Feira fechou há dez anos e local continua ao abandono
Os terrenos da Feira Popular são hoje palco de desolação. Litígio judicial impede solução. Empresa acusa a Câmara de Lisboa
O fecho da Feira Popular de Lisboa, em Entrecampos, faz agora dez anos, causou "um grande abalo" na zona, mas permitiu diminuir a poluição e recuperar alguns edifícios envolventes. A opinião foi transmitida à agência Lusa pela Junta de Freguesia de Nossa Senhora de Fátima, Idalina Flora, que não esconde os problemas causados pela actual indefinição quanto ao futuro do terreno.
A Feira Popular abriu para a sua última temporada a 28 de Março de 2003. Em Outubro desse ano fechou, para dar lugar a um empreendimento com cerca de 700 habitações, comércio e serviços, a construir pela empresa Bragaparques, empresa que passou a deter o terreno, na sequência de um controverso negócio com a Câmara de Lisboa. Dez anos depois, o local está ao abandono, com lixo e ervas a crescer e as poucas ruínas da antiga feira cobertas de graffiti. Uma chapa de metal cobre uma abertura no muro, mas é possível entrar por ali, como muitos têm feito.
O espaço é hoje destino de toxicodependentes e, mesmo em pleno dia, há casos de prostituição masculina, descreveu à Lusa a presidente da junta de freguesia local. A autarca social-democrata lamenta que a cidade tenha perdido "a diversão que ali existia". Mas Idalina Flora afirma que o fim da Feira Popular foi positivo para a zona. "Permitiu acabar com a poluição visual, sonora e dos fumos que ali havia. Só assim foi possível recuperar os prédios à volta e instalar-se ali um novo hotel de quatro estrelas", declarou. Admitiu que gostaria que o terreno voltasse "às origens, embora com menos poluição sonora e ambiental".
O futuro daquela dezena de hectares está, porém, longe de ser resolvido, uma vez que há ainda vários processos judiciais pendentes no âmbito do litígio que opõe a câmara à Bragaparques. De acordo com a advogada da empresa, Rita Matias, a sociedade tem tido "um prejuízo incalculável" devido à indefinição sobre a propriedade dos terrenos.
A Bragaparques, através da empresa P. Mayer SA, comprou em 2005 metade do lote de Entrecampos, por 57,1 milhões de euros, numa hasta pública. Com este negócio, a empresa ficou detentora de todo o terreno antes ocupado pela feira, depois de ter realizado uma permuta da outra parte com os seus terrenos do Parque Mayer, que assim passaram para a posse da Câmara de Lisboa.
A hasta pública foi mais tarde anulada em tribunal, mas a empresa ainda não recebeu o dinheiro, por parte da Câmara de Lisboa, anterior proprietária do terreno. Rita Matias diz que a empresa está "há dez anos a pagar juros" de um empréstimo de dezenas de milhões de euros. "É uma situação verdadeiramente dramática, porque a empresa tem ali um investimento muito grande e não consegue desenvolver nenhum negócio", acrescentou. A Lusa tentou obter um comentário da autarquia, mas sem sucesso.
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