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EDITORIAL
O problema grave que ninguém quer ver
Bem podem os peritos tentar sossegar-nos, bem podem as
autoridades sanitárias afirmar que os novos casos se explicam à luz da melhor
ciência, bem pode o Governo gerir com pinças a situação: os números são o que
são e são preocupantes.
MANUEL CARVALHO
18 de Junho de
2020, 20:57
Não há outra
forma de o dizer: Portugal tem um problema grave com as novas infecções de
covid-19. Bem podem os peritos tentar sossegar-nos com garantias de que tudo
está sob controlo, bem podem as autoridades sanitárias afirmar que os novos
casos se explicam à luz da melhor ciência, bem pode o Governo gerir com pinças
a situação para sugerir aos cidadãos que não há razões para alarme: os números
são o que são e são preocupantes.
No Algarve porque
ameaçam a recuperação de um sector estratégico da economia; na região de Lisboa
porque revelam a impotência das autoridades; e nos lares um pouco por todo o
país porque colocam outra vez uma população já de si frágil sob o espectro de
um novo isolamento.
Portugal esteve
bem na primeira fase de luta contra a doença e foi gratificante receber os
elogios que chegavam do exterior; Portugal está mal na fase do desconfinamento,
ficou de fora da lista dos viajantes autorizados por países como a Grécia ou a
Dinamarca e chegou a hora de enfrentar as críticas. Se no final de Maio
escrevemos neste espaço que os números de Lisboa mostravam um “cartão amarelo”
ao desconfinamento acelerado, a sua persistência e os novos focos colocam-nos
hoje num patamar de crise mais alto e bem mais grave.
Para lhe
responder, vai ser essencial que o conjunto da sociedade perceba a dimensão do
problema e se mobilize para o enfrentar. Festas como a do Algarve, que acabam
com dezenas de contágios, não são apenas monumentos à irresponsabilidade: são
também testemunhos de subdesenvolvimento que temos de enfrentar.
Mas se o que mais
conta é a resposta colectiva, também o Governo e as autoridades têm de assumir
que, colectivamente, o país está a falhar. Não é preciso alarmismo nem
marcha-atrás no desconfinamento: bastam palavras duras de aviso, exemplos, mais
fiscalização, melhores transportes, mais determinação e, principalmente, deixar
de agir com o ar de que não se passa nada.
Passa. Cada país
que fecha as fronteiras aos portugueses agrava a percepção externa de que,
entre nós, o vírus está à solta; cada notícia que nos coloca no rol dos piores
índices de contágio por 100 mil habitantes aumenta as dúvidas entre quem quer
investir ou visitar o país; cada dia em que Portugal mostra um número de
contágios acima de países como a Espanha ou a Itália acrescenta uma nódoa à
credibilidade que construímos na primeira fase da pandemia. Sim, temos um
problema grave e só uma perfeita consciência do que se está a passar pode
ajudar a superá-lo.
Médicos do Sul ameaçam “fechar” Algarve se houver um
surto de 100 casos
Por ZAP -18
Junho, 2020
Desde o início da
pandemia que o Algarve tem sido uma das regiões do país com menos casos de
covid-19. No entanto, uma festa ilegal em Lagos já levou ao registo de 39 casos
e levantou preocupações na Ordem dos Médicos do Sul.
Em entrevista ao
Diário de Notícias, o presidente da Ordem dos Médicos do Sul, Alexandre
Lourenço, alertou que o Algarve não tem condições nem recursos humanos para
lidar com eventuais surtos de covid-19.
A Ordem dos
Médicos do Sul teme que, com a chegada do verão, o turismo algarvio possa
agravar a situação epidemiológica na região, que não teria capacidade de
resposta.
Segundo o DN,
Alexandre Lourenço considera insuficiente o aumento de vagas para médicos no
sul durante o verão e pergunta se “vão ser tomadas medidas excecionais para
interromper o turismo no Algarve no meio do verão”.
“O que nós
estamos a ver, por exemplo, em Lisboa são múltiplos pequenos surtos, que nos
preocupam pela incapacidade de a estrutura fazer aquilo que deve no que
respeita a saúde pública (acompanhar todos os contactos e ter uma política
eficaz de quarentena). Mas, se isto é difícil em alguns bairros de Lisboa e em
população jovem, transpor para o Algarve pode ser mais preocupante“, disse,
citado pelo DN.
