sexta-feira, 12 de junho de 2020

Sobre a violência: a estátua de Vieira e a ignorância



As próprias palavras escritas a vermelho (”Descoloniza”) mostram que é a ignorância o motor que, no fundo, aliado à fúria (que é legítima), tudo brutaliza.

“Avaliar este acto perpetrado sobre uma estátua de alguém a quem os índios chamavam Payassu ("Padre Grande”, ou “Grande Pai") deveria merecer por parte dos poderes não um apressado revisionismo histórico (em que Vieira e Salazar valem o mesmo), mas uma aposta decidida nas Humanidades”

“O célebre Sermão de Santo António aos Peixes é prova provada do amor à humanidade em todas as suas formas. As próprias palavras escritas a vermelho ("Descoloniza") mostram que é a ignorância – e a ausência dum saber sólido que a escola não deu, que a educação, falha de Literatura e de Humanidades, não pode dar aos que nasceram já nos anos 2000 – o motor que, no fundo, aliado à fúria (que é legítima), tudo brutaliza. Avaliar este acto perpetrado sobre uma estátua de alguém a quem os índios chamavam Payassu ("Padre Grande”, ou “Grande Pai") deveria merecer por parte dos poderes não um apressado revisionismo histórico (em que Vieira e Salazar valem o mesmo), mas uma aposta decidida nas Humanidades. Só através duma educação centrada na compreensão da alteridade poderemos vencer esta nova guerra em que os humilhados da História se viram para as elites e lhes apontam – com toda a razão – os seus olhos de fome e de miséria. Guerra, diga-se, que implica gestos simbólicos que não falhem o alvo. Carmona fora do Panteão Nacional, eis o que seria um sinal dum Estado culto.”
António Carlos Cortez

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