quarta-feira, 8 de julho de 2020

Maioria esmagadora chumba Centeno para Banco de Portugal



PORTUGAL
Maioria esmagadora chumba Centeno para Banco de Portugal
11:33 por Margarida Davim

O parecer do Parlamento não é vinculativo, mas na audição para o lugar de governador de Portugal Mário Centeno teve de ouvir todas as críticas de PSD, BE, PCP, CDS, PAN, Chega e IL.

PSD, BE, PCP, CDS, PAN, Chega e IL todos contra Mário Centeno como governador do Banco de Portugal. A audição no Parlamento é obrigatória para formalizar a nomeação, mas não vinculativa. Caso contrário, Centeno tinha chumbo garantido.

Carlos Costa termina formalmente mandato no BdP mas mantém-se até chegar novo governadorCarlos Costa termina formalmente mandato no BdP mas mantém-se até chegar novo governador"Entendemos que não preenche as condições para exercer com independência e credibilidade as funções de governador", atacou Duarte Pacheco logo no início da audição, numa intervenção particularmente dura.

Mariana Mortágua apontou as "razões políticas" do Bloco de Esquerda, recordando as decisões de Centeno enquanto ministro como as verdadeiras razões para o partido estar contra a nomeação para um cargo que a deputada descreveu como "um trono dourado numa torre de marfim".

"O verdadeiro conflito de interesses está entre público e privado e não entre cargos públicos", sublinhou Mortágua, afastando-se das críticas feitas pela direita.

Para o PCP, seria importante ter alguém no Banco de Portugal capaz de afirmar a soberania nacional na defesa do setor bancário, e não alguém "meramente às ordens de Frankfurt", mas para os comunistas Mário Centeno não é a pessoa certa para o lugar.

"Não nos parece que a sua nomeação assegure esse papel que achamos que o BdP deve ter", afirmou o deputado do PCP, frisando a importância de o Banco de Portugal ajudar a travar o "caminho de concentração e de entrega da banca nacional ao capital estrangeiro" ou agir de forma a evitar novas injeções de capital na banca para os problemas que se podem vir a sentir no cumprimento dos rácios de capital em caso de incumprimento nos créditos que agora gozam de moratórias por causa da pandemia de covid-19.

Para o CDS, Mário Centeno também não tem condições para estar no Banco de Portugal, vindo directamente do Ministério das Finanças.

Cecília Meireles tentou, aliás, que Centeno esclarecesse melhor a saída do Ministério das Finanças depois de ter ouvido o candidato ao lugar de Carlos Costa falar no desgaste da função ministerial para justificar a demissão. "Não acho que o BdP seja o sítio ideal para se ir relaxar ou descansar", ironizou a deputada centrista, que também estranhou que esse cansaço se tenha feito sentir menos de um ano após as eleições nas quais renovou o mandato como governante.

"Quando é que este convite lhe foi feito e quando é que sentiu esse desgaste?, perguntou Cecília Meireles, que quis saber se esta nomeação "foi combinada antes das eleições ou após as eleições" e lembrou que há dois lugares para preencher na administração do BdP – com a saída de Elisa Ferreira e Hélder Rosalino – que estavam vagos já antes das legislativas.

"Gostava de perceber se eles aguardam pelo novo governador, caso em que este convite tem alguns meses", questionou Meireles.

A deputada do CDS tinha, porém, começado a sua intervenção notando que se o processo legislativo da proposta do PAN para regular as incompatibilidades para a nomeação do governador do Banco de Portugal tivesse seguido o seu curso normal, a audição de Centeno não teria decorrido esta quarta-feira, porque o ex-governante não poderia ser nomeado.

"Estaria neste momento numa situação de incompatibilidade", notou Cecília Meireles, que lamentou a forma como "o PSD e o BE mudaram radicalmente de ideias".

A referência provocou apartes de Mariana Mortágua, que recusou a ideia de mudança de opinião do BE. "Pode estar envergonhada do que fez, mas fez", respondeu Meireles.

André Silva lembrou, de resto, a posição do PAN relativamente à incompatibilidade de passar do Ministério das Finanças para o Banco de Portugal e questionou se o ex-ministro vai pedir escusa sempre que tiver de participar em reuniões onde sejam debatidos dossiês nos quais estive envolvido como ministro.

Questões que fizeram Mário Centeno voltar a lembrar que essas incompatibilidades não estão previstas na legislação de nenhum outro país. E que as alegadas incompatibilidades a que aludiu o deputado do PAN "não estão consubstanciadas em questões concretas", mas também que muitas das decisões referidas, como no Novo Banco ou no Banif, foram também decisões do Banco de Portugal.

André Ventura também alinhou nas críticas à falta de independência de Mário Centeno para assumir o cargo. "O Chega é contra a nomeação e indicação de Mário Centeno não pela questão técnica que aqui não se coloca, mas pelas incompatibilidades", afirmou o deputado.

João Cotrim Figueiredo, da Iniciativa Liberal (IL), também notou a forma como, apesar de o PS estar isolado na defesa de Centeno, o ex-ministro vai mesmo ser nomeado.

"Das oito forças políticas, nenhuma está de acordo e a nomeação vai acontecer na mesma", apontou Cotrim Figueiredo, que considera que "o PS acha-se dono disto tudo".

Um reparo que mereceu uma reação ácida de Mário Centeno – a primeira na audição desta quarta-feira – que lembrou que "em todas as democracias liberais seguem-se as regras", frisando que a lei que está em vigor permite a sua indigitação, uma vez que a proposta do PAN ainda não foi aprovada no Parlamento e a proposta do CDS de adiar a audição até esse processo legislativo estar concluído foi chumbada.   

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