O que está no
caminho do Costa Político é o próprio Costa , movido apenas e
maquiavélicamente por um projecto pessoal que vai desfazer o PS
tradicional, o "tal" vindo da manifestação da Alameda
durante o PREC.
OVOODOCORVO
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A
próxima jogada de António Costa?
VENTURA LEITE
12/11/2015 - PÚBLICO
O
que levou estes partidos a subscreverem estes entendimentos com o PS
deve-se à fragilidade do PS e ao facto de que cada força política
acredita que vai ganhar com isso, ou não vai perder.
É um PS
profundamente fragilizado, com a sua elite histórica em silêncio
sepulcral, que acaba de assumir uma responsabilidade para qual não
tem capacidade de resposta. Mas isso importa?
O líder do PS disse
ao país que rejeitava o Governo do PSD-CDS porque tinha um programa
alternativo de governo com um apoio maioritário parlamentar para
quatro anos.
Como eu pensava, não
se construiu nenhum acordo substantivo e durável. Apenas se
estabeleceram as cedências do PS para obter um apoio mínimo do BE,
PCP e PEV para se dar posse a um governo minoritário do PS, até que
o PS possa reatar os entendimentos mínimos com o PSD e CDS para
enfrentar Bruxelas.
Mas era expectável
mais? Para mim isso era impossível, porque a única coisa que mudou
realmente no quadro político interno é ao nível do PS, hoje talvez
mais fragilizado ainda do que depois da era Sócrates. Isso, sim, é
que pode alterar o quadro político no país, e não uma qualquer
mudança ao nível dos partidos à sua esquerda, o que muitos
socialistas parecem não entender.
A primeira conclusão
desta realidade é que, ao contrário dos discursos complacentes, não
vai haver legislatura de quatro anos. Porquê?!
Ora, porque nenhum
dos quatro partidos tem essa intenção!
O que levou estes
partidos a subscreverem estes entendimentos com o PS deve-se à
fragilidade do PS e ao facto de que cada força política acredita
que vai ganhar com isso, ou não vai perder. No entanto, com as
agendas políticas de cada um, e os compromissos internacionais de
Portugal, não é possível ganharem todos ao longo duma legislatura
que já se sabe ser difícil.
Em boa verdade, o
PCP preferiria não ter sequer assinado nada, mas foi pressionado
pela subida do BE, que constitui o seu pesadelo actual, pior do que o
PS!
Aqui chegados, a
questão que se deve colocar é a seguinte: se quem mais cedeu
politicamente foram António Costa e o PS, o que tem o líder do PS
preparado para não ser apanhado pelo BE e PCP? Ele é ambicioso, mas
não é tolo!
Naquele grupo todos
sabem que ninguém pode confiar em ninguém, e que não podem ganhar
todos numa legislatura que dure quatro anos. Logo, o que agir
primeiro, de uma forma aparentemente credível, será o vencedor!
Para António Costa
há apenas um cenário que verdadeiramente lhe interessa em termos de
futuro.
Voltar a disputar as
eleições e ganhá-las com maioria absoluta. Mas, para isso tem que
preparar o palco e os portugueses. Se o conseguir, entra para a
história como um político de grande estatura, e pode sonhar com a
presidência da República dentro de dez anos.
Qual é a jogada
mais previsível do líder do PS? Há muitos cenários possíveis,
mas há aqueles que se coadunam mais com a natureza do actual líder
do PS.
O orçamento para
2016 não provocará ondas. Mas alguma coisa irá acontecer na
discussão do orçamento de 2017, ou, o mais tardar, no de 2018,
porque não será possível escapar a Bruxelas… e aos défices
acordados para os próximos anos! Vai ser necessário cortar vários
milhares de milhões de euros de despesas e/ou aumentar os impostos.
E num ou noutro caso as tensões entre os quatro parceiros de
esquerda vão subir. Essa possibilidade está praticamente inscrita
nos acordos e verbalizada em comentários vários.
Quando se chegar a
esse momento, o Primeiro-Ministro fingir-se-á agastado com os seus
parceiros, e numa jogada há muito pensada voltar-se-á, “in
extremis”, para o PSD e o CDS em busca de apoio, que obviamente
espera que lhe seja negado. O Líder do PS não deixa de repetir que
conta com a responsabilidade do PSD e CDS passada a presente
crispação, mas precisa justamente dessa recusa, que sendo
censurável não deixará de ser compreensível.
E monta-se assim o
palco para a derradeira jogada do líder do PS.
Diante do BE, do PCP
mais o PEV, três parceiros intransigentes na partilha de alguns dos
custos da mitigação da austeridade, e diante do PSD e CDS que se
fecham quando está em causa o interesse nacional face a exigências
externas, o PM pede a demissão e eleições antecipadas, dizendo ao
País que não encontra no BE, no PCP e no PEV a solidariedade que
lhes ofereceu o PS para combater a austeridade, que eles apenas
quiseram o PS para medidas populares, e que afinal nada mudaram em
relação ao seu passado. Depois criticará a irresponsabilidade do
PSD e CDS que se revelam incapazes de superar a derrota parlamentar
de 2015, colocando o seu azedume acima do interesse nacional.
Neste quadro,
resta-lhe pedir aos portugueses que ajudem o PS a não depender de
outras forças políticas para prosseguir a sua luta contra a
austeridade, que naturalmente exige compromissos sérios tanto no
plano interno como externo.
O líder do PS parte
então para novas eleições, não como consequência duma Moção de
Censura traiçoeira, mas por sua iniciativa e decisão, esperando que
o País se solidarize com ele.
Acrescentará ainda
uma chantagem: ou os portugueses dão uma maioria absoluta ao PS para
prosseguir no combate sustentado e responsável à austeridade, ou
então não assumirá novamente um governo minoritário.
E como que por
ironia do destino pode até acontecer que aquele que chegou a
Primeiro-ministro na condição de derrotado, venha a deixar o mesmo
cargo como vencedor, sem maioria absoluta, mas já com o almejado
título de ex-Primeiro-ministro, suficiente para lhe reabrir o futuro
na política e nos negócios!
Economista,
militante do PS
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