EURIBOR
Empréstimo de 200 mil com taxa a 12 meses fica 4800 euros
mais caro num ano
Médias das taxas Euribor voltaram a subir em Abril.
Impacto nos contratos a rever em Maio é significativo, especialmente nos
créditos associados à taxa a 12 meses.
Rosa Soares
29 de Abril de
2023, 6:59
O tema do custo
da habitação - quer a compra, quer o arrendamento - tem motivado várias
manifestações em Portugal NUNO FERREIRA SANTOS
A queda das taxas
Euribor para valores negativos, o que aconteceu a partir de 2015 (a três e seis
meses) e 2016 (a 12 meses) até à primeira metade de 2022, foi uma verdadeira
armadilha para muitas famílias que compraram habitação com recurso a crédito. O
baixo custo dos empréstimos e o elevado preço das casas permitiu a um grande
número de famílias de rendimentos médios assumir empréstimos próximos ou mesmo
acima de 200 mil euros, que têm agora, com a acelerada subida das taxas,
prestações a superar os 1000 euros.
Uma simulação
realizada pelo PÚBLICO para um empréstimo de 200 mil euros de Abril de 2022,
com uma Euribor a 12 meses, quando esta atingiu o primeiro valor positivo nos
0,013%, e com um spread de 1%, a 30 anos, correspondia a uma prestação de
644,47 euros, ou seja, um custo comportável para muitas famílias, tendo em
conta que o valor das rendas seria, com forte probabilidade, mais
significativo.
Mas, passados
apenas 12 meses, este mesmo empréstimo, com a actualização a ocorrer em Maio
(com a média de Abril de 3,757%), vê a prestação disparar para 1044,14 euros,
cerca de 400 euros a mais. A forte subida, a um ritmo sem paralelo na história
das Euribor, corresponderá a um acréscimo de 4800 euros nos próximos 12 meses,
ou seja, até à próxima revisão, a ocorrer em Maio de 2024.
E se o mesmo
empréstimo tivesse sido contratado há dois anos, com a Euribor a 12 meses ainda
em valor negativo (-0,484%, em Abril de 2021), a prestação inicial era ainda
mais baixa – 601,01 euros –, pelo que o acréscimo para a nova prestação seria
de 443,13 euros (5317 euros nos próximos 12 meses).
Já nas simulações
do mesmo empréstimo com as médias de Abril da Euribor a três e a seis meses, os
aumentos, embora significativos, são mais suaves, o que se explica pelo facto
de as últimas revisões terem ocorrido há três e seis meses. Um empréstimo
associado à taxa a três meses aumenta 94,91 euros, para 975,58 euros, e à taxa
a seis meses sobe 172,29 euros, para 1015,27 euros.
A média dos
empréstimos mais recentes ronda os 130 mil euros, mas o número dos que estão no
patamar dos 200 mil euros ou mais não deixa de ser significativo, sofrendo um
forte impacto com as recentes subidas do indexante.
As médias de
Abril – que servirão de referência para os novos empréstimos a taxa variável a
contratar em Maio e para as revisões a ocorrer nesse mês – voltam, assim, a
trazer más notícias: a Euribor a três meses fixou-se em 3,179%, mais 0,268
pontos percentuais face a Março; a de seis meses em 3,516%, mais 0,249 pontos
percentuais; e a de 12 meses em 3,757%, mais 0,110 pontos percentuais.
Estes valores
correspondem a máximos desde 2008, acumulados em apenas cerca de um ano, uma
vez que a inversão da curva de valores negativos se iniciou no início de 2022.
E a tendência
deixada na recta final de Abril indicia a continuação de novas subidas em Maio,
em todos os prazos, mas especialmente nas taxas a três e a seis meses. Contudo,
no prazo a 12 meses, a correcção que se seguiu ao máximo de mais 14 anos, nos
3,978% (a 9 de Março), está praticamente anulada, voltando este indicador a
aproximar-se dos 4%.
O ritmo das novas
subidas está nas mãos do BCE, que volta a reunir-se na próxima semana, a 4 de
Maio, de onde deverá sair um novo aumento das suas taxas directoras,
provavelmente mais reduzido, em 0,25%.
As taxas Euribor,
fixadas diariamente no mercado interbancário, a partir das taxas a que um
conjunto de 57 bancos da zona euro está disposto a emprestar dinheiro entre si,
começaram a subir no início de 2022, e de forma mais acentuada a partir de
Fevereiro, quando o Banco Central Europeu sinalizou uma subida das suas taxas
directoras, de forma a travar a escalada da inflação, que se acentuou com a
guerra na Ucrânia, em Fevereiro do ano passado.
De Julho de 2022
a Março último, a taxa de juro de depósito do banco central, actualmente a
principal referência para os custos de financiamento na zona euro, atingiu os
3%, um valor comparável com -0,5% em que se encontrava em Julho.
A subida do custo
do dinheiro tem contribuído para a redução da taxa de inflação, embora a rimos
diferentes dentro da zona euro, mas tem tido impacto negativo no desempenho das
economias.
Os números
publicados esta sexta-feira pelo Eurostat mostram que o cenário de recessão
técnica na economia europeia, o que preocuparia particularmente o BCE, parece
estar afastado. Na Alemanha, onde muitos analistas anteviam a confirmação de
uma recessão técnica, depois da contracção de 0,5% (uma revisão em baixa face à
estimativa inicial) do quarto trimestre de 2022, o resultado acabou por superar
as expectativas, com o PIB a registar uma variação nula que, pelo menos para
já, evita, à tangente, a entrada oficial em recessão da maior economia
europeia.
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