Alexandre
Lourenço compara o Algarve a Pequim, que voltou a tomar medidas para travar um
novo surto de covid-19. “Como se viu agora em Pequim, com um surto de 100
casos, eles fecharam novamente a capital da China”, disse.
O presidente da
Ordem dos Médicos do Sul afirmou mesmo, ao DN, que o Algarve pode ter de fechar
em plena altura de verão. “Se nós de repente tivermos um surto de cem casos em
Faro ou em Portimão vamos ter de fechar o Algarve“, rematou.
Com 413 casos
desde março, o Algarve é das regiões do país com menos contágio de covid-19.
Este mês, uma festa ilegal em Lagos foi vinculada a um surto de 39 casos
positivos de covid-19 no Algarve.
O evento foi
organizado num clube recreativo de Odiáxere, a cerca de 15 minutos de Lagos,
alugado com a justificação de que seria usado para uma festa de aniversário com
um grupo de entre 10 a 15 pessoas. A festa decorreu entre as 18h e as 20h, até
que foi interrompida pela GNR, chamada ao local devido a várias queixas.
Estiveram presentes neste evento cerca de 100 pessoas.
Comerciantes
algarvios expectantes
A reabertura das
fronteiras luso-espanholas, após três meses e meio encerradas devido à pandemia
de covid-19, é aguardada com expectativa por comerciantes de Vila Real de Santo
António, que atravessam graves dificuldades sem a habitual clientela espanhola.
A agência Lusa
esteve na localidade algarvia localizada na foz do rio Guadiana e na fronteira
fluvial com a localidade espanhola de Ayamonte, fechada desde meados de março,
e constatou o impacto negativo que a falta de visitantes, sobretudo espanhóis,
mas também de outras nacionalidades, está a ter na economia local, baseada na
restauração e lojas de atoalhados.
Ana Sousa, que
explora um quiosque com serviço de bar e café junto à alfândega e ao acesso
para o transporte fluvial para Ayamonte a partir daquela cidade do distrito de
Faro, disse à Lusa que já é tempo de reabrir as fronteiras, cujo encerramento
originou perdas nas vendas a rondar os 70%.
“É lamentável,
porque as vendas quebraram à vontade 70%, acima até”, estimou esta comerciante,
considerando que “já chega de as fronteiras estarem fechadas”, porque “a covid
está aqui e em Espanha” e o necessário é as pessoas “se protegerem para manter
as distâncias”.
A mesma fonte
lembrou que os comerciantes foram obrigados a fechar os negócios durante o
confinamento imposto pelo estado de emergência e criticou a falta de apoio do
Governo para suportar as despesas fixas, que ascendem a mais de 4.000 euros sem
qualquer receita.
“Fomos obrigados
a fechar e quem não tiver um fundo de maneio que possa manipular e sustentar as
despesas todas, infelizmente é obrigada a fechar, porque o Estado não ajuda
nada. E não sei por que razão as fronteiras estão há tanto tempo fechadas”,
disse.
Taxistas sem
trabalho
Dionísio Estêvão
é taxista na localidade fronteiriça algarvia e afirmou que, neste período com
as fronteiras encerradas, o negócio “tem sido péssimo” e “as receitas caíram
mais de 90%”.
“Estávamos a
faturar umas receitas mais ou menos, isto iria subir, só que o coronavírus
veio-nos tramar. E nesta altura do ano, que já devíamos estar com umas contas
boas, está muito mau”, lamentou o motorista, que anseia pela reabertura de
fronteiras, prevista para 1 de julho.
Com muitos
estrangeiros entre os clientes, este taxista tem tido pouco trabalho e deu um
exemplo das dificuldades que sente no dia-a-dia para ganhar a vida, contando
que pouco antes de falar com a Lusa “era para ter ido fazer um serviço até ao
aeroporto de Sevilha [Espanha]”, mas “não deixaram passar” para Espanha pela
ponte internacional sobre o rio Guadiana, já no concelho de Castro Marim, a
oito quilómetros de Vila Real de Santo António.
“Tive eu que
chamar um táxi espanhol para levar o cliente para o aeroporto de Sevilha e tive
que voltar para trás”, acrescentou, considerando que as dificuldades
financeiras vão manter-se “enquanto os hotéis não abrirem, o aeroporto não
começar a trazer estrangeiros e a fronteira não deixar passar pessoal”.
