sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Um manual marxista-leninista para principiantes / PEDRO SOUSA CARVALHO

“We see the European Union as a means to an end, not an end in itself “
(…) “We do not believe in it. We do not subscribe to it. We have a different vision for Europe. We believe in a flexible union of free member states who share treaties and institutions, working together in a spirit of co-operation to advance our shared prosperity and to protect our people from threats to our security whether they come from at home or abroad. “
David Cameron

Muito está a mudar na Europa.
Tudo indica que // - em virtude das pressões independentistas e defensoras da Soberania dos Estados desenvolvidas pelo Reino Unido, em simultâneo com instalação de tensões e ressentimentos na Europa entre Norte/ Sul / Leste / Oeste desencadeadas pelo calvinismo financeiro de Merkel e o tremendo erro de avaliação dos Refugiados, isto, junto às ameaças de separatismo da Catalunha e da Escócia // - a Alemanha onde Merkel já sente crescentes pressões internas dissidentes junto a sombras de crescimento económico e escândalos de corrupçào, irá tender progressivamente para se retirar da posição de liderança.
Portugal na sua vulnerabilidade económica/ financeira, dependente de tudo e de todos, tranformou-se numa zona de Protectorado Europeu.
A submissão sem pestanejar e hesitar da Soberania Nacional da dita “Direita” ao diktat de Merkel pondo o País nos seus centros estratégicos à venda e enviando 500.000 para o exílio, criou ressentimentos entres os patriotas que acreditam que a Nação Portuguesa e Soberana ainda existe.
Muitos esqueçem-se que existe tradicionalmente “outra” Direita. Uma Direita que estabelece um pacto com o Capital , mas um pacto exigente , no sentido que o submete à defesa dos interesses Nacionais . Que estimula o empreendorismo e o investimento mas canalizando-o para a criação de uma Economia forte e disciplinada ao serviço da Nação.
Numa Europa burocrática e sem elites políticas, a desfazer-se em ressentimentos e desconfianças, agora exposta a crescentes populismos e extremismos com a ajuda de um grave erro de avaliação de Merkel na questão dos refugiados, a chamada “Direita” da coligação terá que mudar de discurso.
Deixar de ser mera executora da vontade de Merkel e demonstrar mais empatia pelos sacrifícios pedidos aos Portugueses .
Numa Europa de retorno ao princípio da “Unidade em Diversidade” e das Nações Soberanas em colaboração, a chamada “Direita” terá que se reformar e desenvolver conteúdos, preocupações e atitudes de retorno às tendências verdadeiramente Patrióticas e progressivamente Independentistas.
OVOODOCORVO.

Um manual marxista-leninista para principiantes
PEDRO SOUSA CARVALHO 13/11/2015 - PÚBLICO

A austeridade não é uma mania da direita e o alívio da austeridade não é património da esquerda

O Governo de Passos Coelho e de Paulo Portas caiu esta semana. É inacreditável, dizem os descrentes. Os crentes, como Calvão da Silva, dirão que foi um "act of God". É a democracia a funcionar, dirão uns. É a ânsia de poder, dirão outros. A verdade é que o Governo caiu e, segundo Telmo Correia, “caiu de pé”. E esperemos, para o bem do país, que o novo não entre de cócoras. Para quem levou e deu tanta pancada já é um milagre não ter saído de gatas. Na hora da despedida, Passos Coelho merece que lhe seja feita uma pequena homenagem, nem que seja condicional: se é verdade que os socialistas vão acabar com toda a austeridade de uma assentada, e mesmo assim o défice não vai derrapar, é porque alguma coisa terá feito este Governo.

Nestes quatro anos de austeridade, muitos terão ficado pelo caminho e importa acudi-los. Algures, a meio do caminho, Passos Coelho deixou-se embevecer por uma retórica calvinista e por uma visão punitiva da austeridade. Mas o “que se lixem as eleições” do líder do PSD também foi importante num determinado momento da História deste país, em que tínhamos de escolher entre ser celtas ou ser gregos. Escolhemos ser celtas e conseguimos equilibrar as nossas contas públicas e evitar um segundo resgate. Mas, como bons lusitanos que somos, vemo-nos agora gregos para prosseguir o caminho dos celtas.

