TAP
João Galamba nega acusações de adjunto e não se demite
Ministro das Infra-estruturas afirma que Frederico
Pinheiro foi exonerado por ter “repetidamente negado a existência de notas de
reunião” secreta com a ex-CEO da TAP. A cronologia dos acontecimentos.
Leonete Botelho e
Marta Moitinho Oliveira
28 de Abril de
2023, 20:15 actualizado a 28 de Abril de 2023, 21:19
O ministro das
Infra-estruturas rejeita todas as acusações feitas pelo seu ex-adjunto
Frederico Pinheiro, que o acusou de querer que mentisse à comissão parlamentar
de inquérito à gestão política da TAP, deixando claro que não pondera
demitir-se.
Numa curta nota
enviada à comunicação social, João Galamba "nega categoricamente qualquer
acusação de que, por qualquer forma, tenha procurado condicionar ou omitir
informação prestada à CPI [comissão parlamentar de inquérito] da TAP".
"Pelo
contrário: toda a documentação solicitada pela CPI foi integralmente
facultada", afirma.
A propósito da
exoneração de Frederico Pinheiro, na mesma nota esclarece-se que a mesma
"decorre do facto de o então adjunto ter repetidamente negado a existência
de notas de reunião que eram solicitadas pela CPI, o que poderia ter levado a
uma resposta errada à CPI por parte do gabinete do Ministério das
Infra-estruturas". Ou seja, aponta para sonegação de informação como causa
da demissão.
Nesta nota, João
Galamba não diz uma palavra sobre as circunstâncias descritas no comunicado de
Frederico Pinheiro, em particular a existência de uma reunião realizada entre o
ministro das Infra-estruturas e a ex-CEO da TAP a 16 de Janeiro para preparar a
audição de Christine Ourmières-Widener na Comissão de Economia dois dias depois
para explicar a indemnização de 500 mil euros paga à ex-administradora da TAP
Alexandra Reis.
"Entre
outras interacções, nessa reunião o ministro das Infra-Estruturas informa a CEO
da TAP de que no dia seguinte se realizará uma reunião preparatória da audição
parlamentar entre o grupo parlamentar do PS e o Ministério das
Infra-Estruturas", descreve. Mais: "O Ministro das Infra-Estruturas
disse então não ver problema nenhum no facto de a reunião se ter realizado e
reforçou que tinha sido o próprio, a 16 de Janeiro, a revelar a Christine
Ourmières-Widener a existência de uma reunião preparatória entre o Ministério
das Infra-Estruturas e o GPPS, a realizar a 17 de Janeiro".
Fica assim
esclarecido como é que a ex-CEO da TAP ficou a saber da reunião com o deputado
Carlos Pereira - que entretanto se demitiu de coordenador da comissão de
inquérito -, na qual ela própria pediu para participar, de acordo com duas
mensagens de Whatsapp enviadas ao Parlamento sob sigilo mas que foram reveladas
na noite de quinta-feira.
Ao longo do dia,
foram conhecidas não apenas a exoneração, que aconteceu na quarta-feira, do
adjunto do ministro que já estava no Ministério quando este era tutelado por
Pedro Nuno Santos, como a sua versão sobre os factos e também os contornos dos
acontecimentos policiais em que se viu envolvido quando, nessa mesma noite,
voltou ao Ministério das Infra-estruturas para tentar levar o computador no
qual estariam os documentos classificados relacionados com o caso.
Cronologia dos acontecimentos
Segundo um relato
feito ao PÚBLICO, tudo terá começado a 5 de Abril, quando se fez o levantamento
de toda a informação relativa à reunião 'secreta" entre deputados do PS, a
então CEO da TAP e adjuntos do ministro das Infra-estruturas, realizada na
véspera da audição de Christine Ourmières-Widener na Comissão Parlamentar de
Economia. Numa reunião do gabinete de João Galamba para preparar a documentação
a enviar à comissão de inquérito, Frederico Pinheiro terá garantido - segundo
alguns dos presentes - que não tinha notas nem grande memória sobre a reunião
de 17 de Janeiro.
A 24 de Abril,
último dia do prazo de resposta à solicitação da CPI, quando um dos elementos
do gabinete disse que ia responder às questões colocadas e referir a ausência
de notas, Frederico Pinheiro terá afirmado que, afinal, tinha notas pessoais
escritas mas que teria de as reescrever para serem perceptíveis e que as
enviaria mais tarde. Só que não as terá enviado e deixou de responder a
telefonemas e mensagens durante várias horas. Foi nessa altura que o Ministério
terá pedido à comissão de inquérito um prolongamento do prazo para entrega das
respostas até 26 de Abril.
Ao longo do dia
25 de Abril, a chefe de gabinete do ministro e o próprio João Galamba terão
tentado, por múltiplas vezes, insistir com Frederico Pinheiro para o envio das
notas, tendo este respondido que era impossível enviá-las porque estava sem o
seu computador. Só as terá enviado por e-mail cerca das 22h30 desse dia, ou
seja, mais de 24 horas depois de lhe ter sido solicitado que as enviasse.
Na quarta-feira
os documentos foram então enviados para a CPI, incluindo as notas do adjunto,
identificadas como pessoais porque não tinham sido confirmadas por nenhum dos
presentes na reunião. Nessa mesma noite, quando aterrou de uma viagem a
Singapura, João Galamba informa Frederico Pinheiro da sua exoneração devido a
esses antecedentes, considerando que tinha tido um comportamento não conforme
com as responsabilidades de um adjunto de um gabinete ministerial. E ter-lhe-á
comunicado também que ficava proibido de voltar ao Ministério das
Infra-estruturas.
Pouco depois,
porém, Frederico Pinheiro terá voltado ao edifício do Ministério para recolher
o computador portátil que usava em funções, altura em que terá sido
interceptado por outros membros do gabinete (todos mulheres) que tentaram
evitar que levasse o equipamento. Houve gritos, confrontos físicos e até há
relatos de socos nas pessoas que o rodeavam, e Frederico Pinheiro consegue
fugir pelas escadas do prédio, pelo que a polícia terá sido chamada ao local.
As saídas foram
fechadas e Frederico Pinheiro terá ficado retido no edifício e terá arremessado
a sua bicicleta contra os vidros da fachada. Mas quando foi interceptado pela
polícia, deixaram-no sair pois não havia ninguém para contrariar a sua versão
dos factos. Isto porque as cinco pessoas do gabinete que tinham estado
envolvidas nos confrontos ter-se-ão refugiado na casa de banho feminina, de
onde só saíram quando a polícia as foi buscar. Uma delas terá sido conduzida ao
hospital para realizar exames médicos.
Notícia
actualizada às 21h20 com uma cronologia dos acontecimentos relatados que
representam uma das versões
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