segunda-feira, 20 de julho de 2020

Greta Thunberg vence Prémio Gulbenkian para a Humanidade / GRETA, por António Sérgio Rosa de Carvalho



CLIMATE CHANGE

Greta Thunberg wins Gulbenkian Prize for Humanity

A prize worth one million euros distinguishes, in this first edition, people and organizations from all over the world who have contributed in an innovative way to climate change mitigation.

PUBLIC July 20, 2020, 11:08 am updated at 11:40 am

Young Swedish activist Greta Thunberg has won the €1 million Gulbenkian Prize for Humanity, which aims to distinguish innovative projects dedicated to climate change. It is the first edition of a distinction that wants to reward "new ideas that contribute to improving the future of the planet". This year, in its first edition, the prize is dedicated to climate change. 136 applications were received. Greta Thunberg is expected to travel to Lisbon for the official award ceremony which, unlike others given to her before, has agreed to receive.

In a recorded video, the young Swede thanked the prize and announced that the million euros will be donated, through the foundation with her name, to different organizations and projects that are currently trying to respond to the climate and ecological crisis. These are actions, he said, that "fight for a sustainable world and to protect the natural world." According to a gulbenkian statement, the Thunberg Foundation "will begin by donating the first 200,000 euros to sos Amazonia campaign, Fridays for Future Brazil, which fights covid-19 in the Amazon, and the Stop Ecocide Foundation to make ecocide an international crime."

The young Swede was known to have started a global movement to combat climate change. In 2018, Greta – who is now 16 – skipped classes to camp in front of the Swedish Parliament, holding a sign reading "Skolstrejk för klimatet" ("School strike for the weather"). Today, the Fridays for Future movement, born out of this solitary struggle, brings together millions of young people around the world on climate strikes.

Greta Thunberg was chosen on December 11, 2019, as Personality of the Year by Time magazine, who put on the cover a photograph of the young woman, taken on the Portuguese coast, under the title "The power of youth". In early December, the activist was passing through Portugal, after crossing the Atlantic aboard a boat. She arrived in Lisbon — where, incidentally, she was photographed for the cover of the December Edition of Time — before heading to Madrid where the Climate Summit was taking place. Forbes magazine included the young Swede on the list of the 100 most powerful women of 2019.

"The Gulbenkian Prize for Humanity distinguishes innovative pathways with high potential to aid processes for mitigating and/or adapting to climate change, one of the greatest threats of the century, with devastating consequences for the well-being of current and future generations, the economy and natural ecosystems," reads the announcement of the distinction awarded for the first time. The selection of the nominees was made by an external jury divided into a grand jury chaired by former President of the Republic Jorge Sampaio, and by a committee of experts chaired by scientist Miguel Bastos Araújo.

Jorge Sampaio highlighted Greta Thunberg's "unique role" in "leading a civic movement" decisive in today's world and considered that this recognition of the Gulbenkian Foundation "reiterates its commitment to young people as agents of change". "It's a merit award," said scientist Miguel Bastos Araújo, adding that the young environmentalist's name was independently proposed by "three individualities." In addition to the merits, the researcher said that other criteria were also considered as "the impact and the degree of innovation". "There is a before and after of Greta in youth mobilization," he said, also recalling the importance of the environmentalist's manifesto to European leaders. The committee of experts, chaired by Miguel Bastos Araújo, evaluated in a first phase the 136 nominations (corresponding to 79 organizations and 57 personalities) from 46 countries, presenting a smaller list with 10 candidates, for final consideration of the Grand Jury.

The president of the Calouste Gulbenkian Foundation, Isabel Mota, announced in 2019 the creation of the Prize for Humanity worth one million euros, to be awarded each year. Climate change was the theme chosen for the debut of an award that aims to highlight "new ideas that contribute to improving the future of the planet".

In this way, the award "underlines the commitment of the Calouste Gulbenkian Foundation to the urgency of climate action". The institution's website also states that this recognition aims, in particular, to "accelerate the transition to a carbon-neutral society, mitigate the negative effects of climate change on people, the environment and the economy, and promote a more resilient society prepared for the global changes of the future, protecting in particular the most vulnerable." It is, it concludes, an incentive to "highlight and leverage high-scale climate action responses, contributing to accelerating the decarbonisation of the economy, protecting people and natural systems from the serious effects associated with the climate crisis and sustaining sustainable development".


ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS
Greta Thunberg vence Prémio Gulbenkian para a Humanidade

Prémio no valor de um milhão de euros distingue, nesta primeira edição, pessoas e organizações de todos o mundo que contribuíram de forma inovadora para a mitigação das alterações climáticas.


