quinta-feira, 18 de junho de 2020

CLEAN AND SAFE ? / O problema grave que ninguém quer ver / Médicos do Sul ameaçam “fechar” Algarve se houver um surto de 100 casos / Covid-19: Portugal entre os países a vermelho que precisam de entrar em ação


IMAGEM DE OVOODOCORVO

EDITORIAL
O problema grave que ninguém quer ver

Bem podem os peritos tentar sossegar-nos, bem podem as autoridades sanitárias afirmar que os novos casos se explicam à luz da melhor ciência, bem pode o Governo gerir com pinças a situação: os números são o que são e são preocupantes.

MANUEL CARVALHO
18 de Junho de 2020, 20:57

Não há outra forma de o dizer: Portugal tem um problema grave com as novas infecções de covid-19. Bem podem os peritos tentar sossegar-nos com garantias de que tudo está sob controlo, bem podem as autoridades sanitárias afirmar que os novos casos se explicam à luz da melhor ciência, bem pode o Governo gerir com pinças a situação para sugerir aos cidadãos que não há razões para alarme: os números são o que são e são preocupantes.

No Algarve porque ameaçam a recuperação de um sector estratégico da economia; na região de Lisboa porque revelam a impotência das autoridades; e nos lares um pouco por todo o país porque colocam outra vez uma população já de si frágil sob o espectro de um novo isolamento.

Portugal esteve bem na primeira fase de luta contra a doença e foi gratificante receber os elogios que chegavam do exterior; Portugal está mal na fase do desconfinamento, ficou de fora da lista dos viajantes autorizados por países como a Grécia ou a Dinamarca e chegou a hora de enfrentar as críticas. Se no final de Maio escrevemos neste espaço que os números de Lisboa mostravam um “cartão amarelo” ao desconfinamento acelerado, a sua persistência e os novos focos colocam-nos hoje num patamar de crise mais alto e bem mais grave.

Para lhe responder, vai ser essencial que o conjunto da sociedade perceba a dimensão do problema e se mobilize para o enfrentar. Festas como a do Algarve, que acabam com dezenas de contágios, não são apenas monumentos à irresponsabilidade: são também testemunhos de subdesenvolvimento que temos de enfrentar.

Mas se o que mais conta é a resposta colectiva, também o Governo e as autoridades têm de assumir que, colectivamente, o país está a falhar. Não é preciso alarmismo nem marcha-atrás no desconfinamento: bastam palavras duras de aviso, exemplos, mais fiscalização, melhores transportes, mais determinação e, principalmente, deixar de agir com o ar de que não se passa nada.

Passa. Cada país que fecha as fronteiras aos portugueses agrava a percepção externa de que, entre nós, o vírus está à solta; cada notícia que nos coloca no rol dos piores índices de contágio por 100 mil habitantes aumenta as dúvidas entre quem quer investir ou visitar o país; cada dia em que Portugal mostra um número de contágios acima de países como a Espanha ou a Itália acrescenta uma nódoa à credibilidade que construímos na primeira fase da pandemia. Sim, temos um problema grave e só uma perfeita consciência do que se está a passar pode ajudar a superá-lo.

Médicos do Sul ameaçam “fechar” Algarve se houver um surto de 100 casos
Por ZAP -18 Junho, 2020

Desde o início da pandemia que o Algarve tem sido uma das regiões do país com menos casos de covid-19. No entanto, uma festa ilegal em Lagos já levou ao registo de 39 casos e levantou preocupações na Ordem dos Médicos do Sul.

Em entrevista ao Diário de Notícias, o presidente da Ordem dos Médicos do Sul, Alexandre Lourenço, alertou que o Algarve não tem condições nem recursos humanos para lidar com eventuais surtos de covid-19.

A Ordem dos Médicos do Sul teme que, com a chegada do verão, o turismo algarvio possa agravar a situação epidemiológica na região, que não teria capacidade de resposta.

Segundo o DN, Alexandre Lourenço considera insuficiente o aumento de vagas para médicos no sul durante o verão e pergunta se “vão ser tomadas medidas excecionais para interromper o turismo no Algarve no meio do verão”.



