domingo, 30 de abril de 2023

Moradores de prédio que desabou no Porto têm alojamento provisório mais uma noite

 


“Dizem os jornais que, segundo o SEF, se espera legalizar de imediato perto de 150.000 imigrantes. E receber outros tantos nos próximos dois anos. A verificarem-se estas previsões, serão os mais elevados contingentes de imigrantes jamais chegados a Portugal. Descobrem-se novas fileiras de imigração especialmente usadas por mulheres à beira de dar à luz e outras situações a configurar emergência médica. Não se conhecem progressos nas numerosas situações de imigrantes alojados em condições precárias e malsãs junto às culturas forçadas e às agriculturas hiperintensivas. As questões raciais e os incidentes envolvendo problemas de imigração, de minorias e de estrangeiros ocupam cada vez mais a atenção e as preocupações.

 

  A imigração, em Portugal, faz-se sem política e sem escolhas. E sem respostas às questões difíceis. Há recursos humanos, de equipamento e de capital, para abrir as portas? Há cidades e habitação decente à altura? A economia necessita desta mão-de-obra? Haverá emprego suficiente para os residentes e para os novos imigrantes? Estão preparados os serviços sociais, as escolas, os hospitais, a habitação e os transportes para estes novos fluxos de população? Alguma vez estas políticas foram sufragadas pelo eleitorado e aprovadas pelo Parlamento?”

 

António Barreto / Público / https://www.publico.pt/2023/03/11/opiniao/opiniao/imigrantes-politicas-3-2042002

 

 “A política dita “de porta aberta”, de acolhimento de quem vem, de tolerância com a ilegalidade, é um estímulo às piores condições de imigração. Por exemplo, às redes de tráfico de trabalhadores, uma espécie de negreiros, que, dos confins da Ásia ao Próximo Oriente e do Mediterrâneo a África, organizam os fluxos, incluindo salva-vidas deficientes, mudanças de barcos e de aviões, alternância de autocarros e outros meios de transporte. Esta gente deveria ser perseguida. Os preços de uma passagem para qualquer país da Europa podem oscilar entre três e 30 mil euros. Os acidentes, os naufrágios e as mortes acidentais fazem parte da pressão exercida sobre os países de acolhimento para que, por motivos humanitários, recebam toda a gente, especialmente mulheres, crianças, idosos e parturientes. Pior ainda: os acidentes estimulam o negócio.

 

 Quaisquer que sejam os argumentos, das necessidades de mão-de-obra à humanidade, uma coisa é certa: as práticas seguidas actualmente por Portugal são incentivos à clandestinidade, ao tráfico e ao abuso dos imigrantes pobres, sobretudo dos ilegais. Por isso, as melhores políticas de acolhimento são aquelas que definem os princípios orientadores de controlo de movimentos e de legalidade de contratos de trabalho e de autorizações de residência.”

 

António Barreto / Público / https://www.publico.pt/2023/03/04/opiniao/opiniao/imigrantes-escolhas-2-2041090

 

 “As tensões que se anunciam, exploradas já por grupos políticos activistas, são resultado da falta de certeza e de clareza nas políticas públicas

 

 Quaisquer que sejam os argumentos e as justificações, das necessidades de mão-de-obra à humanidade e da competitividade à fraternidade, uma coisa é certa: as políticas e as práticas seguidas por Portugal, actualmente, são incentivos à clandestinidade, ao tráfico de mão-de-obra, ao abuso dos trabalhadores e a novas formas de racismo. As tensões que se anunciam, exploradas já por grupos políticos activistas, são resultado da falta de certeza e de clareza nas políticas públicas. Por exemplo, as ideias anunciadas pela comunicação social relativas à abertura de legalizações aceleradas de mais de uma ou duas centenas de milhares de imigrantes até ao fim do ano são perigosas e nefastas.”

 

António Barreto / Público / https://www.publico.pt/2023/02/25/opiniao/opiniao/imigrantes-contas-1-2040219

 

PORTO

Moradores de prédio que desabou no Porto têm alojamento provisório mais uma noite

 

Segurança Social assegurou solução para desalojados, mas só está garantida uma noite.

 

Camilo Soldado

28 de Abril de 2023, 19:58 actualizado a 29 de Abril de 2023, 3:33

https://www.publico.pt/2023/04/28/local/noticia/alojamento-moradores-predio-desabou-porto-acampam-frente-camara-2047853

 

Ao fim de um longo dia, a Segurança Social encontrou uma solução temporária para os moradores do prédio da Rua 31 de Janeiro, no Porto, que desabou parcialmente na quinta-feira. A hospedaria do Bonfim funcionou como resposta de emergência na primeira noite, mas os 15 moradores tinham ficado sem garantias para os dias seguintes.

