Polémica aplicação que serve para
pedir um “táxi” já chegou a Lisboa
MARISA SOARES
04/07/2014 - PÚBLICO
Plataforma da Uber permite ao cliente alugar um carro de gama alta com
motorista e atendimento personalizado. Serviço foi contestado noutras cidades
europeias, mas para já parece pacífico em Portugal.
A aplicação da
Uber que serve para alugar um carro com motorista – uma espécie de táxi, embora
não necessariamente conduzido por um taxista – chegou nesta sexta-feira a
Lisboa. A capital portuguesa é a primeira cidade do país a acolher o serviço da
empresa norte-americana, que tanta polémica tem causado na Europa. Mas pelo
menos para já, a entrada em Portugal parece pacífica.
O serviço parece
simples. O cliente instala a aplicação gratuita no telemóvel smartphone e, ao
aceder, a sua localização é detectada por GPS, sendo-lhe indicado o veículo que
se encontra mais próximo. Feito o pedido do serviço, a Uber – que funciona como
uma espécie de central de táxis – contacta o motorista, cuja identificação e
detalhes da viatura ficam disponíveis no telemóvel do cliente, bem como o custo
estimado da viagem. Está também prevista a possibilidade de partilhar a viatura
com outro utilizador.
“Queremos
certificar-nos de que o cliente consegue um carro em menos de cinco minutos”, diz
ao PÚBLICO Alexandre Droulers, responsável pela expansão da Uber na Europa
Ocidental. Chegando ao destino, a tarifa é cobrada automaticamente no cartão de
crédito do utilizador, sem notas e moedas à mistura. A taxa base é de dois
euros, aos quais acrescem 30 cêntimos por minuto e 1,10 euros por quilómetro.
Cada viagem tem um preço mínimo de oito euros, o mesmo valor a pagar caso o
cliente pretenda cancelar o pedido.
Segundo a
estimativa de preços disponível na página de Internet da empresa, uma viagem
desde a Avenida da Liberdade até Cascais custa 47 euros. Do Chiado até ao Campo
Pequeno, a tarifa é de nove euros.
Outro objectivo
da empresa, além da rapidez, é disponibilizar “o melhor serviço” aos clientes,
que terão atendimento personalizado – desde a abertura da porta do carro à
oferta de uma garrafa de água – num veículo de gama alta, como Mercedes Classe
E.
Atrás do volante,
estarão apenas motoristas licenciados e com alvará para o transporte comercial
de passageiros. Nesta categoria incluem-se condutores de empresas privadas de
transporte de passageiros, como as que prestam serviço a hotéis, por exemplo.
Os motoristas ficam com 80% de comissão sobre o que é angariado em cada viagem,
a Uber arrecada os restantes 20%.
A empresa foi
criada em 2009, em São Francisco, Califórnia (EUA), e actualmente está presente
em 140 cidades de 40 países. "Sempre quisemos vir para Portugal. Lisboa
tem grandes oportunidades e agora que estamos aqui, estamos muito focados em
fazê-las crescer. Estamos a criar uma equipa local, [para] garantir que temos
motoristas formados e experientes", afirmou Alexandre Droulers à Lusa, à
margem da sessão de lançamento da aplicação que decorreu nesta sexta-feira em
Lisboa.
Ao PÚBLICO,
Droulers não revelou quantos veículos estão já registados na plataforma da Uber
em Lisboa, nem adiantou quais os planos da empresa em relação a uma eventual
aposta noutras cidades portuguesas.
Protestos na
Europa
Lisboa é a 140.ª
cidade do mundo a ter este serviço de mobilidade. Na Europa, a empresa está
presente nas principais cidades de países como Espanha, Itália, França,
Inglaterra, Alemanha, entre outros. Mas a ideia não foi bem recebida em todo o
lado. Em meados de Junho, os taxistas de Londres, Paris, Madrid, Barcelona,
Roma, Milão e Berlim manifestaram-se nas ruas contra o serviço, que vêem como
concorrência desleal por não estar sujeito às mesmas regras.
Em Portugal, a
primeira reacção das empresas de táxis também foi negativa. Em Junho, a
Associação Nacional dos Transportadores Rodoviários em Automóveis Ligeiros
(Antral) e a Federação Portuguesa do Táxi (FPT) denunciavam a situação como
ilegal, considerando que esta teria consequências negativas para o sector.
No entanto, após
o lançamento da aplicação nesta sexta-feira, o presidente da Antral, Florêncio
de Almeida, estava menos pessimista. “Esta plataforma é diferente da que
estavam a aplicar na Europa. Aqui, a Uber vai arranjar serviços que serão
entregues a empresas [e motoristas] licenciadas, e sendo assim nada impede. É
como se fosse mais uma central de táxis”, afirmou ao PÚBLICO.
Segundo este
responsável, a contestação na Europa tem a ver com a atribuição do serviço a
carros sem licença para o transporte comercial de passageiros, o que a lei
portuguesa não permite. “Mas em Lisboa também iremos contestar se assim for”,
ressalva.
Florêncio de
Almeida não encontra concorrência nas tarifas aplicadas pela Uber: “Uma viagem
[num carro pedido pela Uber] de Lisboa ao Porto custa 700 euros, num táxi custa
metade”, argumenta.
Por sua vez, o
responsável da Uber na Europa Ocidental desvaloriza a contestação: “há espaço
para todos”.
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