“O que nós estamos a ver, por exemplo, em Lisboa são múltiplos pequenos surtos, que nos preocupam pela incapacidade de a estrutura fazer aquilo que deve no que respeita a saúde pública (acompanhar todos os contactos e ter uma política eficaz de quarentena). Mas, se isto é difícil em alguns bairros de Lisboa e em população jovem, transpor para o Algarve pode ser mais preocupante“, disse, citado pelo DN.

Alexandre Lourenço compara o Algarve a Pequim, que voltou a tomar medidas para travar um novo surto de covid-19. “Como se viu agora em Pequim, com um surto de 100 casos, eles fecharam novamente a capital da China”, disse.

O presidente da Ordem dos Médicos do Sul afirmou mesmo, ao DN, que o Algarve pode ter de fechar em plena altura de verão. “Se nós de repente tivermos um surto de cem casos em Faro ou em Portimão vamos ter de fechar o Algarve“, rematou.

Com 413 casos desde março, o Algarve é das regiões do país com menos contágio de covid-19. Este mês, uma festa ilegal em Lagos foi vinculada a um surto de 39 casos positivos de covid-19 no Algarve.

O evento foi organizado num clube recreativo de Odiáxere, a cerca de 15 minutos de Lagos, alugado com a justificação de que seria usado para uma festa de aniversário com um grupo de entre 10 a 15 pessoas. A festa decorreu entre as 18h e as 20h, até que foi interrompida pela GNR, chamada ao local devido a várias queixas. Estiveram presentes neste evento cerca de 100 pessoas.

Comerciantes algarvios expectantes
A reabertura das fronteiras luso-espanholas, após três meses e meio encerradas devido à pandemia de covid-19, é aguardada com expectativa por comerciantes de Vila Real de Santo António, que atravessam graves dificuldades sem a habitual clientela espanhola.

A agência Lusa esteve na localidade algarvia localizada na foz do rio Guadiana e na fronteira fluvial com a localidade espanhola de Ayamonte, fechada desde meados de março, e constatou o impacto negativo que a falta de visitantes, sobretudo espanhóis, mas também de outras nacionalidades, está a ter na economia local, baseada na restauração e lojas de atoalhados.

Ana Sousa, que explora um quiosque com serviço de bar e café junto à alfândega e ao acesso para o transporte fluvial para Ayamonte a partir daquela cidade do distrito de Faro, disse à Lusa que já é tempo de reabrir as fronteiras, cujo encerramento originou perdas nas vendas a rondar os 70%.

“É lamentável, porque as vendas quebraram à vontade 70%, acima até”, estimou esta comerciante, considerando que “já chega de as fronteiras estarem fechadas”, porque “a covid está aqui e em Espanha” e o necessário é as pessoas “se protegerem para manter as distâncias”.

A mesma fonte lembrou que os comerciantes foram obrigados a fechar os negócios durante o confinamento imposto pelo estado de emergência e criticou a falta de apoio do Governo para suportar as despesas fixas, que ascendem a mais de 4.000 euros sem qualquer receita.

“Fomos obrigados a fechar e quem não tiver um fundo de maneio que possa manipular e sustentar as despesas todas, infelizmente é obrigada a fechar, porque o Estado não ajuda nada. E não sei por que razão as fronteiras estão há tanto tempo fechadas”, disse.

Taxistas sem trabalho
Dionísio Estêvão é taxista na localidade fronteiriça algarvia e afirmou que, neste período com as fronteiras encerradas, o negócio “tem sido péssimo” e “as receitas caíram mais de 90%”.

“Estávamos a faturar umas receitas mais ou menos, isto iria subir, só que o coronavírus veio-nos tramar. E nesta altura do ano, que já devíamos estar com umas contas boas, está muito mau”, lamentou o motorista, que anseia pela reabertura de fronteiras, prevista para 1 de julho.

Com muitos estrangeiros entre os clientes, este taxista tem tido pouco trabalho e deu um exemplo das dificuldades que sente no dia-a-dia para ganhar a vida, contando que pouco antes de falar com a Lusa “era para ter ido fazer um serviço até ao aeroporto de Sevilha [Espanha]”, mas “não deixaram passar” para Espanha pela ponte internacional sobre o rio Guadiana, já no concelho de Castro Marim, a oito quilómetros de Vila Real de Santo António.

