PORTUGAL
Dirigente do Chega chama mentiroso a Ventura e ataca-o
por “lei da rolha”
11:35 por
Margarida Davim
Manuel Pinho
demitiu-se de vice-presidente da comissão política da distrital do Porto, numa
carta aberta, na qual acusa líder do partido de boicotar possíveis adversários
em disputa pela liderança e de restringir a liberdade de expressão no Chega.
Manuel Pinho sai
do Chega com estrondo. Numa carta aberta partilhada nas redes sociais, o
dirigente demite-se da vice-presidência da comissão política distrital do Porto
e faz várias acusações a André Ventura. De fraude eleitoral, a restrições à
liberdade de expressão, Pinho aponta falta de democracia ao funcionamento do
partido e ataca o líder por ter mudado as regras de forma a não ter ninguém a disputar-lhe
a liderança.
André Ventura e
Ana Paula Vitorino trocam comentários sobre passar a ferroAndré Ventura e Ana
Paula Vitorino trocam comentários sobre passar a ferroO agora ex-dirigente do
Chega começa por revelar ter entregado passada sexta-feira uma queixa ao
conselho de jurisdição do partido por "fraude eleitoral" nas eleições
para a distrital do Chega no Porto. No entanto, explica, este é só "o
culminar de vários factos muito graves que ocorreram" durante o período em
que foi dirigente do Chega "e durante a campanha eleitoral da distrital do
Porto".
Manuel Pinho diz
ter sido alvo de "múltiplos ataques e ameaças", que terá reportado à
direção, que acusa de nada ter feito para travar ou punir aqueles "que
desrespeitaram reiteradamente os estatutos do partido e as regras do estado
democrático".
"Grande
desilusão! Ouvi promessas e garantias de igualdade em relação às candidaturas e
palavras de intolerância relativamente a determinadas atitudes que não se
concretizaram. Porquê? O senhor saberá", escreve Manuel Pinho a André
Ventura, que põe em causa a palavra dada pelo líder do Chega. "Contei com
a sua palavra. Mas, como bem diz o povo, palavras leva-as o vento, fui
percebendo, com o passar do tempo, que Paredes pouco interessava quando outros
valores se levantam", ataca.
Mas se as
eleições para a distrital do Porto terão sido a gota de água para este
militante, Manuel Pinho aponta outros facto que considera
"relevantes" para a sua
demissão.
Dirigente
demissionário diz que demissão de Ventura foi encenação
"Em abril, o
senhor apresentou a sua demissão, mas, na realidade, até ao momento, não saiu
da presidência do partido Chega. Também a sua direção nacional não está em modo
de gestão e continua a desempenhar as funções como se nada tivesse
acontecido", recorda Manuel Pinho, que tira daí uma conclusão: Ventura
"está a mentir".
"Quando diz
que está disponível para disputar a liderança do partido com quem estiver
contra si, está a mentir. Se estivesse nessa disposição, não alterava as regras
do "jogo" para benefício próprio", argumenta Pinho, que acusa
Ventura de boicotar possíveis adversários.
"Após o
anúncio da sua demissão, no início de junho, em Amares, no conselho nacional, a
direção nacional apresentou uma proposta que restringe a possibilidade de
alguém se candidatar contra si, uma vez que, para isso acontecer, esse
militante terá de contar com o apoio de três distritais e de uma comissão
política regional, dos Açores ou da Madeira", frisa, lembrando que esta
alteração foi "apresentada no momento aos conselheiros, sem reflexão
prévia".
A conclusão do
dirigente demissionário é a de que, "como a direção nacional controla as
eleições em todas as distritais e regionais, será praticamente impossível
qualquer militante candidatar-se à liderança do partido Chega".
A "lei da
rolha" e o "sistema autocrático" no Chega
Mas há mais:
Manuel Pinho afirma haver uma "lei da rolha" no partido,
"concretizada em ameaças de expulsão a militantes".
"Na verdade,
a liberdade de expressão é um dos valores que eu mais prezo. Se um partido não
sabe ouvir os seus militantes, não é um partido democrático. Não aceito a
proibição de tecer comentários na página oficial do Chega que me foi imposta,
após ter feito um comentário que não põe em causa os estatutos do
partido", escreve Manuel Pinho que diz que ao mesmo tempo que era impedido
de escrever nas redes sociais do partido "multiplicaram-se os comentários
ofensivos" contra si "perante a inércia do partido".
"Esta
conivência acelerou, sem dúvida, a minha tomada de decisão relativamente à
saída. O partido passa uma mensagem para fora, mas pratica o inverso no seu
seio", critica,
"Assim,
instalou-se um sistema autocrático no próprio partido", sustenta Manuel
Pinho, que se confessa "triste".
"Acreditei
que fosse um partido diferente, que contava com todos, mas enganei-me",
declara, afirmando que "muito mais teria a dizer" sobre o que se
passa no Chega. "Mas fica o essencial para perceber o descontentamento de
alguém que acreditou em si", remata, dirigindo-se a Ventura.
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