quinta-feira, 27 de maio de 2021

Extinção do SEF não pode servir para “salvar a cabeça” de Eduardo Cabrita, diz sindicato // Governo avança com requisição civil face ao pré-aviso de greve no SEF //Coligação negativa aprova resolução para ser o Parlamento a legislar sobre reforma do SEF

 


SERVIÇO DE ESTRANGEIROS E FRONTEIRAS

Extinção do SEF não pode servir para “salvar a cabeça” de Eduardo Cabrita, diz sindicato

 

Em conferência “A importância do SEF no Sistema de Segurança Interna”, ex-ministro Rui Pereira considerou que se diploma não for aprovado por Parlamento é inconstitucional. Júlio Pereira, ex-director nacional do SEF, criticou Governo.

 

Lusa

27 de Maio de 2021, 14:25

https://www.publico.pt/2021/05/27/sociedade/noticia/extincao-sef-nao-servir-salvar-cabeca-eduardo-cabrita-sindicato-1964304

 

O presidente do Sindicato da Carreira de Investigação e Fiscalização do SEF disse esta quinta-feira que a “extinção” daquele organismo não deve ser utilizada para “salvar a cabeça” do ministro da Administração Interna, após a morte do ucraniano Ihor Homenyuk a 12 de Março de 2020 no centro de instalação temporária do aeroporto de Lisboa.

 

Acácio Pereira falava na sessão de abertura da conferência “A importância do SEF no Sistema de Segurança Interna”, realizada em Lisboa, e que conta com a participação de deputados e ex-governantes que defendem a actual relevância do Serviço de Estrangeiros de Fronteiras (SEF) como órgão de polícia criminal na luta contra o tráfico de seres humanos e outras formas de criminalidade grave, bem como na fiscalização das fronteiras e acompanhamento do fenómeno da imigração.

 

Nas palavras de Acácio Pereira, ao pretender-se “extinguir o SEF”, através de uma restruturação isso conduz à “perda de especialização, de conhecimento e de capacidade” de um serviço fundamental na prevenção do terrorismo, do tráfico de seres humanos e da imigração ilegal. Segundo o dirigente sindical, antes da pandemia e da morte de Ihor Homenyuk “seria impensável que o SEF estivesse à beira da extinção”.

 

Perante a gravidade do “caso Ihor Homenyuk”, Acácio Pereira entende que o ministro da Administração Interna devia ter reforçado o SEF de meios de que não dispõe, após décadas de “desinvestimento”, em vez de pretender realizar, à margem do Parlamento, uma restruturação e reforma da instituição, que, na prática, significa a sua extinção, ao retirar as funções policiais aos inspectores do SEF.

 

“Acabar com o SEF não resolve problema nenhum e cria um mar de outros problemas”, disse Acácio Pereira, notando que sem o SEF o sistema de segurança “fica coxo”, pois o SEF é uma “peça cheia de experiência e conhecimento” nessa matéria, que é de protecção do país e da União Europeia (UE).

 

“Sem o SEF, a segurança de Portugal e da UE ficariam enfraquecidas face ao tráfico de seres humanos e no auxílio prestado aos imigrantes”, insistiu o dirigente sindical, elogiando a presença e a solidariedade nesta conferência de pessoas e ex-governantes que pertencem ao partido no Governo (PS).

 

“Hoje, não é fácil dar o corpo às balas pelo SEF, quando se pertence ao mesmo partido do ministro”, concluiu.

 

A resolução do Conselho de Ministros, que define as orientações políticas para a criação do Serviço de Estrangeiros e Asilo, que vai suceder ao SEF, estabelece “as traves-mestras de uma separação orgânica muito clara entre as funções policiais e as funções administrativas de autorização e documentação de imigrantes”.

