Obras coercivas não avançam já
“António Costa garante que o programa ReHabita
Lisboa, que prevê a realização de obras coercivas em edifícios privados
devolutos “em locais estratégicos da cidade” e que constava do programa com que
se apresentou às últimas autárquicas, “não está abandonado”. Segundo o autarca,
previa-se que essas obras fossem feitas com recurso ao crédito, algo que a Lei
das Finanças Locais tornou impossível, uma vez que esses créditos passaram a
contar para os limites de endividamento dos municípios. O programa só poderá
avançar, afirma, quando a câmara abater parte da sua dívida, ganhando assim
folga para se endividar.”
Câmara ganhou nove milhões com
programa que permite só pagar depois de reabilitar
O primeiro prédio recuperado fica na Mouraria e os seus apartamentos vão
agora ser colocados à venda
Reabilitação
urbana / Inês Boaventura / 3 jul 2014 /
PÚBLICO
É na estreita e
sinuosa Rua São Pedro Mártir, em pleno bairro da Mouraria, que fica o primeiro
edifício de Lisboa recuperado ao abrigo do programa Reabilita Primeiro Paga
Depois. Para António Costa, mais importante do que os cerca de nove milhões de
euros já arrecadados com esta iniciativa é o facto de ela permitir devolver à
cidade um conjunto de imóveis que a câmara não tinha “capacidade” para
recuperar.
A primeira hasta
pública deste programa teve lugar em Abril de 2013 e desde então já se
realizaram outras três. Dos 65 prédios levados à praça, todos eles a necessitar
de reabilitação profunda ou de obras de reconstrução, foram arrematados 49.
A venda desses
imóveis vai render um total de 8,891 milhões de euros. Por enquanto, apenas uma
parte desse valor deu entrada nos cofres da câmara, já que aos compradores são
dadas duas possibilidades: ou pagam a pronto pagamento, o que lhes garante um
desconto de 10%, ou pagam apenas no fim de um prazo fixado para a conclusão da
operação de reabilitação, que pode variar entre os 21 e os 28 meses.
“Tem sido um
sucesso”, resume o vereador da Reabilitação Urbana. Manuel Salgado sublinha que
este programa permite, ao colocar essa responsabilidade na mão de privados, que
a reabilitação dos imóveis seja feita com uma celeridade que a autarquia seria
incapaz de alcançar, não só por razões financeiras mas também legais.
O autarca lembra
que “quase todos” os edifícios integrados nesta iniciativa se localizam nos
bairros históricos de Lisboa e manifesta o desejo de que ela contribua para aí
“criar uma dinâmica, de que esses bairros bem precisam”.
Também o
presidente do município defende as virtudes deste programa, que em seu entender
deve ser visto como “mais um caminho para o processo de reabilitação urbana,
que tem de ser uma grande prioridade”. “A autarquia não tem
Quase todos os
edifícios desta iniciativa estão nos bairros históricos por si só capacidade de
fazer este investimento”, admite António Costa, acrescentando que as hastas
públicas têm permitido “dinamizar e mobilizar muitas poupanças que as pessoas
têm”.
Segundo Manuel
Salgado, tem sido “muito diversificado” o leque de compradores. “Há muitos
particulares, muitas pequenas empresas e também pessoas que se juntam para
recuperar os edifícios para lá viverem”, descreve ao PÚBLICO.
Ontem, o número
49 da Rua São Pedro Mártir revelou-se pequeno para albergar todos aqueles que
quiseram ver aquela que foi a primeira obra concluída ao abrigo do Reabilita
Primeiro Paga Depois. Pintado de amarelo vivo, com varandas de ferro verdes e
vãos de janelas e portas em pedra, este edifício foi comprado e recuperado por
um promotor imobiliário, que vai agora colocar à venda os seus cinco
apartamentos, quatro T2 e um T1.
Luís Santos, que
adquiriu este prédio de quatro pisos por pouco mais de 183 mil euros e o
recuperou por cerca de 75 mil euros, não tem dúvidas de que este programa
camarário “é muito interessante”. Especialmente, diz, pela facilidade com que
todo o processo se desenrolou, tornando possível que a licença de utilização
lhe tenha sido entregue seis meses depois de ter solicitado o licenciamento da
obra.
“Em seis meses
consegui aquilo que demoraria dois anos”, diz o promotor imobiliário, que tem
cerca de 15 anos de experiência nesta área. Luís Santos, que ao abrigo do
Reabilita Primeiro Paga Depois adquiriu um outro prédio, na Graça, está a
contar vender cada um dos apartamentos na Mouraria por valores “entre cem e 140
mil euros”.
Uma nova hasta
pública, com 24 prédios, deverá realizar-se em Setembro.
O presidente da
Junta de Freguesia de Santa Maria Maior tem a expectativa de que a operação
agora concluída e outras do género contribuam, além da reabilitação do
edificado, para o “repovoamento” da Mouraria. “Este bairro tradicional tem
pessoas com muito amor a este ambiente, mas que vão envelhecendo”, diz Miguel
Coelho, constatando com satisfação que “há muitos casais jovens a fixarem-se”
aqui.
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