Há alguns mitos que temos de deixar pelo caminho de uma vez por todas: um deles é que a disciplina orçamental é incompatível com o crescimento. A Irlanda, que também passou por um ajustamento agressivo parecido com o nosso, cresceu 5% no ano passado e este ano voltará a crescer 6%. A Grécia, segundo a Comissão Europeia, vai continuar em recessão. O outro mito que importa desmontar é que a austeridade é uma mania da direita e que o alívio da austeridade é património da esquerda.

Com o que Passos Coelho não contava na sua caminhada é que António Costa, depois de ser derrotado a 4 de Outubro, utilizasse a sua máxima do “que se lixem as eleições” para lhe roubar o poder. Agora, ao que tudo indica, vamos ter um governo do PS com o apoio do PCP, Bloco e Verdes, que esta semana assinaram acordos de governação. Chamar àquelas folhas acordos é um manifesto exagero, porque os documentos não têm ponta por onde se lhe pegue, nem na forma nem no conteúdo. Os comunistas, que aprovaram o acordo por uma “unanimidade informal” (seja lá o que isso quer dizer), nem sequer esconderam o embaraço. Não quiseram aparecer na fotografia de família da esquerda, e o Comité Central do PCP enviou instruções específicas aos socialistas para que a cerimónia protocolar fosse organizada de uma forma “sequencial com momentos individualizados” (seja lá o que isso quer dizer). A direcção do PS terá tido bastante dificuldade em descodificar a mensagem. Um destes dias vai precisar de comprar um manual marxista-leninista para principiantes para continuar o diálogo com os comunistas.

A cerimónia lá se fez à porta fechada, imaginamos “sequencial” e “com momentos individualizados”, só com um fotógrafo oficial para registar o episódio que é, sem dúvida, histórico. Manuel Alegre terá derramado uma lágrima e Cavaco Silva terá chorado baba e ranho. Para quem pediu tanto e teve tão pouco, é caso para ficar agastado.

O acordo que a esquerda vai mostrar a Belém está a milhas de garantir o tal governo estável, consistente e duradouro pedido pelo Presidente da República. O PCP e o Bloco não vão para o governo, o que é um sinal de instabilidade. O acordo nem sequer faz uma referência ao de leve aos tratados europeus, o que é um sinal de inconsistência. E não dá a António Costa a garantia de que pelo menos um único Orçamento seja aprovado, o que é um sinal de pouca durabilidade.

Quando há uma semana Cavaco Silva exigiu que o Governo respeitasse o PEC, o "Six Pack" ou o "Two Pack", não estava a falar de rappers ou de bandas de heavy metal; estava a falar de compromissos internacionais com os quais Portugal se comprometeu e que este acordo à esquerda dá poucas garantias de vir a honrar. O PCP e o Bloco dão suporte ao Governo para o alívio da austeridade (e mesmo aqui não se entendem sobre o ritmo de reposição dos cortes ou da descida da sobretaxa de IRS), mas não dão respaldo nenhum caso seja necessário apertar o cinto. Nesse caso, como é que se equilibram as contas públicas? Pode ser que o tal manual marxista-leninista para principiantes tenha lá a explicação.

Eventualmente, António Costa estará a contar com a boa vontade do PSD e CDS-PP para essas alturas de aperto, mas esta semana Paulo Portas foi cristalino: “Não venha depois pedir socorro.” O vice-primeiro-ministro em gestão, no dia em que o seu Governo foi derrubado, veio mostrar-se contra aquilo que chama “bebedeira de medidas” à esquerda, alertando que “as bebedeiras têm um só problema: chama-se ressaca”. Portas fala do acordo à esquerda como se estivesse a falar de uma Cuba Libre que mistura a Coca-Cola dos socialistas com o rum dos comunistas. E já ficou claro que a direita não será uma espécie de Guronsan político de António Costa.


Perante tudo isso, o que deve fazer Cavaco Silva? Não sei.

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