 

A resolução determina quais as atribuições de natureza policial do SEF que vão transitar para a Guarda Nacional Republicana, Polícia de Segurança Pública e Polícia Judiciária, bem como as competências que vão passar para o Instituto dos Registos e Notariado, ficando o Serviço de Estrangeiros e Asilo com “atribuições de natureza técnico-administrativa”.

 

Antes, interveio na abertura da conferência o antigo ministro da Administração Interna Rui Pereira de governos chefiados por José Sócrates que destacou “as funções relevantíssimas” do SEF no serviço de segurança e investigação relacionadas com a imigração e o tráfico de seres humanos.

 

Para o antigo ministro, se não for aprovado pela Assembleia da República configura uma “inconstitucionalidade orgânica e formal”. Segundo Rui Pereira, é matéria de “reserva absoluta da Assembleia da República”, tanto mais que a intenção do diploma governamental é o de retirar competências a esta força de segurança e transferi-las para a PSP e GNR. Apesar de aprovado em Conselho de Ministros, “não é fonte de direito”, tratando-se “apenas de uma intenção”, sublinhando que o “primado legislativo” pertence à Assembleia da República, que é o local onde se realiza o “diálogo democrático por excelência”.

 

Ex-director critica demolição

Pretender não levar o diploma do Governo sobre a reforma do SEF ao parlamento seria, na opinião de Rui Pereira, tornar esse “diálogo [democrático] empobrecedor” e adoptar uma “dinâmica centralizada”.

 

A conferência prosseguiu com intervenções de Dalila Araújo (PS), ex-secretária de Estado de Administração Interna, Nuno Magalhães (CDS), André Coelho Lima (PSD) e António Filipe (PCP), tendo este último considerado que este é o “pior momento” para se fazer uma restruturação do SEF “em cima” de um “acontecimento trágico” que aconteceu no aeroporto de Lisboa (caso Ihor Homenyuk) e que está a ser tratada pela justiça portuguesa.

 

Também Júlio Pereira, ex-director nacional do SEF, criticou a intenção do Governo de “demolir” este serviço, considerando que isso seria “abolir uma parede mestra da segurança interna” e “esquartejar” uma força de segurança, o que, na prática, seria “fazer um recuo de quase 50 anos”, levando à adoção de um esquema idêntico ao que vigorava antes do 25 de abril de 1974.

 

Júlio Pereira questionou também o momento escolhido para o executivo avançar na reforma do SEF, pois, disse, quando a pandemia passar Portugal vai sofrer “uma pressão enorme em termos de migratórios”, que levanta também sérios problemas em matéria de segurança interna, nomeadamente nas fronteiras.

 

“Não estamos em tempos de experimentalismos”, reiterou Júlio Pereira, num painel em que interveio ainda Gil Areas, ex-diretor executivo da FRONTEX, que realçou a importância do SEF e da sua eficácia operativa na fiscalização das fronteiras e no combate ao terrorismo e outras formas de criminalidade.

 

Nesta iniciativa, o sindicato dos inspectores do SEF decidiu convidar personalidades dos quatro partidos fundadores da democracia com responsabilidades na área da Administração Interna para explicarem “ao país político, à Academia e à opinião pública o quão errado seria desmantelar a única força de segurança e polícia criminal criada de raiz depois do 25 de Abril.


Governo avança com requisição civil face ao pré-aviso de greve no SEF

 

João Barros 27 Maio 2021, 15:07

https://jornaleconomico.sapo.pt/noticias/governo-avanca-com-requisicao-civil-face-ao-pre-aviso-de-greve-no-sef-744217

 

O Governo seguiu os pedidos da Comunidade Intermunicipal do Algarve e da Região de Turismo do Algarve, ambas preocupadas com o impacto desta ação dos trabalhadores do SEF no sector turístico.

 

O Governo optou por pedir uma requisição civil perante a greve anunciada por um dos sindicatos do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, anunciou esta quinta-feira o ministro da Administração Interna, no parlamento, durante a reunião plenária desta quinta-feira.

