LISBOA
Estação Sul e Sueste reabre como “o grande ponto de
comunicação entre margens”
Edifício modernista que é Monumento de Interesse Público
desde 2012 foi reabilitado para acolher operadores marítimo-turísticos, mas a
arquitecta responsável pela reabilitação garante que o projecto “é para todos”.
Doca da Marinha também abre ao público.
João Pedro Pincha
(Texto) e Nuno Ferreira Santos (Fotografia)
30 de Abril de
2021, 19:51
As grandes
clarabóias despejam a luz no espaço amplo e salta à vista a brancura do chão,
das paredes, das imponentes colunas de mármore. Nem tudo é branco, bem
entendido, mas a Estação Sul e Sueste conserva a aura de obra acabada onde
ainda não entrou gente. Vontade não falta aos lisboetas, a julgar pelo número
de cabeças que se colam às portas a espreitar para dentro.
Prestes a
completar 90 anos de existência, a estação fluvial reabre este sábado para uma
segunda vida depois de um longo período de abandono e degradação. Será “o
grande ponto de comunicação entre margens” num momento em que vinga “a ideia de
que o rio voltou a ser nosso”, acredita Ana Costa, a arquitecta responsável
pela reabilitação.
Na estação de
onde outrora se embarcava para o Barreiro vai agora ser possível apanhar um dos
barcos que fazem passeios turísticos no Tejo e, em breve, também táxis-barco. A
instalação de novos pontões, aliada à reabilitação e abertura ao público da
Doca da Marinha, também este sábado, permitirá criar junto à Praça do Comércio
aquilo a que a Associação de Turismo de Lisboa (ATL) chamou “o novo cais de
Lisboa”.
Inaugurada em 28
de Maio de 1932, no sexto aniversário do golpe que pôs fim à Primeira
República, a Sul e Sueste “assumiu-se como um edifício único, completamente
moderno, uma coisa completamente nova”, explica Ana Costa, neta do arquitecto
que desenhou a estação, Cottinelli Telmo. O melhor elogio que lhe podem fazer é
que a reabilitação está fiel ao original. “Tudo foi desenhado com a cautela de
os novos elementos não criarem dissonância com a arquitectura de Cottinelli
Telmo.”
No grande salão
alinham-se de um lado e doutro as bilheteiras dos operadores
marítimo-turísticos, encimadas pelos brasões em azulejo de cidades e vilas
alentejanas e algarvias. Ao centro apenas alguns sofás e, na fachada virada ao
Tejo, o grande relógio pontualíssimo. Dali chega-se aos barcos e ao rio, junto
ao qual estão umas cadeiras em metal. “Não foi só desenhar este edifício, foi
desenhar todo aquele espaço”, refere Ana Costa, sublinhando: “Isto não é só
para os turistas, é para todos nós. É para os lisboetas.”
Gerida pela ATL
por incumbência da Câmara de Lisboa, a reabilitação da Sul e Sueste foi
anunciada em 2016 mas só em 2019 começou. Das três pessoas que em 2016
assinaram o protocolo de cedência entre o Estado e a autarquia, apenas Fernando
Medina se mantém no mesmo cargo. Pedro Marques, que era ministro das
Infra-Estruturas, é agora eurodeputado; Mário Centeno, que era ministro das
Finanças, é o actual governador do Banco de Portugal.
Quem neste sábado
regressa à Sul e Sueste é António Costa, que em 2014, quando era presidente da
câmara, disse que o estado de degradação da antiga estação fluvial era “uma
nódoa negra” e “uma vergonha para a cidade”.
Foi preciso
esperar sensivelmente 20 anos para ter a Sul e Sueste reabilitada, mas demoras
é coisa habitual na história desta infra-estrutura: até à sua inauguração em
1932 passaram-se cerca de 70 anos em que o embarque para a Outra Banda se fazia
num barracão.
Adjacente à
estação fluvial, para o lado do Cais das Colunas, chegou a estar prevista uma
pála, mas essa opção foi abandonada e agora estão lá chapéus de sol.
Recuperou-se o gradeamento original, alinhado com o torreão nascente da Praça
do Comércio, e funcionará ali a esplanada de uma cafetaria. Do lado contrário,
colado à interface dos barcos e do metro, foi instalado o chamado Centro Tejo,
que é simultaneamente uma loja e uma mostra expositiva. Há uma maquete da
Grande Lisboa, hologramas de pessoas ligadas ao rio e faróis que explicam
pontos de interesse em ambas as margens.
O projecto
interior é de Ana Costa e o exterior é de Bruno Soares, autor da reabilitação
da Praça do Comércio. A Doca da Marinha, que também fica agora acessível, é da
autoria do arquitecto Carrilho da Graça, que também desenhou o Terminal de
Cruzeiros, o Campo das Cebolas.
Ali ainda estará
em obras até ao fim do ano um restaurante, mas três quiosques concessionados ao
BananaCafé e uma enorme esplanada vão já estar disponíveis. A doca, que sempre
foi usada pela Armada, será casa das embarcações tradicionais do Tejo e do
navio Creoula. No total, as obras custaram 30 milhões de euros e foram
financiadas pela taxa turística e por dinheiro angariado pela ATL.
Sem comentários:
Enviar um comentário