 

Enquanto estavam ainda à espera de resposta e com o contributo do movimento Habitação Hoje!, cujos elementos deram apoio aos desalojados ao longo dia, os moradores chegaram a estar concentrados em frente ao edifício da Câmara Municipal do Porto (CMP).

 

Romain Valentino, membro do movimento, explica que, ao fim de várias horas a ligar para a Linha Nacional de Emergência Social (144), da Segurança Social, foram informados de que haveria duas respostas para o grupo. O problema, acrescenta Jorge Albuquerque, também do Habitação Hoje!, é que é uma solução dividida e provisória.

 

Uma parte terá que ficar no Porto, enquanto a outra ficará em Matosinhos. Se algumas das pessoas que são imigrantes e tiveram o apoio do movimento para tradução e para recorrer aos serviços públicos têm alojamento assegurado até terça-feira, a outra parte só tem a estadia garantida até sábado.

 

Além da habitação, Khalied bin Solaiman, de 38 anos, um dos desalojados, está preocupado com o trabalho. “Na última noite, mal consegui dormir”, diz. “Se não consigo dormir, como vou trabalhar?”, questiona. Está também preocupado com a distância que terá que percorrer até ao emprego, no centro da cidade. Mas hoje têm uma solução. Amanhã não sabe.

 

Vários moradores passaram parte do dia em frente ao Centro Nacional de Apoio à Integração de Migrantes (CNAIM), na Avenida de França, para onde foram encaminhados pela Segurança Social. O CNAIM fez o registo da situação de cada pessoa, mas uma funcionária no local explicou que o centro não tem respostas de alojamento, podendo apenas fazer o encaminhamento.

 

A mesma funcionária mencionou que entrou em contacto com os Serviços de Acção Social da CMP, que a terão informado que a Linha Nacional de Emergência Social seria a entidade indicada a tratar do assunto. Ou seja, devolvia a bola à Segurança Social.

 

Contactado pelo PÚBLICO, o gabinete de comunicação da autarquia refere que o Serviço de Atendimento e Acompanhamento Social seria a porta certa à qual bater, mas que “não deu entrada nenhum pedido de ajuda” relativo aos moradores da 31 de Janeiro.

 

“Não sendo feito nenhum pedido formal aos nossos serviços, não há nada que possamos fazer”, respondeu fonte do gabinete, que acrescentou que tal só poderia ser feito presencialmente.

 

"Ficou lá tudo"

Mesmo que não tenha havido nenhum pedido, Jorge Albuquerque recorda que o presidente da autarquia, Rui Moreira, esteve no local, quando as pessoas foram retiradas do prédio e que o município sabia que estas precisariam de alojamento.

 

A CMP sublinha que é “a Segurança Social que tem competência de resposta social de emergência”, que seria sempre “transitória”. Mesmo que o SAAS recebesse o pedido de ajuda, encaminharia para a mesma Segurança Social. “Fora do horário de expediente deste serviço o encaminhamento é feito através da Linha Nacional de Emergência Social (144)”, acrescenta.

 

Todos os pertences ficaram no prédio que agora se encontra selado. “Dinheiro, documentos, ficou lá tudo”, descreve Md Inzamul Haque, de 28 anos, que estava a trabalhar na loja de souvenirs que servir de rés-do-chão ao prédio. Tentou lá regressar nesta sexta-feira, para reaver alguns bens, mas conta, apenas com a roupa que trazia no corpo, que tal não foi possível. “Alguns dos que aqui estão não comeram nada desde manhã”, acrescentava Khalied bin Solaiman, quando o grupo ainda esperava por uma resposta, em frente ao CNAIM.

 

Do desabamento parcial do prédio resultou um ferido: Mollik Nishad, de 37 anos, que teve de receber assistência hospitalar. Tem dores um pouco por todo o corpo e escoriações nas mãos, apesar de dizer não ter nenhum osso partido. Procurava trabalho e preocupa-o que as lesões que sofreu sejam mais uma barreira que terá de enfrentar nessa busca.

 

Pouco antes da meia-noite, Mollik dirigiu-se aos membros do movimento e a quem foi até à Avenida dos Aliados demonstrar a sua solidariedade: “Deram-nos esperança. Não sei como agradecer-vos", disse.

 

Por hoje, têm onde ficar. “Não podemos viver numa cidade em que 15 pessoas” ficam sem casa “e são esquecidas”, respondeu Romain Valentino. Amanhã, terão que voltar a procurar soluções para parte dos moradores.

 

 

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