CORONAVÍRUS
Adeptos ingleses chegam sem bolha de segurança para final
da Liga dos Campeões
Governo anunciou que apoiantes de Chelsea e Manchester
City viajariam em charters, mas UEFA explica que isso não é obrigatório.
Reservas em hotéis sobem e ingleses (com e sem bilhete para o jogo) começam a
chegar.
Miguel Dantas
25 de Maio de
2021, 21:42
O Governo
prometeu uma “bolha de segurança” para os 12 mil adeptos ingleses no Porto,
mas, a quatro dias da final da Liga dos Campeões, essa bolha começa já a ser
quebrada. A UEFA confirmou ao PÚBLICO que é apenas “altamente recomendável” — e
não obrigatório — que os adeptos viajem no próprio dia do jogo, como tinha sido
anunciado pelo Governo, sendo que os próprios clubes ingleses também não
impuseram restrições de viagens aos apoiantes na compra dos bilhetes,
alternativa escolhida por alguns dos simpatizantes na viagem para o Porto. Por
último, foi colocada à venda uma tranche de 1700 bilhetes para o público geral,
algo que dificultará o controlo dos adeptos.
Após ter sido
conhecida a decisão da UEFA de trazer a final da Liga dos Campeões para o
Estádio do Dragão, a ministra de Estado e da Presidência, Mariana Vieira da
Silva, explicou a operação de segurança que estava a ser montada. O principal
objectivo seria impedir contactos entre os adeptos e a população geral, com
zonas próprias para acolher os simpatizantes de Chelsea e Manchester City.
“As pessoas que
vierem à final da Liga dos Campeões virão e regressarão no mesmo dia, com teste
feito e em situação de bolha. Ou seja, em voo charter, deslocação para duas
zonas de espera de adeptos, daí para o estádio e depois do jogo de volta para o
aeroporto, estando em território nacional menos de 24 horas com esta
permanência em bolha e testes obrigatórios”, esclareceu a ministra, no dia 13
de Maio, sobre o plano para a final.
A juntar-se à
confirmação da UEFA, o PÚBLICO apurou que os adeptos dos dois clubes não tinham
qualquer obrigatoriedade de viajar nos charters com os restantes simpatizantes
para assistir ao jogo. A Polícia de Segurança Pública (PSP) do Porto não quis
prestar esclarecimentos, não tendo sido possível obter até agora as respostas
do Ministério da Administração Interna, da Educação e do secretário de Estado
do Desporto, João Paulo Rebelo. Também Manchester City e Chelsea não
responderam ao pedido de esclarecimento feito pelo PÚBLICO.
Procura de hotéis
aumenta
David Sigsworth,
responsável pelo núcleo de adeptos do Manchester City em Castleton, chegará ao
Porto já na manhã de sexta-feira. Tal como este simpatizante dos “citizens”,
mais duas dezenas de membros do núcleo viajam para Portugal antes do jogo,
permanecendo depois no país para visitarem Lisboa.
“Foi a ministra
que disse isso da bolha de segurança, não foi? Pois, eu vi isso [na Internet].
Com bilhete vão ser seis mil adeptos do Chelsea, outros seis mil do City. Devem
chegar ainda mais sem bilhete a Portugal. Sinceramente, acho que Portugal cometeu
um erro e as autoridades vão ter mais [trabalho] do que pretendiam”, diz,
taxativamente, em conversa com o PÚBLICO.
A videochamada
seria interrompida segundos depois por uma batida na porta. “Siggy”, como é
conhecido pelos restantes adeptos do clube, levanta-se para entregar mais um
bilhete da final a um dos 200 membros do núcleo, um dos maiores que o City tem.
Brincando com mais de uma dezena de ingressos na mão, conta que a importância
do jogo para a equipa — que vai disputar a primeira final da Liga dos Campeões
na sua história — levará muitos ingleses sem bilhete a Portugal.
A hipótese
levantada por “Siggy” é confirmada pelo presidente da Turismo do Porto e Norte
de Portugal (TPNP), Luís Pedro Martins, que destaca uma subida na taxa de
ocupação dos hotéis na cidade para o dia do jogo. “Há um elevado número de
reservas na cidade de britânicos, temos tido feedback da hotelaria, com algumas
[unidades] até a esgotar. Tenho absoluta certeza de que [esta procura] é
resultado da Liga dos Campeões”, resume o responsável, salientando a
possibilidade de os adeptos permanecerem mais do que as 24 horas anunciadas
pela ministra Mariana Vieira da Silva.
"Livres para
explorar” a cidade
Um dos que
chegará à cidade do Porto apenas na manhã de sábado é Luke Garner. Depois de
muita frustração, o londrino de 21 anos conseguiu comprar um bilhete para
cumprir um sonho de infância: ver, ao vivo e a cores, o Chelsea numa final
europeia.
Luke é um dos
adeptos que fará a viagem nos charters anunciados pela ministra. Mas, de acordo
com o email de reserva que o adepto mostrou ao PÚBLICO, onde é mostrado o
roteiro da viagem, é mencionada a hipótese de os adeptos “desfrutarem da
cidade” depois de serem guiados até ao estádio. Tal como no caso do Manchester
City, também não existia obrigatoriedade de optar pelas viagens organizadas
pelo Chelsea.
“A primeira fase
de compra foi a de voos independentes, mas não consegui fazer o meu pedido a
tempo. Depois soube que existiriam mais 1500 bilhetes à venda com o pacote de
viagem e consegui comprar. Partiremos na manhã de sábado, de Gatwick, por volta
das sete da manhã. Mas, sinceramente, nem diria que vamos estar numa ‘bolha’,
até porque recebemos um email a dizer que estaríamos livres para explorar a
cidade e irmos aos pubs”, explica o jovem, ainda em Londres, em conversa com o
PÚBLICO.
Apesar de
garantir que “faria tudo” para estar presente naquela que pode ser a segunda
conquista da Liga dos Campeões para os “blues”, Luke admite algum receio quando
pensa no aspecto logístico desta final, cuja localização foi anunciada apenas
duas semanas antes da partida: “Acho que vai ser muito difícil correr tudo bem
logisticamente, estou a tentar não pensar nisso.”
A final da Liga
dos Campeões está marcada para sábado às 20h. Inicialmente limitado a 12 mil
espectadores, o jogo receberá até 16.500, depois da nova venda de bilhetes para
o público em geral, anunciada nesta terça-feira.
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