“Tive eu que chamar um táxi espanhol para levar o cliente para o aeroporto de Sevilha e tive que voltar para trás”, acrescentou, considerando que as dificuldades financeiras vão manter-se “enquanto os hotéis não abrirem, o aeroporto não começar a trazer estrangeiros e a fronteira não deixar passar pessoal”.

Mário Ferramacho, que gere uma negócio de atoalhados na marginal de Vila Real de Santo António, relatou que os últimos tempos, com a fronteira fechada, têm sido “muito complicados” e “sem vendas”, empurrando a faturação para “zeros” e deixando o movimento “completamente morto”, porque o comércio local “vive dos espanhóis” e, “sem os espanhóis, aqui não se faz nada”.

A mesma fonte espera também que a fronteira possa mesmo reabrir a 1 de julho para ver se o negócio “retoma um pouco”, mas mostrou-se convencido de que “2020 vai ser um ano muito mau”, devido aos receios de uma “segunda vaga” na pandemia e ao “muito desemprego em Espanha” originado pelo confinamento e os efeitos da paragem de atividade no trabalho.

Rosa Cruz, que trabalha numa loja de atoalhados na principal praça da cidade, qualificou o período vivido nos últimos meses como “muito mau” e “um desastre” para a terra, devido ao “impacto negativo” da covid-19 num negócio em que, “não havendo espanhóis, não há salvação”.

A reabertura das fronteiras é também aguardada por esta comerciante, embora esteja pouco optimista quanto ao aumento imediato no afluxo de visitantes espanhóis à cidade pombalina, porque o espanhol também não tem poder de compra e vem para passeio”, por em Espanha haver “muita gente no desemprego”.

Devido à pandemia de covid-19, as fronteiras terrestres entre Portugal e Espanha foram encerradas às 23h do dia 16 de março, com nove pontos de passagem exclusivamente destinados ao transporte de mercadorias e a trabalhadores que tenham que se deslocar por razões profissionais, em termos definidos em conjunto pelos dois países.

O Governo de Espanha começou por anunciar a reabertura das fronteiras com Portugal para o dia 22 de junho, anúncio a que o Governo português reagiu com surpresa, tendo sido depois acertado o dia 1 de julho.

No dia da reabertura das fronteiras está prevista uma cerimónia com o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, o rei Felipe VI de Espanha, e os primeiros-ministros português, António Costa, e espanhol, Pedro Sánchez.

ZAP // Lusa

Festa em Odiáxere contagia 37 pessoas:Algarve chega aos 413 infetados (atualizada)

17-06-2020 - 13:38

A Direção-Geral da Saúde anunciou esta quarta-feira, a existência de 1.523 mortes em Portugal, mais 1 em relação a ontem.

Há mais 336 infetados, para um total de 37.672, aponta o boletim epidemiológico divulgado pela DGS.

O relatório indica que a região Norte é a que regista o maior número de mortos 813 e 17.179 casos, seguida da região de Lisboa e Vale do Tejo com 432 óbitos e 14 407 casos, da região Centro com 246 óbitos e 3913 casos, do Alentejo 288 casos e 2 óbitos, Açores 143 e 15 óbitos e Madeira com 90 casos positivos.

Até agora no Algarve há 413 infetados - mais 6 em relação a ontem e 15 óbitos.

Contagem regional (DGS):
Albufeira tem 81, (2 óbitos)
Loulé - 76, (5 óbitos)
Faro - 70
Portimão - 51, (3 óbitos)
Tavira - 30
Silves - 23
Olhão - 14
Vila Real de Stº António - 14, (2 óbitos)
Lagoa - 11, (2 óbitos)
Lagos - 11 (Graça Freitas, diretora-Geral da Saúde confirmou esta quarta-feira na habitual confrência de imprensa, que já foram confirmados 37 casos positivos, resultantes de uma festa ilegal realizada em Odiáxere, concelho de Lagos no passado dia 7 de junho).
São Brás de Alportel - 3, (1 óbito)
Castro Marim - 3

Covid-19: Portugal entre os países a vermelho que precisam de entrar em ação

O grupo EndCoronavirus.org, em que colaboram cientistas de todo o mundo, coloca-nos na cauda da luta contra o novo coronavírus – ao lado da Suécia, do Reino Unido e dos Estados Unidos

SOCIEDADE
18.06.2020 às 08h00

Portugal está longe de derrotar o novo coronavírus e precisa de entrar em ação rapidamente. A conclusão é do EndCoronavirus.org, um grupo internacional de mais de quatro mil cientistas que monitorizam os dados da infeção em todos os países, dividindo-os em três classificações/cores: os que “estão a vencer” (verde), os que “estão quase lá” (amarelo) e os que “precisam de entrar em ação” (vermelho).

