OPINIÃO
Banqueiros anticapitalista
por VIRIATO
SOROMENHO-MARQUES/7-7-2014/ in DN online
Espero bem que
não, mas se o caso BES terminar da pior maneira, o País pagará um preço
astronómico por um momento de lucidez coletiva. Perceberemos, como num teatro
de marionetas, que as cenas públicas da luta partidária são apenas a cortina
fútil que esconde as lutas reais, travadas em recato, onde se decide o destino
coletivo. Perceberemos que o eventual colapso da constelação em cascata do
"banco do regime", com os danos colaterais que ainda estão muito
longe de um elenco exaustivo, não estará provavelmente em condições de ser
resgatado, pelo menos no interior das regras do jogo europeu, que permitiram a
duzentos bancos (de um total de seis mil) tomarem como reféns mais de
quinhentos milhões de cidadãos da UE. Não tenhamos ilusões: o que se passa em
Portugal é apenas um episódio menor de um sistema cheio de minas e alçapões. A
"união bancária" em fabricação é um mero simulacro: esconde aquilo
que deveria enfrentar. A zona euro (ZE) transformou-se no paraíso do financismo
mais puro e irrestrito. Nela, as ideias extremas do neoliberalismo impuseram-se
sem qualquer barreira (os EUA tiveram em sua defesa um sólido e historicamente
enraizado federalismo). A ZE realizou a utopia temerária de F. Hayek: retirar o
Estado da esfera monetária. O euro é hoje um Moloch perante o qual os povos se
vergam em sacrifício. Entregues a si próprios, com a cumplicidade de quem os
deveria regular, os "banqueiros anarquistas" destroem os próprios
fundamentos do capitalismo. Se a implosão da Europa não puder ser evitada, quem
lhe sobreviver terá de reconstruir uma economia de mercado, sabendo, contudo,
que o dinheiro é um assunto demasiado sério para ser um negócio de aventureiros.
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