Contra-Poder.Os políticos que se cuidem, eles regressaram
Por Luís de Freitas Branco, publicado em 4 Mar 2013 in (jornal) i online
Os bonecos do contra estão de volta. Estreiam-se amanhã na SIC Notícias e SIC Radical com novo nome e novas personagens. Mas o humor corrosivo continua
Em 1996, Portugal competia pela presença no Conselho de Segurança na ONU. Em formato de relato de futebol, o “Contra-Informação” fazia a transmissão do que se passou naquela cerimónia e inaugurava a primeira emissão na RTP, concluindo que “houve uma grande leitura de jogo pela parte dos jogadores portugueses”. Quase 18 anos depois, as produções Mandala responsáveis pelo “Contra” regressam à sua primeira casa, a SIC. “Não existe melhor programa para esta altura que estamos a viver” diz Mafalda Mendes de Almeida, directora da Mandala, acrescentando que “isto foi um enorme sentido de oportunidade”. “Contra Poder” tem estreia marcada para amanhã às 21h00 na SIC Notícias (repete depois na SIC Radical).
Inspirados pela série britânica “Spitting Image”, as produções Mandala adoptaram o formato de sátira política, com uma primeira tentativa falhada na SIC com “Jornalouco” e “Cara Chapada”. O regresso ao canal de Carnaxide mantém os cinco minutos de actualidade perversa. No entanto, tanto o formato como os bonecos foram reinventados. Paulo Bach, que fez as caricaturas no “Contra-Informação” e chegou a trabalhar no “Spitting Image”, regressa com 20 personagens novas. O caricaturista espera conseguir fazer uma personagem nova por semana, tendo já entre as suas criações, Cacos Coelho, Vítor Rapar, Maquiavel Relvas, Asseguro e Ai Jesus. “Nesta produção reunimos o melhor dos últimos 15 anos, sabemos do impacto que o programa pode ter neste momento e foi uma alegria reunir toda a gente”, indica a directora. Nas vozes estão João Canto e Castro, Mila Belo, Bruno Ferreira e Rui Pimpão, enquanto os argumentistas são Roberto Pereira, Frederico Pombares e Henrique Dias, a mesma equipa de “Hotel Cinco Estrelas” na RTP (outra série da Mandala).
O sucesso do novo vídeo com o boneco de Miguel Relvas, a cantar “Grândola Vila Morena” (ver caixa), foi a confirmação que estava na hora certa de voltar. “As pessoas têm um enorme carinho por este trabalho, ao longo destes últimos dois anos estavam sistematicamente a perguntar-me quando é que voltávamos”, confessa Mafalda Mendes de Almeida. O cancelamento da série da RTP em 2010 surgiu com grande surpresa, justificado pelo canal como forma de cortar despesas. “Não foi por acaso que, quando nos cancelaram, surgiram imediatamente seis páginas de Facebook a protestar”, lembra.
Ao contrário do “Contra-Informação”, a nova série não vai passar no canal generalista, mas na SIC Radical e SIC Notícias. Para Pedro Boucherie Mendes, director de Conteúdos da SIC Radical, o sucesso vai ser garantido. “Os portugueses adoram que se faça pouco dos seus políticos e figuras mais ou menos públicas, é um tipo de humor consensual”, diz ao i. Por sua vez, António José Teixeira, director da SIC Notícias, defende que “o humor faz-nos falta, ainda mais em tempos tão difíceis como os que agora vivemos”. O director do canal noticioso assume-se mesmo um fã rendido à série que passou na RTP, recordando como “se criou um formato que mexeu com a sociedade portuguesa”. Os dois canais vão alternar horários, sendo que no fim-de--semana será o tradicional compacto de 25 minutos. Ainda sem se querer comprometer com a longevidade da série, Pedro Boucherie Mendes garante programação certa até ao Verão.
O sucesso do vídeo de Miguel Relvas pode ser um bom presságio para mais alguns anos no activo, contrariando a tendência em países como o Reino Unido de acabar com as sátiras de fantoches. “Antes de qualquer coisa, este trabalho é uma grande paixão e diversão”, confessa a directora da Mandala, ainda reticente sobre a longevidade da nova série. Com o mesmo espírito independente, Portugal vai mais uma vez ser assaltado pela actualidade em escárnio. “Não nos podemos esquecer que cada um destes bonecos tem muito mais força do que parece”, conclui.
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