PS
pressiona PCP e Bloco: só chumba Governo se tiver acordo firmado
antes da discussão do programa
Maria Lopes
03/11/2015 - PÚBLICO
Carlos
César repete que o PS deixará passar o programa de Governo do PSD e
CDS se não tiver uma alternativa "estável e duradoura".
PCP mantém moção de rejeição autónoma enquanto não houver
decisão conjunta à esquerda.
Carlos César volta
a colocar a fasquia alta para o PCP e o Bloco: o PS quer que o acordo
à esquerda seja “aclarado e “firmado” antes da discussão do
programa de Governo. Porque, disse o dirigente socialista, o
compromisso assumido na noite eleitoral mantém-se: “O PS não
inviabilizará [o Governo PSD/CDS] sem ter uma alternativa que seja
sustentável, estável e duradoura.”
No final da reunião
entre a liderança da bancada socialista e o novo ministro dos
Assuntos Parlamentares, Carlos César recusou especificar aos
jornalistas a fase em que estão as negociações entre PS, PCP e
Bloco, e garantiu que nenhum acordo está fechado. “Eu opto pelo
que acho sério e responsável: enquanto não houver acordo firmando
como PCP e o Bloco não vale a pena valorar o estado das negociações
como estando a 90% ou 40%”, respondeu o dirigente socialista quando
questionado se o PS já tem a garantia de ter essa alternativa que
exige para inviabilizar o Governo de direita.
E vincou: “Nós
não votaremos nem apresentaremos nenhuma moção de rejeição se
não tivermos em simultâneo uma garantia de que temos uma
alternativa consolidada e acordada com os restantes partidos.” O
acordo, defendeu César, “deverá ser comunicado e é importante
que esse acordo seja aclarado, evidentemente, antes da discussão do
programa de Governo”, mas não quis dizer se há um prazo concreto
fixado.
Também João
Oliveira, líder parlamentar do PCP e um dos elementos da equipa
comunista presente nas negociações, não se comprometeu com prazos,
mas deu a entender que a janela temporal do PCP é mais larga do que
a dos socialistas. Se Carlos César fala num acordo firmado antes da
discussão na Assembleia da República, dias 9 e 10, o deputado
comunista prefere vincar que o “calendário de rejeição sobre o
programa de Governo” é “até ao final do debate do programa”,
que é quando as moções de rejeição têm que ser apresentadas e
votadas.
PCP mantém moção
autónoma... até decisão em contrário
“Sobre as decisões
que vierem a ser tomadas, elas serão tomadas quando houver condições
para isso e anunciadas a tempo.” E isso vale até para se saber se
haverá uma moção de rejeição conjunta ou quatro em separado –
PS, Bloco, PCP e PEV (este último tomará a decisão na
quinta-feira). Para já, e “não havendo decisão em contrário”,
o PCP mantém a promessa que fez na noite das eleições: “A nossa
disponibilidade para apresentar uma moção de rejeição mantém-se,
tudo o resto resultará, eventualmente, de contactos ou discussão
que seja feita num sentido ou noutro.”
João Oliveira não
quis falar sobre a natureza de um futuro acordo com o PS – se
escrito como querem os socialistas, se de palavra como defendeu
Jerónimo de Sousa em entrevista à SIC na passada quinta-feira. “Não
farei nenhum comentário. Sendo certo que a palavra de um comunista
vale tanto como um papel assinado nesta circunstância”, insistiu.
As palavras de
Carlos César, que empurram a última responsabilidade para o PCP e
Bloco e que exigem uma clarificação dos dois partidos à sua
esquerda até mesmo quanto aos prazos, deixaram a ideia de que à
esquerda – ou pelo menos no PS - se admite uma possibilidade, ainda
que pequena, de que o programa de Governo poderá, afinal, passar. E
ao colocar o ónus dessa clarificação no PCP e Bloco, o PS poderá
estar a arranjar espaço para justificar um eventual recuo e, na
terça-feira, poder deixar passar o programa de Governo.
“O PS não se
desviou desse cenário que foi o seu compromisso: nós só
inviabilizaremos o Governo se tivermos uma alternativa com apoio
parlamentar estável e duradouro”, vincou Carlos César. “Se o
acordo for conseguido - e presume-se que tem alta probabilidade de o
ser -, votaremos a nossa própria moção de rejeição se for ela a
primeira a ser votada; se assim não for, vale aquilo que dissemos na
noite das eleições: não deixaremos o país sem Governo.”
O Partido Ecologista
Os Verdes vai decidir na próxima quinta-feira se também apresenta
ou não uma moção de rejeição do programa de Governo. José Luís
Ferreira disse aos jornalistas no Parlamento que a hipótese "está
a ser ponderada" e que o PEV "nunca foi abordado"
pelos outros partidos para uma moção conjunta.
Mas mantém a sua
intenção de votar favoravelmente toda e qualquer moção de
rejeição que seja apresentada - e depois de aprovada a primeira
todas as subsequentes são desnecessárias. Por isso, mesmo que os
Verdes também proponham um voto de rejeição, não fazem "finca-pé"
para serem os primeiros - "não andamos aqui a ver quem chega
primeiro", garantiu, acrescentando ser "irrelevante"
se é uma moção dos Verdes que derruba o Executivo de Pedro Passos
Coelho ou outra qualquer. "O efeito prático é o mesmo":
fazer este Governo "arrumar a mala e ir para casa".
Questionado sobre se
o facto de os partidos à esquerda não se entenderem para uma
questão simples como uma moção de rejeição não é dar
argumentos à direita para esta dizer que assim a esquerda nunca
conseguirá fazer um acordo consistente e coerente, José Luís
Ferreira considerou que não tem havido "esforço" para
esse entendimento sobre a moção de rejeição.
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