TURISMO
Turismo europeu cai 75% em quatro meses
No sector, a maior quebra de vendas registou-se nas
agências de viagens e operadores turísticos, com menos 83,6% em Junho em
comparação com Fevereiro.
Rita Robalo Rosa 4 de Setembro de 2020, 12:46
https://www.publico.pt/2020/09/04/economia/noticia/turismo-europeu-cai-75-quatro-meses-1930371
O sector dos serviços de turismo caiu 75% na União
Europeia (UE) em Junho de 2020, face a Fevereiro do mesmo ano, último mês antes
da economia mundial ser afectada pela pandemia de covid-19, segundo dados
divulgados esta sexta-feira pelo Eurostat.
No geral, todos os sectores dos serviços da UE viram o
seu volume de negócios decrescer nesse período, havendo uma queda de 16,4%
entre Fevereiro e Junho no total. Contudo, foi o turismo que se destacou pela
negativa naquele que costuma ser o mês em que a época alta se inicia na Europa.
Dentro do turismo, a maior quebra deu-se nas agências de
viagens e operadores turísticos, com menos 83,6%, seguidos pelos transportes
aéreos (-73,8%), alojamento (-66,4%) e restaurantes (-38,4%), indica o gabinete
estatístico europeu.
Ainda assim, houve uma recuperação em Junho face a Abril
em diversos sectores como a restauração (sector que em 2017 teve um peso de
1,6% no valor acrescentado bruto (VAB) europeu, mais precisamente 96,4 mil
milhões de euros) e o alojamento (1,3% do VAB em 2017, com 79 mil milhões). De
notar que, em Abril, a maioria dos países europeus estava em confinamento, com
Portugal ainda a estado de emergência, decretado em meados de Março.
Em comparação com Abril de 2020, em Junho, o sector do
transporte aéreo teve uma ligeira recuperação. Já o sector das agências de
viagens e operadores turísticos encontrava-se em Junho no mesmo nível que
estava em Abril. Quer o transporte aéreo, quer as agências de viagem e
operadores turísticos têm menor impacto na economia visto que representavam, em
2017, aproximadamente 0,5% e 0,3% do VAB europeu - o que não significa que a
quebra acentuada não seja intensa para a economia europeia.
No que diz respeito ao emprego, entre os sectores
analisados pelo Eurostat, o que tinha menos peso era o transporte aéreo,
correspondendo a 0,2% do emprego na Europa em 2017. Já os restaurantes e
alojamento representavam 4% e 1,9%, respectivamente, dos postos de trabalho da
UE.
OPINIÃO
O crescimento do turismo de massas e do low-cost flying é
profundamente criminoso
O Bureau de Turismo de Amsterdão passou a dedicar-se
precisamente ao oposto da sua função original. Ou seja a sua nova função será o
desencorajamento do turismo.
ANTÓNIO SÉRGIO ROSA DE CARVALHO
31 de Maio de 2019, 21:44
As viagens aéreas low cost permitiram o acesso a uma
inédita mobilidade, traduzida num verdadeiro ‘tsunami’ turístico, que invadiu
de forma avassaladora, as cidades europeias.
O termo ‘invasão’ é aqui utilizado de forma consciente,
pois os efeitos negativos na ecologia urbana, e as alterações dos seus
equilíbrios locais, são nitidamente reconhecíveis e visíveis, e já foram vezes
sem conta, diagnosticadas.
E aqui, chegamos ao prestígio e credibilidade da imagem
da Democracia e da efectividade da sua gestão.
Desta vez, em vez, de falarmos de Lisboa, vamos
deslocarmo-nos a Amsterdão, cidade que habito e experimento na vida quotidiana.
Amsterdão é importante pois devido à sua pequena escala e
espaço disponível limitado, transformou-se num laboratório directo, in
extremis, destes desafios. Mais ainda do que Veneza pela simples razão que
Amsterdão, apesar do êxodo motivado pelas tensões diárias das suas vivências e
pela expulsão dos habitantes locais devido à espiral de especulação
imobiliária, ainda é habitada por um milhão de pessoas.
Em Outubro de 2018 foi tomada uma decisão do mais alto
valor simbólico e que representa uma viragem radical da concepção da gestão do
Turismo. A autarquia decidiu retirar do ponto estratégico e emblemático, em
frente ao Rijksmuseum, em Dezembro de 2018, o famoso letreiro I AMSTERDAM, e
anunciou que as verbas destinadas à promoção do turismo iriam ser reduzidas, e
o respectivo Bureau do Turismo iria a partir desse momento dedicar-se à gestão
distributiva do mesmo turismo.
Por outras palavras, o Bureau iria dedicar-se
precisamente ao oposto da sua função original. Ou seja a sua nova função será o
desencorajamento do turismo.
A nova alcaide de Amsterdão, Femke Halsema, abriu e definiu várias frentes
de urgente regulação; rigoroso regulamento para o Alojamento Local, forte
limitação do turismo no red light district, novo regulamento limitativo para a
navegação nos canais, etc.
A cidade de Amsterdão está, por falta de espaço e por um
crescente número de pessoas a utilizarem este limitado espaço de forma autista,
egocêntrica e anárquica, a ‘rebentar pelas costuras’.
Para especificar apenas através de um exemplo. O trânsito
em Amsterdão é dominado pelas muitas centenas de milhares de ciclistas que
circulam numa rede bem desenvolvida de ciclovias. Nos últimos anos, estas
ciclovias foram também invadidas por scooters. Isto, e o facto de que estes
ciclistas, motorizados ou não, frequentemente não respeitarem os sinais de
trânsito, invadirem os passeios, e demonstrarem uma indiferença egocêntrica que
põe em perigo permanente os peões (muitas tensões hostis entre habitantes e
especialmente com turistas que não estão habituados às ‘regras’ arbitrárias da
‘roleta russa’) levou a situação a um ponto de ruptura. Assim foi estabelecido
que a partir de 8 de Abril não seria permitido às scooters circularem nas
ciclovias e seria obrigatório o uso de capacete, estabelecendo-se um período de
tolerância de dois meses. O problema é que, sem fiscalização, quase ninguém
respeita as regras pois Amsterdão, durante o ciclo neoliberal de privatização e
de desconstrução das instituições centrais do Estado, fechou muitas esquadras
de polícia.
Quando os efeitos múltiplos destes fenómenos resultantes
de uma conjugacão de factores globalizadores (turismo de massa tornado possível
pelo low-cost flying, falta de espaço,
destruição da identidade e autenticidade local através de uma actividade
monofuncional, expulsão dos habitantes locais devido a uma espiral
especulativa, etc.) atingem o ponto de uma ‘tempestade perfeita’, aí, como em
Veneza, torna-se impossível negar o crescer da irritação e da hostilidade dos
habitantes e as tensões tornam-se bem visíveis e explícitas.
Em Democracia, ‘A Sua Liberdade Termina Quando Começa a
do Outro’.
As cidades são também ecosistemas e portanto não podem
comportar o conceito de crescimento ilimitado. A salvaguarda dos equilíbrios da
civilitas na ecologia urbana precisa de uma regulação e vigilância permanente
por parte de uma autoridade central responsável e portadora de uma visão
estratégica.
O nosso futuro vai ser de forma crescente dominado pelo
desafio ecológico e pelas alterações climáticas. Nesta perspectiva, o
crescimento do turismo de massas e do low-cost flying não é só insustentável
mas é profundamente criminoso.
Portanto não é de espantar que a implementação de
impostos nos bilhetes e no combustível no transporte aéreo é urgentemente
necessária e inevitável
A Europa vai reunir-se sobre esta questão em Junho.
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