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Presidência
Prefácio de Cavaco "muito autojustificativo" em tempos impopulares
Por Ana Dias Cordeiro in Público
Politólogos leram no prefácio a confirmação da sua incapacidade e das razões para a popularidade em baixa
Com a divulgação do prefácio ao novo livro Roteiros VII, no dia em completa dois anos do segundo mandato, o Presidente da República, Cavaco Silva, expõe o limite da sua actuação - através do memorando de entendimento com a troika -, responde aos que não compreendem os seus silêncios e salienta a importância e a razão de ser da sua acção na sombra; não se demarca do todo, mas também não subscreve cada política do Governo.
Se o texto pretendia contrariar tendências - da popularidade do Presidente em baixa e da contestação social em alta -, esse desígnio falhou, consideram os analistas ouvidos pelo PÚBLICO, havendo quem, como o escritor e cronista Pedro Mexia, classifique o prefácio de "muito frustrante", sobretudo para quem esperava do Presidente "ser um actor e não um mero espectador" num momento de crise. "O prefácio é uma mistura de confissão da incapacidade de agir - porque há um memorando com a troïka - e de acção fantasmática", diz Pedro Mexia. "É um prefácio muito auto-justificativo, muito a pensar num lugar na História, mas muito frustrante para quem esperava alguma coisa." O que se poderia esperar era que o Presidente fosse "alguém para quem as pessoas olhassem neste mundo". "E isso não me parece", diz Pedro Mexia.
Já o politólogo e doutorado em Ciência Política Carlos Jalali lembra que nunca, desde que existem, os índices de popularidade do Presidente estiveram tão baixos. E aponta como razão a percepção popular de Cavaco Silva "não estar a agir o suficiente".
Para Carlos Jalali não há surpresas num texto em que o Presidente procura justificar a sua acção política, mais nos bastidores do que no palco mediático, em nome da estabilidade governativa e da coesão social. Mas, para o politólogo, não é certo que essa opção presidencial esteja a ter efeito. Se estiver, "ela não é muito visível". Porque na realidade "o consenso alargado e a coesão social estão a esbater-se" e não são claras as inflexões na acção do Governo que a acção presidencial possa ter gerado, nota Jalali. "Os sintomas que temos não sugerem o efeito da intervenção presidencial", conclui.
Os efeitos na popularidade do Presidente do prefácio agora conhecido serão praticamente nulos, considera o politólogo e professor de Política do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa António Costa Pinto. Esse recuperar da imagem junto da opinião pública "só poderia passar por uma atitude de demarcação mais radical relativamente ao Governo". E isso não se espera de um presidente que tem a estabilidade política "como o seu valor primeiro".
Por outro lado, a sua margem de manobra é limitada, considera Costa Pinto, porque está perante um executivo com maioria absoluta e "porque, embora demarcando-se daquilo que tem sido a prática governamental, pertence, no fundamental, à mesma área política" do Governo.
Foi o PSD quem saiu em defesa de Cavaco. O vice-presidente Jorge Moreira da Silva enalteceu o papel "suprapartidário desempenhado pelo Presidente da República" na "crescente credibilidade internacional" do país e na "mobilização dos portugueses" para "superar os problemas estruturais".
Já António José Seguro leu no texto um aviso a Passos Coelho. "Há uma clara mensagem dirigida ao Governo, a de que se houver instabilidade e uma crise política a responsabilidade não é do Presidente, isso quer dizer que será do Governo", disse o líder do PS. A bloquista Ana Drago acusou Cavaco de estar mais preocupado "em como vai ficar na História" do que com a situação do país. E o comunista Jorge Cordeiro classificou o texto como mais um "de um presidente comprometido com o rumo do desastre nacional que, perante o afundar do país e o arruinar da vida dos portugueses, lava as mãos como Pilatos".
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