Mário Ferramacho,
que gere uma negócio de atoalhados na marginal de Vila Real de Santo António,
relatou que os últimos tempos, com a fronteira fechada, têm sido “muito
complicados” e “sem vendas”, empurrando a faturação para “zeros” e deixando o
movimento “completamente morto”, porque o comércio local “vive dos espanhóis”
e, “sem os espanhóis, aqui não se faz nada”.
A mesma fonte
espera também que a fronteira possa mesmo reabrir a 1 de julho para ver se o
negócio “retoma um pouco”, mas mostrou-se convencido de que “2020 vai ser um
ano muito mau”, devido aos receios de uma “segunda vaga” na pandemia e ao
“muito desemprego em Espanha” originado pelo confinamento e os efeitos da
paragem de atividade no trabalho.
Rosa Cruz, que
trabalha numa loja de atoalhados na principal praça da cidade, qualificou o
período vivido nos últimos meses como “muito mau” e “um desastre” para a terra,
devido ao “impacto negativo” da covid-19 num negócio em que, “não havendo
espanhóis, não há salvação”.
A reabertura das
fronteiras é também aguardada por esta comerciante, embora esteja pouco
optimista quanto ao aumento imediato no afluxo de visitantes espanhóis à cidade
pombalina, porque o espanhol também não tem poder de compra e vem para
passeio”, por em Espanha haver “muita gente no desemprego”.
Devido à pandemia
de covid-19, as fronteiras terrestres entre Portugal e Espanha foram encerradas
às 23h do dia 16 de março, com nove pontos de passagem exclusivamente
destinados ao transporte de mercadorias e a trabalhadores que tenham que se
deslocar por razões profissionais, em termos definidos em conjunto pelos dois
países.
O Governo de
Espanha começou por anunciar a reabertura das fronteiras com Portugal para o
dia 22 de junho, anúncio a que o Governo português reagiu com surpresa, tendo
sido depois acertado o dia 1 de julho.
No dia da
reabertura das fronteiras está prevista uma cerimónia com o Presidente da
República, Marcelo Rebelo de Sousa, o rei Felipe VI de Espanha, e os
primeiros-ministros português, António Costa, e espanhol, Pedro Sánchez.
ZAP // Lusa
Festa em Odiáxere contagia 37 pessoas:Algarve chega aos
413 infetados (atualizada)
17-06-2020 -
13:38
A Direção-Geral da Saúde anunciou esta quarta-feira, a
existência de 1.523 mortes em Portugal, mais 1 em relação a ontem.
Há mais 336
infetados, para um total de 37.672, aponta o boletim epidemiológico divulgado
pela DGS.
O relatório
indica que a região Norte é a que regista o maior número de mortos 813 e 17.179
casos, seguida da região de Lisboa e Vale do Tejo com 432 óbitos e 14 407
casos, da região Centro com 246 óbitos e 3913 casos, do Alentejo 288 casos e 2
óbitos, Açores 143 e 15 óbitos e Madeira com 90 casos positivos.
Até agora no
Algarve há 413 infetados - mais 6 em relação a ontem e 15 óbitos.
Contagem regional
(DGS):
Albufeira tem 81,
(2 óbitos)
Loulé - 76, (5
óbitos)
Faro - 70
Portimão - 51, (3
óbitos)
Tavira - 30
Silves - 23
Olhão - 14
Vila Real de Stº
António - 14, (2 óbitos)
Lagoa - 11, (2
óbitos)
Lagos - 11 (Graça
Freitas, diretora-Geral da Saúde confirmou esta quarta-feira na habitual
confrência de imprensa, que já foram confirmados 37 casos positivos,
resultantes de uma festa ilegal realizada em Odiáxere, concelho de Lagos no
passado dia 7 de junho).
São Brás de
Alportel - 3, (1 óbito)
Castro Marim - 3
Covid-19:
Portugal entre os países a vermelho que precisam de entrar em ação
O grupo
EndCoronavirus.org, em que colaboram cientistas de todo o mundo, coloca-nos na
cauda da luta contra o novo coronavírus – ao lado da Suécia, do Reino Unido e
dos Estados Unidos
SOCIEDADE
18.06.2020 às
08h00
Portugal está
longe de derrotar o novo coronavírus e precisa de entrar em ação rapidamente. A
conclusão é do EndCoronavirus.org, um grupo internacional de mais de quatro mil
cientistas que monitorizam os dados da infeção em todos os países, dividindo-os
em três classificações/cores: os que “estão a vencer” (verde), os que “estão
quase lá” (amarelo) e os que “precisam de entrar em ação” (vermelho).