Desde 29 de fevereiro deste ano que as estatísticas publicadas por esta organização, em que colaboram especialistas do New England Complex Systems Institute (Necsi) e de várias universidades, todos voluntários, ajudam a perceber o rumo da Covid-19 no mundo.

Os critérios de classificação são simples. Para conter completamente o vírus, os novos casos por dia devem ir a zero. Olhando para os vários grupos, veem-se curvas mais ou menos acentuadas e, sobretudo, três cores de leitura imediata.

Os países “verdes” estão nesse ponto ou estão muito próximos. Os “amarelos” são aqueles que podem chegar a esse ponto dentro de um prazo razoável, mas ainda precisam de diminuir as novas infeções para ficarem “verdes”. Os “vermelhos” estão a ir na direção errada, com constantes casos novos ou a caírem muito lentamente.

Os dados mais recentes coligidos pelo EndCoronavirus.org colocam no “verde” 44 países, entre eles a Austrália, a Finlândia e a Grécia. No “amarelo” estão 17 países, entre eles a China, a Espanha, a França e a Itália. E no “vermelho”, entre os 70 países que devem tomar medidas urgentes, está Portugal, a Suécia, o Reino Unido e os Estados Unidos.

Note-se que, há uns dias, a China integrava o grupo dos países “verdes”, tendo recentemente passado a “amarelo.

Depois de um pico acentuado e de uma queda abrupta, a curva portuguesa mostra-se novamente a subir – e bem vermelha. Nas últimas 24 horas, registámos mais um morto e 336 novos casos de infeção. Dos 37 672 confirmados, nesta quarta-feira, 17, estamos com 12 569 casos ativos e um total de 1 523 mortes.

Os cientistas do EndCoronavirus.org lembram que o número total de casos confirmados de Covid-19 (que o grupo mede a partir de uma média da semana anterior) são influenciados por dois fatores: o número total de infeções na população e a quantidade de testes a ser realizados. “É possível que regiões altamente infetadas mostrem um pequeno número de casos confirmados se o teste for insuficiente, razão pela qual a taxa positiva de teste é um fator tão importante”, notam.

Conselhos ‘para vencer’

À guisa de conselhos, apontam várias medidas que os países devem adotar se querem “ganhar” a batalha contra o novo coronavírus:

Entrar em ação rapidamente. “Não espere ‘mais dados’ ou resultados de modelos complicados. Ainda não é tarde para começar agora. Quanto mais cedo agir, mais cedo tudo poderá voltar ao normal.”

Isolar longe de casa. “Prepare instalações para isolar os indivíduos infetados dos seus familiares. Cerca de 80% da transmissão em Wuhan

[na China]

aconteceu em casa.”

Restringir as viagens. “Se estiver numa zona verde, com pouca ou nenhuma transmissão comunitária, imponha restrições de viagens e reabra a economia local. Para as zonas vermelhas, restrinja as entradas e tenha quarentenas obrigatórias para evitar a propagação do vírus.”

Enorme quantidade de testes. “O teste permite identificar os indivíduos infetados e separá-los do resto da comunidade.”

Máscaras para todos. “Reduzir a transmissão fazendo com que todos usem uma máscara facial é simples, barato e altamente eficaz.”

Continuar a praticar o distanciamento social. “Fique longe de áreas movimentadas e mantenha a maior distância possível entre os vizinhos mais próximos. Aqueles que têm comorbidades (idosos, excesso de peso, imunodeprimidos etc.) devem ser os últimos a serem reintroduzidos na sociedade, por serem os mais vulneráveis.”


Não reabrir muito cedo. “A reabertura demasiado cedo corre o risco de provocar um crescimento exponencial novamente. Pode aumentar a quantidade total de mortes, sobrecarregar o sistema de saúde e criar um cenário em que outro é necessário um novo confinamento.”


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