 

O Executivo segue assim o pedido da Comunidade Intermunicipal do Algarve e a Região de Turismo do Algarve, que haviam pedido uma ação do género, dado o impacto que teria a greve programada no sector turístico da região. Importa salientar a importância desta indústria na região, especialmente após um ano de pandemia que viu quebras assinaláveis e extremamente gravosas para a dinâmica económica algarvia.

 

Para Eduardo Cabrita, a greve convocada pelo Sindicato dos Inspetores de Investigação, Fiscalização e Fronteiras (SIIFF) entre 1 e 15 de junho “é algo que atenta quanto à expectativa de recuperação da economia nacional e seria uma gravíssima situação que atentaria à nossa responsabilidade de fiscalizar as fronteiras externas da UE”, especialmente numa altura em que Portugal detém a presidência do Conselho Europeu.

 

Assim, o Conselho de Ministros decidiu esta quinta-feira pedir a requisição civil destes trabalhadores. Igual medida tomará o Governo da Região Autónoma da Madeira, acrescentou Eduardo Cabrita.

 

Recorde-se que o SIIFF havia emitido um pré-aviso de greve para o período das 9h00 às 12h00 da manhã, entre os dias 1 e 15 de Junho.


PARLAMENTO

Coligação negativa aprova resolução para ser o Parlamento a legislar sobre reforma do SEF

 

Governo defende que pode concretizar reestruturação através de decreto-lei.

 

Sofia Rodrigues

27 de Maio de 2021, 18:31

https://www.publico.pt/2021/05/27/politica/noticia/coligacao-negativa-aprova-resolucao-legislar-reforma-sef-parlamento-1964351

 

Eduardo Cabrita insistiu na tese de que o SEF não é uma força de segurança mas sim um serviço de segurança

 

Da esquerda à direita, as bancadas parlamentares uniram-se para tentarem contrariar a intenção do Governo de concretizar a reforma do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) por decreto-lei sem passar pela Assembleia da República. Só o PS e a deputada Joacine Katar Moreira votaram contra a resolução do CDS que pedia isso mesmo. PSD, CDS, IL, BE, PCP, PAN e PEV votaram a favor e não houve abstenções.

 

O projecto de resolução do CDS (que é uma recomendação, não tem força de lei) propõe que o Governo submeta à Assembleia da República uma proposta de lei sobre a anunciada reestruturação do SEF. Foi esse o ponto que o líder da bancada parlamentar do CDS, Telmo Correia, quis colocar no centro da discussão, admitindo que seria o único a gerar consenso. De resto, as bancadas à esquerda e à direita divergem sobre a reforma, as funções do SEF e, claro, as políticas de imigração.

 

A iniciativa do CDS baseava-se na ideia de que a Assembleia da República tem a reserva absoluta de competência para legislar sobre forças de segurança, à luz da Constituição. O partido viu essa tese reforçada por um parecer do constitucionalista Jorge Miranda, divulgado ontem pelo Diário de Notícias.

 

O ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, que compareceu no debate parlamentar desta tarde, traça uma linha entre o que são forças de segurança e o SEF. “Eu diria que, não conhecendo o parecer, estou aparentemente de acordo com o parecer: o regime das forças de segurança é matéria de reserva absoluta da competência da Assembleia da República. Há alguns problemas – o SEF não é uma força de segurança, é um serviço da segurança”, sustentou, referindo que o pessoal do SEF não está sujeito a “códigos específicos” como a PSP e a GNR no que toca ao direito à greve por exemplo.

 

Telmo Correia admitiu vir a pedir uma apreciação parlamentar ao diploma que o Governo vier a aprovar (o que deve acontecer até ao final de Junho), um instrumento que a bancada do PCP também já tinha referido como possível, para que a extinção do SEF e a sua substituição por Serviço de Estrangeiros e Asilo seja debatida na Assembleia da República.


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