Desde 29 de
fevereiro deste ano que as estatísticas publicadas por esta organização, em que
colaboram especialistas do New England Complex Systems Institute (Necsi) e de
várias universidades, todos voluntários, ajudam a perceber o rumo da Covid-19
no mundo.
Os critérios de
classificação são simples. Para conter completamente o vírus, os novos casos
por dia devem ir a zero. Olhando para os vários grupos, veem-se curvas mais ou
menos acentuadas e, sobretudo, três cores de leitura imediata.
Os países
“verdes” estão nesse ponto ou estão muito próximos. Os “amarelos” são aqueles
que podem chegar a esse ponto dentro de um prazo razoável, mas ainda precisam
de diminuir as novas infeções para ficarem “verdes”. Os “vermelhos” estão a ir
na direção errada, com constantes casos novos ou a caírem muito lentamente.
Os dados mais
recentes coligidos pelo EndCoronavirus.org colocam no “verde” 44 países, entre
eles a Austrália, a Finlândia e a Grécia. No “amarelo” estão 17 países, entre
eles a China, a Espanha, a França e a Itália. E no “vermelho”, entre os 70
países que devem tomar medidas urgentes, está Portugal, a Suécia, o Reino Unido
e os Estados Unidos.
Note-se que, há
uns dias, a China integrava o grupo dos países “verdes”, tendo recentemente
passado a “amarelo.
Depois de um pico
acentuado e de uma queda abrupta, a curva portuguesa mostra-se novamente a
subir – e bem vermelha. Nas últimas 24 horas, registámos mais um morto e 336
novos casos de infeção. Dos 37 672 confirmados, nesta quarta-feira, 17, estamos
com 12 569 casos ativos e um total de 1 523 mortes.
Os cientistas do
EndCoronavirus.org lembram que o número total de casos confirmados de Covid-19
(que o grupo mede a partir de uma média da semana anterior) são influenciados
por dois fatores: o número total de infeções na população e a quantidade de
testes a ser realizados. “É possível que regiões altamente infetadas mostrem um
pequeno número de casos confirmados se o teste for insuficiente, razão pela
qual a taxa positiva de teste é um fator tão importante”, notam.
Conselhos ‘para
vencer’
À guisa de
conselhos, apontam várias medidas que os países devem adotar se querem “ganhar”
a batalha contra o novo coronavírus:
Entrar em ação
rapidamente. “Não espere ‘mais dados’ ou resultados de modelos complicados.
Ainda não é tarde para começar agora. Quanto mais cedo agir, mais cedo tudo
poderá voltar ao normal.”
Isolar longe de
casa. “Prepare instalações para isolar os indivíduos infetados dos seus
familiares. Cerca de 80% da transmissão em Wuhan
[na China]
aconteceu em
casa.”
Restringir as
viagens. “Se estiver numa zona verde, com pouca ou nenhuma transmissão
comunitária, imponha restrições de viagens e reabra a economia local. Para as
zonas vermelhas, restrinja as entradas e tenha quarentenas obrigatórias para
evitar a propagação do vírus.”
Enorme quantidade
de testes. “O teste permite identificar os indivíduos infetados e separá-los do
resto da comunidade.”
Máscaras para
todos. “Reduzir a transmissão fazendo com que todos usem uma máscara facial é
simples, barato e altamente eficaz.”
Continuar a
praticar o distanciamento social. “Fique longe de áreas movimentadas e mantenha
a maior distância possível entre os vizinhos mais próximos. Aqueles que têm
comorbidades (idosos, excesso de peso, imunodeprimidos etc.) devem ser os últimos
a serem reintroduzidos na sociedade, por serem os mais vulneráveis.”
Não reabrir muito
cedo. “A reabertura demasiado cedo corre o risco de provocar um crescimento
exponencial novamente. Pode aumentar a quantidade total de mortes,
sobrecarregar o sistema de saúde e criar um cenário em que outro é necessário
um novo confinamento.”

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