quinta-feira, 12 de novembro de 2015

A próxima jogada de António Costa? / VENTURA LEITE


O que está no caminho do Costa Político é o próprio Costa , movido apenas e maquiavélicamente por um projecto pessoal que vai desfazer o PS tradicional, o "tal" vindo da manifestação da Alameda durante o PREC.
OVOODOCORVO
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A próxima jogada de António Costa?
VENTURA LEITE 12/11/2015 - PÚBLICO

O que levou estes partidos a subscreverem estes entendimentos com o PS deve-se à fragilidade do PS e ao facto de que cada força política acredita que vai ganhar com isso, ou não vai perder.

É um PS profundamente fragilizado, com a sua elite histórica em silêncio sepulcral, que acaba de assumir uma responsabilidade para qual não tem capacidade de resposta. Mas isso importa?
O líder do PS disse ao país que rejeitava o Governo do PSD-CDS porque tinha um programa alternativo de governo com um apoio maioritário parlamentar para quatro anos.
Como eu pensava, não se construiu nenhum acordo substantivo e durável. Apenas se estabeleceram as cedências do PS para obter um apoio mínimo do BE, PCP e PEV para se dar posse a um governo minoritário do PS, até que o PS possa reatar os entendimentos mínimos com o PSD e CDS para enfrentar Bruxelas.
Mas era expectável mais? Para mim isso era impossível, porque a única coisa que mudou realmente no quadro político interno é ao nível do PS, hoje talvez mais fragilizado ainda do que depois da era Sócrates. Isso, sim, é que pode alterar o quadro político no país, e não uma qualquer mudança ao nível dos partidos à sua esquerda, o que muitos socialistas parecem não entender.
A primeira conclusão desta realidade é que, ao contrário dos discursos complacentes, não vai haver legislatura de quatro anos. Porquê?!
Ora, porque nenhum dos quatro partidos tem essa intenção!
O que levou estes partidos a subscreverem estes entendimentos com o PS deve-se à fragilidade do PS e ao facto de que cada força política acredita que vai ganhar com isso, ou não vai perder. No entanto, com as agendas políticas de cada um, e os compromissos internacionais de Portugal, não é possível ganharem todos ao longo duma legislatura que já se sabe ser difícil.
Em boa verdade, o PCP preferiria não ter sequer assinado nada, mas foi pressionado pela subida do BE, que constitui o seu pesadelo actual, pior do que o PS!
Aqui chegados, a questão que se deve colocar é a seguinte: se quem mais cedeu politicamente foram António Costa e o PS, o que tem o líder do PS preparado para não ser apanhado pelo BE e PCP? Ele é ambicioso, mas não é tolo!
Naquele grupo todos sabem que ninguém pode confiar em ninguém, e que não podem ganhar todos numa legislatura que dure quatro anos. Logo, o que agir primeiro, de uma forma aparentemente credível, será o vencedor!
Para António Costa há apenas um cenário que verdadeiramente lhe interessa em termos de futuro.
Voltar a disputar as eleições e ganhá-las com maioria absoluta. Mas, para isso tem que preparar o palco e os portugueses. Se o conseguir, entra para a história como um político de grande estatura, e pode sonhar com a presidência da República dentro de dez anos.
Qual é a jogada mais previsível do líder do PS? Há muitos cenários possíveis, mas há aqueles que se coadunam mais com a natureza do actual líder do PS.
O orçamento para 2016 não provocará ondas. Mas alguma coisa irá acontecer na discussão do orçamento de 2017, ou, o mais tardar, no de 2018, porque não será possível escapar a Bruxelas… e aos défices acordados para os próximos anos! Vai ser necessário cortar vários milhares de milhões de euros de despesas e/ou aumentar os impostos. E num ou noutro caso as tensões entre os quatro parceiros de esquerda vão subir. Essa possibilidade está praticamente inscrita nos acordos e verbalizada em comentários vários.
Quando se chegar a esse momento, o Primeiro-Ministro fingir-se-á agastado com os seus parceiros, e numa jogada há muito pensada voltar-se-á, “in extremis”, para o PSD e o CDS em busca de apoio, que obviamente espera que lhe seja negado. O Líder do PS não deixa de repetir que conta com a responsabilidade do PSD e CDS passada a presente crispação, mas precisa justamente dessa recusa, que sendo censurável não deixará de ser compreensível.
E monta-se assim o palco para a derradeira jogada do líder do PS.
Diante do BE, do PCP mais o PEV, três parceiros intransigentes na partilha de alguns dos custos da mitigação da austeridade, e diante do PSD e CDS que se fecham quando está em causa o interesse nacional face a exigências externas, o PM pede a demissão e eleições antecipadas, dizendo ao País que não encontra no BE, no PCP e no PEV a solidariedade que lhes ofereceu o PS para combater a austeridade, que eles apenas quiseram o PS para medidas populares, e que afinal nada mudaram em relação ao seu passado. Depois criticará a irresponsabilidade do PSD e CDS que se revelam incapazes de superar a derrota parlamentar de 2015, colocando o seu azedume acima do interesse nacional.
Neste quadro, resta-lhe pedir aos portugueses que ajudem o PS a não depender de outras forças políticas para prosseguir a sua luta contra a austeridade, que naturalmente exige compromissos sérios tanto no plano interno como externo.
O líder do PS parte então para novas eleições, não como consequência duma Moção de Censura traiçoeira, mas por sua iniciativa e decisão, esperando que o País se solidarize com ele.
Acrescentará ainda uma chantagem: ou os portugueses dão uma maioria absoluta ao PS para prosseguir no combate sustentado e responsável à austeridade, ou então não assumirá novamente um governo minoritário.
E como que por ironia do destino pode até acontecer que aquele que chegou a Primeiro-ministro na condição de derrotado, venha a deixar o mesmo cargo como vencedor, sem maioria absoluta, mas já com o almejado título de ex-Primeiro-ministro, suficiente para lhe reabrir o futuro na política e nos negócios!

Economista, militante do PS

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