Algarve não sai da época baixa: desemprego cresceu mais
de 200%
A região depara-se com um verão "que não será
comparável" ao do ano passado e entra novamente numa estação baixa, diz o
líder da Associação de Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve. Aumento
do desemprego preocupa IEFP.
Miguel Baltazar
Lusa
05 de julho de
2020 às 09:52
O desemprego no
Algarve aumentou mais de 200% em maio para quase 28 mil desempregados,
atingindo sobretudo o setor da hotelaria, que desespera pela chegada de
turistas para atenuar o "golpe" de quase três meses de prejuízos.
O calor que
abraça o Algarve lembra que julho chegou, ao contrário dos turistas, que por
esta altura já deviam estar a encher os hotéis, praias e restaurantes da
região, mas que teimam em não aparecer na quantidade habitual para a época do
ano.
Como o início da
pandemia de covid-19 coincidiu com o arranque das contratações para a época
turística, milhares de pessoas nem sequer chegaram a ser contratadas, enquanto
outras foram dispensadas ainda durante o período experimental.
Num verão normal,
o Tivoli Hotels & Resorts teria cerca de 1.000 pessoas a trabalhar nas seis
unidades do Algarve -- fora aquelas que são contratadas à hora, ao dia, ou à
semana -- mas, neste momento, tem apenas cerca de metade, diz à Lusa o diretor
regional de operações do grupo, Jorge Beldade.
"Nós, em
março, quando foi o início desta pandemia, estávamos em fase de início de
contratação para a época de cerca de 350 pessoas. Acabámos por contratar só 89
e, obviamente, todas as outras deixaram de ser contratadas e a seguir os hotéis
fecharam e passámos todas as pessoas a 'lay-off'", conta.
No Algarve, 85%
dos hotéis reabriram em junho ou reabrem agora, no início de julho, um número,
ainda assim, animador -- tendo em conta as previsões do setor no início da
pandemia, que não apontavam para que tantas unidades reabrissem ainda este ano.
Depois da época
baixa, quando se preparava para entrar na época turística, a região depara-se com
um verão "que não será comparável" ao do ano passado e entra
novamente numa estação baixa, o que, na prática, será equivalente "a três
estações baixas seguidas", resume o líder da Associação de Hotéis e
Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA).
"O efeito
nas receitas das empresas e o impacto no emprego é indiscutível e será uma
realidade incontornável", disse à Lusa Elidérico Viegas, estimando que a
partir do mês de setembro os números se "agravem novamente".
Região foi a que
registou maior aumento de desempregados
Segundo dados do
Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP), em maio de 2020 o Algarve
foi a região que registou o maior aumento de desempregados inscritos no país,
com um crescimento de 202,4%, face ao mesmo mês do ano passado.
"É um
situação complicada, com um número de desemprego bastante elevado, que nos
preocupa. Em fevereiro ninguém acreditaria que isto iria acontecer, porque
estávamos com um dinamismo da economia cada vez maior, com o emprego a aumentar
e o desemprego a diminuir", desabafa a delegada regional daquele
instituto.
De acordo com
Madalena Feu, o aumento do desemprego, contrariando a tendência dos últimos
anos, tem vindo em crescendo, face aos mesmos meses de 2019: em março havia na
região 21.636 desempregados inscritos (mais 41%), em abril mais 26.379 (mais
120%) e em maio 27.675 (mais 202%).
A delegada
regional do IEFP nota que há "novos" desempregados: 28% são
estrangeiros -- na sua maioria brasileiros, indianos e nepaleses, que
trabalhavam na agricultura e na hotelaria --, e outros, ainda, são pessoas que
vieram de fora da região.
No concelho de
Albufeira, que concentra boa parte dos hotéis da região e cujos negócios giram
quase todos à volta do turismo, a situação é preocupante, segundo nota à Lusa o
presidente da Câmara, José Carlos Rolo.
"A
recuperação não vai ser tão rápida e tão linear quanto isso. Não nos podemos
esquecer que a seguir temos o inverno e que no inverno, naturalmente, as
pessoas não acorrem a lugares turísticos de sol e praia", sublinha.
Segundo o
autarca, além dos "muitos hotéis fechados", estão também encerrados
muitos estabelecimentos comerciais. Alguns até abriram, mas depois acabaram por
encerrar, por falta de clientes, atirando as pessoas para o desemprego ou para
'lay-off'.
Muitas das
pessoas que de um momento para o outro se viram no desemprego começaram a pedir
ajuda, sobretudo alimentar, a instituições da área social, que veem agora os
pedidos disparar, como é o caso do Movimento de Apoio à Problemática da Sida
(MAPS).
O presidente da
instituição, Fábio Simão, diz à Lusa acreditar que em setembro ou em outubro se
comecem a sentir "os efeitos mais sérios da crise" e a surgir muitos
mais pedidos de apoio, pois quem perdeu o emprego não tem como "dar a
volta" à situação.
"A economia
começou a dar alguns passos, mas com vergonha, porque as pessoas estão a
acautelar-se e provavelmente os postos de trabalho não vão ser todos
readmitidos", conclui.
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