Rui Moreira considera que Rui Rio
tem condições para voltar a servir a causa pública
MARGARIDA GOMES
09/07/2014 - PÚBLICO
Câmara do Porto agraciou mais de 20 personalidades e instituições da
cidade, algumas a título póstumo, mas houve quem recusasse a condecoração em
solidariedade para com Pinto da Costa.
O presidente da
Câmara do Porto, Rui Moreira, elogiou esta quarta-feira a “forma competente,
corajosa e recta” como o seu antecessor no cargo se entregou à causa pública e
declarou que Rui Rio poderá servir novamente a causa pública “noutras
circunstâncias e tempos”.
Um dia depois de
Rui Rio ter admitido em entrevista à Rádio Renascença a sua disponibilidade
para se candidatar a qualquer outro cargo político caso haja no país uma
espécie de vaga de fundo, foi Rui Moreira quem o lançou para outros voos
políticos.
“A homenagem que
lhe prestamos (…) não é nenhuma formalidade que nos impomos. Não é um acto de
rotina ou de protocolo; não é um acto banal. É outrossim, o mínimo
reconhecimento que lhe podemos fazer pela forma competente, corajosa e recta
como se entregou de alma e coração à causa pública”, declarou o presidente da
Câmara do Porto na intervenção que proferiu pouco depois de ter agraciado o seu
antecessor com a medalha de honra da cidade grau ouro. Trata-se da mais alta
condecoração do município reservada a quem tenha prestado serviços de
excepcional relevância.
Para além do
“enorme sentido de dever para com a cidade”, Rui Moreira evidenciou que a
homenagem ao ex-autarca do PSD é “o reconhecimento do excepcional mérito de
alguém que, tendo servido a causa pública, decerto poderá vir a servir noutras
circunstâncias e tempos”.
Para além de Rui
Rio, a autarquia homenageou mais 24
personalidades, algumas das quais a título póstumo como Vasco Graça Moura, um
nome muito aplaudido no momento em que o seu filho recebeu a comenda, o mesmo
acontecendo com Diogo Vasconcelos, Alcino Soutinho, João Lopes Porto e Hernâni
Gonçalves, personalidades que a cidade conhece bem.
Miguel Guedes,
António Ferreira, Raquel Seruca, Sollari Allegro, Ilídio Palheta, António
Marquez Filipe, Maria Amélia Canossa, José Marques dos Santos, Avelino
Gonçalves, João Alves Dias, Frei Bernardo Domingues, João Trigo, Manuel
Teixeira dos Santos, Gomes de Pinho, bem como os comandantes António Leitão da
Silva e Manuel Rebelo de Carvalho e ainda a UPTEC (Parque de Ciência e
Tecnologia da Universidade do Porto), a cooperativa livreira UNICEPE e a
Irmandade dos Clérigos foram as outras personalidades e instituições agraciadas
com medalhas municipais sob proposta de Rui Moreira.
Mas houve quem
recusasse a homenagem. O presidente da Beneficência Familiar, António dos
Santos Reis, recusou receber a medalha de mérito grau prata em solidariedade
com o presidente do FC do Porto, Pinto da Costa, considerando “descortês e
desconfortável a confraternização" com o ex-autarca Rui Rio.
“Partilhando eu
idêntica posição do presidente do FC Porto em relação a Rui Rio […], considero
igualmente descortês e desconfortável a minha confraternização na minha
cerimónia com Rui Rio”, explicou António dos Santos Reis, que foi o primeiro
presidente eleito da junta de freguesia de Ramalde, numa carta a que a Lusa
teve acesso.
Na carta
“entregue em mãos” ao presidente da autarquia, Rui Moreira, na segunda-feira,
António Reis afirma estar em causa o esclarecimento dado “em reunião do executivo”, a propósito “da
não-inclusão de Pinto da Costa entre as personalidades que receberão medalha
municipal”, de que “não seria cortês homenagear Pinto da Costa e Rui Rio na
mesma cerimónia”.
“Os altos
valores, princípios morais e ideológicos que me são inatos não me permitem
aceitá-la […] É que, para além do mais, Jorge Nuno Pinto da Costa e o
signatário desta [carta] presidem a duas das mais prestigiadas e centenárias
instituições da cidade do Porto”, escreve o também presidente da Cooperativa de
Ramalde. O ex-autarca manifesta ainda a “mágoa” pelo “Grau Prata” do galardão
que a Câmara do Porto aprovou atribuir-lhe na reunião do executivo de 17 de
Junho.
Com Rui Moreira
na presidência da Câmara do Porto, a sessão de entrega das medalhas municipais
deixou de ser em Abril como acontecia com Rui Rio e passou a estar associada
“ao desembarque das forças libertadoras de D. Pedro”, ocorrido a 9 de Julho de
1832.
Na sessão solene
de imposição de medalhas da cidade, que juntou nos jardins da Casa do Roseiral
mais de 400 pessoas, Rui Moreira aludiu às forças leais a D. Pedro que tomaram
a cidade durante as guerras liberais e que viriam a ser sujeitas depois a “um
longo, cruel e doloroso cerco pelas tropas miguelistas”, que ficou conhecido
como “O Cerco do Porto” para dizer que “D. Pedro e o povo do Porto resistiram e
não cederam”.
“O Porto é
liberal, exige o que é seu ou aquilo que lhe é devido. Não quer mais, mas não
aceita menos. O Porto acredita num sentido de honra de palavra que outros foram
esquecendo ou vão fazendo por esquecer”, declarou o autarca independente,
acrescentando: “O Porto não quer ser capital, mas sabe o papel decisivo da
cidade e das cidades nesta viragem histórica em que os Estados vão perdendo
soberania e novas formas de soberania e de cooperação se estão a desenvolver à
frente dos nossos olhos”.
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