CHEGA
Pastores evangélicos promovem André Ventura
Investigação da revista Visão revela ligações de
dirigentes do Chega a movimentos extremistas de direita.
PÚBLICO 21 de
Maio de 2020, 13:28
A revista Visão
revela na sua edição desta quinta-feira que o partido Chega, liderado por André
Ventura, está a ganhar terreno junto dos lóbis evangélicos, de extremistas de
direita e de profissionais ligados ao sector imobiliário de luxo.
Numa longa
investigação, a revista assume mesmo que há pastores evangélicos a seduzirem os
seus fiéis durante os cultos religiosos e acrescenta ainda que há antigos
militantes do PSD, CDS e até do PS a aderirem ao Chega por estarem desiludidos
com os seus antigos partidos.
Segundo a Visão,
vários dirigentes do partido dedicam-se ao sector imobiliário de luxo, como é o
caso do vice-presidente e ideólogo do Chega, Diogo Pacheco de Amorim, consultor
imobiliário que assumirá o lugar de André Ventura no Parlamento no arranque da
campanha presidencial, e o director de comunicação do partido, Ricardo Regalla,
consultor na imobiliária 1st Class Key, com negócios em Lisboa e na linha de
Sintra e Cascais.
Luís Filipe
Graça, presidente da mesa da convenção do Chega tem sido apontado como tendo
ligações à extrema-direita, que nega. Porém, a revista diz que o seu filho,
Luís Graça, participou na organização de eventos nacionalistas com os
neofascistas Gianluca Iannone, na Itália, Olena Semenyaka, na Ucrânia e
participou ainda no festival Pro Patria, na Grécia.
Já Carlos
Carrasco, vice-presidente da distrital de Setúbal, que chegou a ser candidato
pelo Partido Nacional Renovador, é apontado como tendo ligações a Marine Le
Pen, da Frente Nacional, em França.
A revista fala
ainda na forte participação do partido e dos seus militantes nas redes sociais,
onde serão usados milhares de perfis falsos para promover o Chega e o seu
líder.
OPINIÃO
Nas alfurjas do Chega
Haja quem os combata desmitificando e esclarecendo as
virtudes da vida democrática e das suas instituições, mesmo quando defeituosas.
Que ninguém subestime a bestialidade.
29 de Maio de
2020, 11:30
Quem ousaria
imaginar que o capitão Bolsonaro, vinte anos deputado, encostado à dolce vita
parlamentar brasileira, sem qualquer relevo a não ser pelo recalcitrante apoio
à ditadura militar, pudesse vir a ser Presidente de um dos maiores países do
mundo, o país do Chico Buarque, Oscar Niemeyer, Maria Bethânia, Carlos Drummond
de Andrade, Manuel da Fonseca, Vinicius, João Gilberto, Jorge Amado, Tom Jobim
e tantos mais?
O seu currículo
resumia-se a defender os piores crimes da ditadura de modo grosseiro e banal,
um cavernícola que via perigosos comunistas em cima dos fantásticos jacarandás
do Rio de Janeiro, nunca levado a sério no que toca a ser eleito Presidente.
Não passava de um capitãozeco extravagante de segunda ou terceira ordem.
Mais ao Norte,
naquele mesmo continente, quem ousaria imaginar os EUA serem dirigidos por um
magnata da construção civil que trazia consigo um lastro de corrupção,
negocismo, de fuga aos impostos, supremacismo branco, homofobia, racismo e a
mais completa incompetência para o cargo? Quem imaginaria esta personagem dos
reality show Presidente do país de Lincoln? Quem ousaria imaginar esta
personagem a receitar cloroquina para atacar o coronavírus, depois de
aconselhar lixívia? Sim, é verdade, não é realismo fantástico, a cruel
realidade vinda dos EUA…
A História a
todos surpreende pelo seu elevado grau de imprevisibilidade. Vale a pena fazer
esta pergunta: Houve ou não um olhar benevolente para estes dois homens, sempre
encarados como outsiders? Foi feito o que devia ser feito para o impedir?
Até certa altura
o seu extremismo era tão evidente que por esse facto pensava-se que seriam
barrados pelo apego democrático às instituições das populações de ambos os
países.
Pois é, mas não
foi. Quando se ouvem vozes de democratas a defenderem que se não dê combate a
André Ventura porque daí resulta a sua valorização e importância, vale a pena
refletir com base na experiência de outras situações similares.
Em todos os povos
há classes parasitárias e largas camadas sociais de todas as classes que se
deixam atrair pelo oportunismo imediatista, pela promessa de autoridade que
resolva problemas graves, pelo nacionalismo cego, pela violência contra as
minorias, por homens assumidos como providenciais que dizem o que se diz no
café, e o rol é vasto. Sabemos que Salazar e Caetano se aguentaram 48 anos… é
caso para pensar. A autoridade ditatorial a impor-se a um povo conformado,
salvo honrosas e extraordinárias exceções.
Quando Ventura
propõe a deportação de Joacine, o confinamento dos ciganos, o regresso à cadeia
de todos os presos libertados, a castração dos pedófilos, o aumento das penas
de prisão, e quando propala mentiras evidentes, quando destila ódio contra o 25
de Abril e incensa a religiosidade, poderá haver dúvidas que os antifascistas
devem combater com serenidade, lucidez e inteligência este político arrivista
que se tornou graças ao futebol e à CMTV/Correio da Manhã conhecido e seguido
por importantes franjas da sociedade portuguesa?
Caminhamos para dias muito difíceis, com desemprego a
níveis assustadores, com miséria e fome. Neste terreno medram os profetas
evangélicos e outros, os adoradores do autoritarismo, os vendedores do
divisionismo. Que ninguém se esqueça das lições da História
Poderá haver
qualquer dúvida sobre o extraordinário trabalho do jornalista Miguel Carvalho
acerca dos meandros do Chega e do mundo que o sustenta e que trouxe à luz do
dia as alfurjas tenebrosas do Chega?
Caminhamos para
dias muito difíceis com desemprego a níveis assustadores, com miséria e fome e
uma UE nas encolhas e com um governo a esquecer-se dos que vivem muito mal,
arrombando a Segurança Social para que as grandes empresas beneficiem dos
descontos de quem trabalhou e descontou.
Neste terreno
medram os profetas evangélicos e outros, os adoradores do autoritarismo, os seguidores
do mais boçal primarismo, os vendedores do divisionismo, os que se agacham na
democracia para a morderem. Haja quem os combata desmitificando e esclarecendo
as virtudes da vida democrática e das suas instituições, mesmo quando
defeituosas. Que ninguém subestime a bestialidade. Que ninguém se esqueça das
lições da História.
Sem comentários:
Enviar um comentário