PÚBLICO 20 de Julho de 2020, 11:08 actualizada às 11:40

A jovem activista sueca Greta Thunberg venceu o Prémio Gulbenkian para a Humanidade, no valor de um milhão de euros, que quer distinguir projectos inovadores dedicados às alterações climáticas. É a primeira edição de uma distinção que quer recompensar “novas ideias que contribuam para melhorar o futuro do planeta”. Este ano, na sua primeira edição, o prémio é dedicado às alterações climáticas. Foram recebidas 136 candidaturas. Greta Thunberg deverá viajar até Lisboa para a cerimónia oficial de entrega deste prémio que, ao contrário de outros que lhe foram atribuídos antes, aceitou receber.

Num vídeo gravado, a jovem sueca agradeceu o prémio e anunciou que o milhão de euros será doado, através da fundação com o seu nome, a diferentes organizações e projectos que tentam neste momento dar resposta à crise climática e ecológica. São acções, disse ainda, que “lutam por um mundo sustentável e para proteger o mundo natural”. De acordo com um comunicado da Gulbenkian, a Fundação Thunberg "começará por doar os primeiros 200 mil euros à SOS Amazonia campaign, da Fridays for Future Brazil, que combate a covid-19 na Amazónia, e à Stop Ecocide Foundation para tornar o ecocídio um crime internacional”.

A jovem sueca ficou conhecida por ter dado início a um movimento global de combate às alterações climáticas. Em 2018, Greta – que tem agora 16 anos – faltou às aulas para acampar em frente do Parlamento sueco, segurando uma placa onde se lia “Skolstrejk för klimatet” (“Greve escolar pelo clima”). Actualmente, o movimento Fridays for Future, nascido desta luta solitária, junta milhões de jovens em todo o mundo em greves climáticas.

Greta Thunberg foi escolhida a 11 de Dezembro de 2019, como Personalidade do Ano pela revista Time, que colocou na capa uma fotografia da jovem, tirada na costa portuguesa, sob o título “O poder da juventude”. No início de Dezembro, a activista esteve de passagem por Portugal, depois de atravessar o Atlântico a bordo de um barco. Aportou em Lisboa — onde, aliás, foi fotografada para a capa da edição da Time de Dezembro — antes de seguir para Madrid onde decorria a Cimeira do Clima. A revista Forbes incluiu a jovem sueca na lista das 100 mulheres mais poderosas de 2019.

“O Prémio Gulbenkian para a Humanidade distingue percursos inovadores com elevado potencial para auxiliar processos de mitigação das e/ou adaptação às alterações climáticas, uma das maiores ameaças do século, com consequências devastadoras no bem-estar das gerações actuais e futuras, na economia e nos ecossistemas naturais”, lê-se no anuncio da distinção atribuída pela primeira vez. A selecção dos nomeados foi feita por um júri externo dividido num grande júri presidido pelo ex-Presidente da República Jorge Sampaio, e por um comité de especialistas presidido pelo cientista Miguel Bastos Araújo.

Jorge Sampaio realçou “o papel único” de Greta Thunberg na “liderança de um movimento cívico” decisivo no mundo actual e considerou que, este reconhecimento da Fundação Gulbenkian “reitera a sua aposta nos jovens como agentes de mudança”. “É um prémio de mérito”, sublinhou o cientista Miguel Bastos Araújo, adiantando que o nome da jovem ambientalista foi proposto de forma independente por “três individualidades”. Além do mérito, o investigador adiantou que foram ainda considerados outros critérios como “o impacto e o grau de inovação”. “Há um antes e depois da Greta na mobilização juvenil”, disse, lembrando ainda a importância do manifesto da ambientalista aos líderes europeus. O comité de especialistas, presidido Miguel Bastos Araújo, avaliou numa primeira fase as 136 nomeações (correspondendo a 79 organizações e 57 personalidades) provenientes de 46 países​, apresentando depois uma lista mais reduzida com 10 candidatos, para apreciação final do Grande Júri.

A presidente da Fundação Calouste Gulbenkian, Isabel Mota, anunciou em 2019 a criação do Prémio para a Humanidade no valor de um milhão de euros, a atribuir todos os anos. As alterações climáticas foi o tema escolhido para a estreia de um galardão que pretende destacar “novas ideias que contribuam para melhorar o futuro do planeta”.

Desta forma, o prémio “sublinha o compromisso da Fundação Calouste Gulbenkian para com a urgência da acção climática”. No site da instituição, refere-se ainda que este reconhecimento ambiciona, em particular, “acelerar a transição para uma sociedade neutra em carbono, mitigar os efeitos negativos das alterações climáticas para as pessoas, para o ambiente e para a economia e promover uma sociedade mais resiliente e preparada para as alterações globais do futuro, protegendo em especial os mais vulneráveis”. É, conclui-se, um incentivo para “destacar e alavancar respostas de acção climática, de elevada dimensão, contribuindo para acelerar a descarbonização da economia, proteger as pessoas e os sistemas naturais dos graves efeitos associados à crise do clima e sustentar o desenvolvimento sustentável”.



OPINIÃO
Greta.

