Carros não vão poder circular na
Ribeira das Naus ao fim-de-semana e durante as férias escolares
INÊS BOAVENTURA
09/07/2014 - PÚBLICO
No domingo, é assinalado o fim da segunda fase das obras nesta artéria da
frente ribeirinha de Lisboa.
O final da
segunda fase das obras na Ribeira das Naus, em Lisboa, vai ser assinalado no
domingo, com uma visita à Doca da Caldeirinha e à Doca Seca, estruturas
centenárias que foram recuperadas no âmbito desta intervenção, e com um passeio
de barco no Tejo. Mas a reabertura desta avenida ao trânsito, pela qual muitos
automobilistas anseiam desde Abril, só vai ocorrer em Setembro, e mesmo aí
apenas aos dias úteis.
Segundo foi
anunciado esta quarta-feira pelo presidente da Câmara de Lisboa, durante uma
reunião camarária que decorreu à porta fechada, a ideia é que esta artéria
passe a estar fechada ao trânsito durante as férias escolares e os
fins-de-semana. Para que, explicou António Costa numa mensagem transmitida ao
PÚBLICO por um elemento do seu gabinete, “o maior número de pessoas, as
crianças e as famílias, possam usufruir deste espaço espectacular”.
Os automóveis
estão impedidos de circular no local desde o início de Abril, devido à
realização dos trabalhos da segunda fase da requalificação desta zona
ribeirinha. A Rua do Arsenal e a Rua da Alfândega foram as alternativas então
apontadas pelo município.
Cerca de três
meses volvidos, o presidente da câmara faz saber que considera que “os esquemas
e os hábitos de circulação que têm vindo a ser experimentados permitem, para
já, optar por esta nova solução”, em que os veículos motorizados só podem
transitar na Avenida Ribeira das Naus entre segunda-feira e sexta-feira à
noite. E apenas depois de terminadas as férias escolares recentemente
iniciadas.
Segundo foi
transmitido por um elemento do seu gabinete, a circulação na frente ribeirinha
poderá ter de sofrer novas alterações num futuro próximo, à medida que forem
avançando outras obras previstas para esta zona de Lisboa, nomeadamente a
construção do novo terminal de cruzeiros de Santa Apolónia, a criação de um
parque de estacionamento no Campo das Cebolas e a requalificação do espaço
público do Cais do Sodré. “São intervenções que eventualmente irão implicar
condicionamentos no eixo ribeirinho”, faz saber António Costa.
Miguel Barroso,
que em Maio criou uma página no Facebook chamada “Ribeira das Naus SEM Carros”,
na qual se fazia uma apelo à autarquia para que deixasse a Ribeira das Naus
“para as pessoas”, considera que aquilo que agora foi anunciado “é um pequeno
passo”. “Se calhar é capaz de ser suficiente para que se chegue à conclusão que
é melhor estar sempre fechado”, diz o arquitecto, a cuja causa já se associaram
mais de mil pessoas.
“O trânsito
adapta-se sempre nestas situações. Há um fenómeno de evaporação de tráfego, as
pessoas arranjam alternativa de transporte”, afirma, sublinhando que “é um lirismo
achar-se que vamos poder continuar todos a ir de carro de um lado para o outro
em Lisboa”. Miguel Barroso não tem dúvidas de que as restrições à circulação
automóvel na Ribeira das Naus vão “melhorar a qualidade deste espaço nobre”,
além de irem contribuir, numa perspectiva menos imediatista, para “diminuir o
tráfego na zona central e antiga de Lisboa”.
O arquitecto vai
mais longe e defende que o desejável seria ir mais longe, e limitar-se a
circulação na Rua do Arsenal a transportes públicos. “A Baixa deve ser tudo
menos um local de atravessamento”, conclui Miguel Barroso.
Já o vereador do
CDS, João Gonçalves Pereira, diz ver com bons olhos a solução que vai agora ser
introduzida na Ribeira das Naus. Mais cautelosos são Carlos Moura, do PCP, e
António Prôa, do PSD.
O autarca
comunista frisa que esta avenida de Lisboa “é uma via extremamente importante
na ligação entre as zonas Ocidental e Oriental da cidade”, pelo que o seu
encerramento só deve ocorrer se se encontrarem “boas alternativas”. “É muito
interessante a possibilidade de as pessoas apropriarem-se daquele espaço
ribeirinho, mas temos que ter algum cuidado”, diz Carlos Moura, acrescentando
que “não se pode prejudicar a mobilidade por causa do lazer”.
“A ideia
parece-me interessante à partida”, diz por sua vez António Prôa, sublinhando no
entanto que há dois aspectos que precisam de ser esclarecidos pelo município:
se foi feito algum estudo de tráfego que sustente a solução a adoptar e se as
alternativas existentes são as adequadas.
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