

https://expresso.pt/sociedade/2021-05-01-Ordem-dos-Advogados-requisicao-do-Zmar-pode-por-em-causa-Direitos-Humanos-64235052?fbclid=IwAR0UT0CNLtLc4kvLieQHGJgP66QjZVD19LUWqqRZG4EA2BFDySQTXI5gliE

 

A Ordem dos Advogados anunciou este sábado que o Bastonário Luís Menezes Leitão vai solicitar a intervenção da Comissão de Direitos Humanos. Em causa estão as requisições civis no município de Odemira (sob cerca sanitária), com o objetivo de instalar pessoas infetadas, pessoas em risco de contágio e também população que vive em situação de "insalubridade habitacional". O complexo Zmar foi incluído na requisição, contra a vontade dos proprietários

 

A polémica em torno da requisição da totalidade dos imóveis do empreendimento ZMar Eco Experience está a subir de tom e a Ordem dos Advogados considera que pode estar mesmo em causa uma violação dos Direitos Humanos. Numa nota enviada ao Expresso este sábado, alertam que "a requisição temporária, por motivos de urgência e de interesse público e nacional" pode "envolver casas de habitação própria e até de primeira habitação", razão pela qual o Bastonário da Ordem dos Advogados (OA), Luís Menezes Leitão, vai a intervenção da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados (CDHOA) neste assunto.

 

Em causa está uma requisição civil decretada pelo governo e que abrange a totalidade das 260 casas do empreendimento (do qual fazem parte 160 que pertencem a particulares), com o intuito de ali alojar pessoas em isolamento profilático. Segundo Menezes Leitão, a requisição, ainda que temporária, de casas de habitação, obrigando à sua desocupação pelos proprietários para permitir a ocupação por terceiros, pode constituir uma violação de direitos humanos. O Bastonário frisa ainda que, assim que estado de emergência é levantado, "deixam de estar suspensos os direitos, liberdades e garantias dos cidadãos, e portanto têm os mesmos direitos a ser protegidos contra intervenções arbitrárias do Estado na sua propriedade e no seu domicílio familiar".

 

PROPRIETÁRIOS CONTRA A DECISÃO GOVERNAMENTAL

Desde o início que a decisão está longe de ser pacífica e na sexta-feira houve mesmo um grupo de 20 proprietários com habitações no empreendimento Zmar a concentraram-se no local em protesto. A decisão foi conhecida na quinta-feira, quando o primeiro-ministro anunciou no final do Conselho de Ministros que o executivo iria fazer requisições no município de Odemira (sob cerca sanitária) — com o objetivo de instalar pessoas infetadas, pessoas em risco de contágio e também população que vive em situação de "insalubridade habitacional admissível, com hipersobrelotação das habitações", como é o caso de vários trabalhadores agrícolas emigrantes, entre os quais têm sido detetados surtos da doença covid-19.

 

O despacho, publicado na quinta-feira à noite em Diário da República e com efeitos imediatos, decretava "a requisição temporária, por motivos de urgência e de interesse público e nacional, da totalidade dos imóveis e dos direitos a eles inerentes que compõem o empreendimento 'ZMar Eco Experience', localizado na freguesia de Longueira-Almograve". O espaço ficará alocado à realização do "confinamento obrigatório e do isolamento profilático por pessoa a quem o mesmo tenha sido determinado", lê-se no mesmo diploma.

 

FALTA DE FUNCIONÁRIOS CONDICIONA UTILIZAÇÃO

Na sexta-feira, o representante da maioria dos proprietários de casas no complexo turístico Zmar, em Odemira, alertou também para o facto de "não haver trabalhadores" para assegurar a requisição decretada pelo Governo para a quarentena de pessoas, devido à covid-19. "Se o Governo nos disser que está disponível para pagar, e se o escrever, nós somos os primeiros a contratar pessoas e a colocar todos os serviços para que o Zmar seja um exemplo ao nível da pandemia em Portugal", afirmou o advogado Nuno Silva Vieira.

 

O espaço, devido à pandemia de covid-19, entrou em insolvência e esta semana tinha sido aprovado, no Tribunal de Odemira, "uma recuperação" económica do projeto, prevendo "100 postos de trabalho, um verão 'cheio' para [captar] uma receita capaz de recuperar" o complexo e "um investidor" disponível.

 

"Estava tudo previsto para abrir no dia 28 de maio, com obras significativas de recuperação a partir de segunda-feira", mas, "a partir do momento em que a requisição civil é feita", já não vai ser possível "cumprir esse plano", até porque "o investidor já não vem", disse o advogado.

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