HABITAÇÃO
Alojamento Local torna-se “activo tóxico”: novos registos
recuam para níveis de 2014
Em Abril foram registadas apenas 189 unidades. Em Março,
o número tinha sido de 1021 novos registos
Luísa Pinto 25 de
Maio de 2020, 17:25
É preciso recuar
seis anos, até Setembro de 2014, para encontrar uma dinâmica tão baixa nos
números relativos aos novos registos de Alojamento Local (AL). Ao longo do mês
de Abril, foram abertas apenas 189 novas unidades, o pior resultado dos últimos
64 meses. Estas novas unidades correspondem à colocação no mercado de 656 novas
camas.
Manuel Braga, CEO
da Imovendo, a consultora imobiliária que esteve a compilar e a analisar estes
dados disponibilizados pelo Turismo de Portugal tem uma explicação para o sucedido:
“Hoje em dia o Alojamento Local assume um carácter quase tóxico quando até ao
passado mês de Março era encarado como um produto de elevada rentabilidade”.
Uma consulta aos
dados divulgados pelo Turismo de Portugal permite perceber que no mês de Março,
quando foi declarado em Portugal o estado de emergência, ainda foram registados
1021 novos alojamentos locais, e 3621 novas camas. E nos meses de Abril dos
anos anteriores, esses números foram sempre bastante mais elevados: 1214 em
2017, 2310 em 2018 e 1750 em 2019.
“Esta é apenas
uma evidência da falta de confiança que os investidores actualmente sentem e
que revela também que as expectativas futuras para o Turismo, em geral, e para
o AL em particular, são longe de animadoras, mesmo com os programas que algumas
câmaras municipais já anunciaram, como é o caso de Porto e Lisboa”, afirma
Manuel Braga, CEO da Imovendo, a consultora imobiliária que acaba de divulgar o
seu relatório estatístico mensal relativo ao mês de Maio.
Manuel Braga
refere-se aos programas Renda Segura e Porto com Sentido, lançados
respectivamente pelas Câmaras de Lisboa e do Porto, e que pretendem arrendar
fracções que estavam no mercado no regime de Alojamento Local, e usá-las para
desenvolver as políticas de habitação municipais, subarrendando-as.
No caso da Câmara
do Porto, também foram levantadas as medidas de contenção que agravavam o IMI a
pagar pelos projectos que surgissem em áreas delimitadas, como as que estavam
definidas para o centro histórico da cidade.
“Quem apostou no
AL procura agora alternativas, como a venda de activos ou a sua colocação no
mercado de arrendamento de longa duração. Quem dele dependia para escoar
produto reabilitado, vê-se com activos desvalorizados e com menor procura. Quem
nele pensava apostar, retrai-se agora, fruto da elevada incerteza e risco que
enquadra o sector”, argumenta Manuel Braga.
Resta agora saber
até quando se vai manter esta tendência. No mesmo relatório, em que analisa os
indicadores referentes ao mês de Abril, já é possível encontrar a melhoria de
alguns indicadores que haviam afundado em Março, nomeadamente em termos de procura
imobiliária e mais negócios a serem realizados.
“A grande questão
que apenas os próximos meses permitirão responder é a de se saber até que ponto
a recuperação que aparentemente hoje se vive no mercado imobiliário não resulta
apenas de um efeito de ‘válvula de descompressão’ após mais de dois meses de confinamento,
sem sustentabilidade ao longo dos próximos meses”, afirmou.
tp.ocilbup@otnip.asiul
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