A pergunta fundamental é: já esteve JMT nalguma marcha pelo Clima? Eu estive. E o que vi foi milhares de Jovens Gretas e Gretos, sem autismos, mas com as mesmas perguntas impotentes e universais dirigidas, precisamente, aos políticos e aos líderes mundiais.

António Sérgio Rosa de Carvalho
10 de Outubro de 2019, 2:13

Uma Santa? Uma Política? Ou, apenas, mensageira e oráculo de uma Verdade Científica não apenas Inconveniente mas Incontornável?

Estamos todos “gretados”. Uma das melhores caracterizações da idiossincrática mente de Greta, e da sua relação rigorosa e sem filtros, com a urgência dos factos incontornáveis científicos divulgados nos relatórios do IPCC, foi-nos dada num recente artigo da Spiegel.

Neste, Greta, é comparada ao famoso Neo do Matrix, o qual é exposto à escolha entre tomar a pílula azul que o irá levar ao esquecimento “normalizado” de uma verdade escondida e a pílula vermelha, que o irá levar ao conhecimento sem filtros da mesma verdade.

Greta optou pela pílula vermelha.

Assim, ao acusar directamente os grandes líderes que a convidam, de torpor e de irresponsável inacção perante os factos científicos, Greta transformou-se na mensageira da sua própria geração e das gerações futuras. Um inconveniente e incomodativo oráculo, que muitos denunciam como perigosa ameaça mistificante, para o mundo de aparente prosperidade, estabilidade e segurança. Uma ameaça para o Mundo da pílula azul.

Todos viram o Video do “How dare you”? Mas, provavelmente poucos viram a mensagem registada também em vídeo de Sir David Attenborough e dirigida aos Líderes do Mundo presentes a 23 de Setembro na cimeira da ONU.

 Nele, Attenborough avisa que foi possível construir a civilização humana nestes últimos doze mil anos devido à estabilidade do clima. Essa estabilidade está gravemente ameaçada e uma data limite e decisiva é 2020, data da “última” cimeira em Londres. “Última" no sentido do tempo que nos resta para atingir os objectivos e compromissos tomados pelas nações de diminuir para metade as emissões de C02 até 2030 e atingir o zero de emissões em 2050, no conhecido limite dos 2 graus.

Na cimeira de 23 de Setembro conseguiu-se concretamente muito pouco além da vaga e tímida promessa de 70 nações do compromisso de neutralidade de carbono em 2050 e de implementar os seus planos nacionais que resultam do Acordo de Paris até 2020.

Daí, a indignação trémula e impotente de uma adolescente que representa uma geração que em nada contribuiu para o Mundo da Pílula Azul, mas que vai ser obrigada a sobreviver nas realidades apocalípticas do Mundo da Pílula Vermelha. Neste, o conceito Viver tal como nós o conhecemos terá então desaparecido.

António Guterres ilustrou recentemente isto com a frase: “A ciência mostra-nos que se nada for feito enfrentamos, pelo menos, 3 graus Celsius de aquecimento global até ao final do século. Eu não estarei cá, mas minhas netas, sim.”

Ora, as acusações dirigidas a um Movimento Imparável, apolítico e Universal de Consciencialização que ilustra a Ecologia como o novo Humanismo Universal do século XXI, que transcende e atravessa diagonalmente as polarizações entre a “Esquerda” e a “Direita” já chegaram às páginas do PÚBLICO.

Através de JMT, que nas suas piruetas retóricas baseadas numa ironia que se pretende libertadora do enfadonho “Politicamente Correcto” pretende representar a “frescura” de uma geração irreverente.

Assim, Greta é acusada de ser uma perigosa mistificadora portadora de uma auréola santificadora e sumo sacerdotisa de uma nova religião verde. E estes “fundamentalismos” também a comparam a uma perigosa figura da extrema-esquerda que quer resolver as coisas “à bomba”, num processo de politização da causa ambiental. Depois seguem-se as classificações de Guterres como patético, da impossibilidade de conhecer o Futuro e acusação de politização dos Movimentos da causa Ambiental.

Neste caso, JMT contribuiu através das suas confusas trapalhadas argumentativas, como ninguém, precisamente para a polarização e politização deste Movimento Universal que Guterres classifica, nos seus esforços, como Imparável e Universal. Neutral politicamente, mas profundamente consciente das profundas reformas necessárias no nosso modelo económico de mercado e do insustentável mito de crescimento ilimitado.

A pergunta fundamental é: já esteve JMT nalguma marcha pelo Clima? Eu estive. Em Haia a 27 de Setembro. E o que vi foi milhares de Jovens Gretas e Gretos, sem autismos, mas com as mesmas perguntas impotentes e universais dirigidas, precisamente, aos políticos e aos líderes mundiais. Foi em nome deles e dos meus netos que estive presente.

Historiador de Arquitectura

Sem comentários: