Figuras da extrema-direita europeia vieram a Portugal
apoiar o Chega e fazer campanha anti-UE
André Ventura garantiu que o Chega não defende a saída de
Portugal da União Europeia, mas pediu uma “reforma” da política dos 27,
nomeadamente no que toca à imigração.
Ana Bacelar
Begonha
24 de Novembro de
2023, 17:55
"Seja
paciente, chegará" o tempo. Foi em tom de brincadeira que Marine Le Pen
respondeu esta sexta-feira na Assembleia da República a uma jornalista que a
questionou sobre a dificuldade dos partidos de extrema-direita em chegarem ao
poder ou, mesmo quando ganham eleições, conseguirem governar. Mas alavancados
pelas recentes vitórias de Javier Milei na Argentina e de Geert Wilders nos
Países Baixos, foi precisamente a ideia de que "chegou o tempo" dos
partidos nacionalistas que as principais figuras da extrema-direita francesa e
alemã procuraram passar, junto ao líder do Chega, numa conferência de imprensa.
Com promessas de unidade, os partidos europeus de extrema-direita vieram a
Lisboa fazer campanha às eleições para o Parlamento Europeu com críticas à União
Europeia e apoiar o partido de André Ventura para os próximos actos eleitorais.
Não é a primeira
vez que a ex-presidente e líder parlamentar do Reagrupamento Nacional (RN),
Marine Le Pen, vem a Portugal a convite do Chega, tendo estado presente no
arranque da campanha às presidenciais de 2021 de André Ventura. Na altura,
desfez-se em elogios ao partido e, agora, repetiu o gesto, afirmando que o
"sucesso" do líder partidário não é fruto do "acaso", mas
um "acto reflectido" devido ao "fracasso dos governos".
Desta vez, teve a
companhia do líder da Alternativa para a Alemanha (AfD), Tino Chrupalla, que,
com as eleições legislativas antecipadas e as eleições europeias a
aproximarem-se, disse não só esperar que o partido venha a fazer parte da
família do Identidade e Democracia (ID) no Parlamento Europeu a partir de Junho
— Le Pen falou mesmo em "impaciência" para ver o Chega na Europa —,
como apoiou o partido para as eleições de 10 de Março.
O líder do Chega
aproveitou o embalo para garantir que “vai disputar a vitória” nas eleições
vindouras e, usando a actual crise política, traçou como objectivos fazer uma
reforma da justiça (que diz estar em “perigo” devido à “interferência
permanente dos socialistas”), “controlar a imigração descontrolada” e criar uma
“Europa de valores europeus”.
Já no fim da
conferência, integrada num encontro do ID, Ventura havia de associar essa
alegada "imigração descontrolada" à guerra entre Israel e o Hamas,
aproveitando para se colocar novamente do lado de Israel e defender que "o
nível de conflito civilizacional" da Europa deve-se "muito" ao
"excesso e descontrolo da imigração islâmica para o território
europeu".
Maioria de direita e combate à imigração
Numa altura em
que já há conversas sobre uma união da extrema-direita nas europeias, Le Pen e
Chrupalla não abriram o jogo. Mas garantiram que os partidos europeus da
extrema-direita (ou que "defendem a nação", como se autodescrevem)
vão continuar a trabalhar de forma conjunta e colocaram no horizonte
"criar uma maioria de direita no Parlamento Europeu", formação onde
se incluem os reformistas e conservadores.
Um cenário que
quiseram mostrar ser possível tendo em conta o crescimento da direita radical
na Europa (em particular, nos Países Baixos, onde esta semana o Partido pela
Liberdade ganhou as eleições). "Este é um encontro de partidos vencedores
que querem mudar a face da Europa", resumiu André Ventura, secundado por
Le Pen, que afirmou que "a esquerda chegou ao fim de ciclo e é tempo de
dar oportunidade" à extrema-direita.
Os deputados do
RN e da AfD foram mais longe do que Ventura nas críticas à União Europeia (UE),
o que o forçou, questionado pelos jornalistas, a garantir que “não defenderá a
saída da UE”, mas a replicar a ideia de que é necessária uma “reforma” para dar
“mais poderes aos governos” e “menos aos burocratas de Bruxelas”, para
controlar as “fronteiras e as migrações” ou contrariar as “políticas económicas
que estão a favorecer mais a China e outros blocos do que os europeus”.
Antes, Le Pen
havia defendido que a UE “está a tornar-se uma caricatura de si própria” e
posicionou-se contra os seus quatro pilares: o “aprofundamento”, que diz ser
uma “palavra bonita” para tirar “substância às nações”, o “alargamento”, o
“pacto das migrações” e o “pacto verde”. A líder parlamentar do RN assegurou,
contudo, que não é “contra a Europa”, antes “contra a UE”. Já Chrupalla
defendeu o “fim do eurocentrismo” e acusou a UE de ter a “política mais
perigosa” devido às "migrações" que “levantam problemas de segurança,
financeiros e orçamentais”. Ambos se posicionaram contra as "sanções"
aplicadas à Rússia.
Queda de Costa “boa” para Portugal e a Europa
Questionados
pelos jornalistas sobre como viram a crise política que levou à demissão do
primeiro-ministro, os protagonistas europeus foram mais cautelosos do que
Ventura. Le Pen (quando ainda há dois meses o Ministério Público francês
recomendou que fosse julgada por utilização indevida de fundos da UE)
limitou-se a defender que “os perigos” que pairam sobre os países europeus
“foram fabricados pelos nossos dirigentes e pela UE”. E Chrupalla voltou a
atacar a UE por ser um “prêt-a-porter [pronto-a-vestir] de eurocratas” e pelas
elevadas contribuições fiscais dos Estados-membros.
Já Ventura
aproveitou para voltar à carga contra o PS. Defendeu que a “queda do Governo de
António Costa no meio de um escândalo de corrupção, escândalo judicial, é boa,
não só para Portugal, mas para a Europa”, já que talvez assim não chegue à
presidência da Comissão Europeia. E insistiu na regulamentação do lobbying de
forma a "combater a política de bastidores e sombras que o processo
Influencer mostrou existir".
A conferência de
imprensa fez parte de um programa mais alargado que já contou com um jantar
esta quinta-feira e terminará com uma reunião esta sexta-feira com dirigentes e
eurodeputados dos partidos de extrema-direita de vários países europeus: França
(Reagrupamento Nacional), Alemanha (Alternativa para a Alemanha), Itália
(Liga), Bélgica (Interesse Flamengo), Estónia (Partido Popular Conservador da
Estónia), República Checa (Liberdade e Democracia Directa) e Áustria (Partido
da Liberdade da Áustria).
European far-right figures came to Portugal to
support Chega and campaign against the EU
André Ventura assured that Chega does not defend
Portugal's exit from the European Union, but called for a "reform" of
the policy of the 27, namely with regard to immigration.
Ana Bacelar
Begonha
24 November 2023,
17:55
"Be
patient, the time will come." It was in a joking tone that Marine Le Pen
responded this Friday in the Assembly of the Republic to a journalist who
questioned her about the difficulty of far-right parties in coming to power or,
even when they win elections, being able to govern. But leveraged by the recent
victories of Javier Milei in Argentina and Geert Wilders in the Netherlands, it
was precisely the idea that "the time has come" for nationalist
parties that the main figures of the French and German far right sought to
convey, together with the leader of Chega, at a press conference. With promises
of unity, the far-right European parties came to Lisbon to campaign for the
European Parliament elections with criticism of the European Union and to
support André Ventura's party for the next elections.
It is not
the first time that the former president and parliamentary leader of the
National Regroupment (RN), Marine Le Pen, comes to Portugal at the invitation
of Chega, having been present at the start of André Ventura's 2021 presidential
campaign. At the time, he was full of praise for the party and now he has
repeated the gesture, stating that the "success" of the party leader
is not the result of "chance", but a "reflected act" due to
the "failure of governments".
This time,
he was joined by the leader of the Alternative for Germany (AfD), Tino
Chrupalla, who, with the early parliamentary elections and the European
elections approaching, said not only did he hope that the party would become
part of the Identity and Democracy (ID) family in the European Parliament from
June – Le Pen even spoke of "impatience" to see Chega in Europe
-, as it supported the party for the
March 10 elections.
The leader
of Chega took advantage of the momentum to guarantee that "he will dispute
victory" in the upcoming elections and, using the current political
crisis, outlined as objectives to reform the justice system (which he says is
in "danger" due to the "permanent interference of the
socialists"), "control uncontrolled immigration" and create a
"Europe of European values".
At the end
of the conference, as part of an ID meeting, Ventura would associate this
alleged "uncontrolled immigration" with the war between Israel and
Hamas, taking the opportunity to once again side with Israel and argue that
"the level of civilizational conflict" in Europe is "a lot"
due to the "excess and lack of control of Islamic immigration to European
territory".
Right-wing majority and the fight against immigration
At a time
when there is already talk of a far-right union in the European elections, Le
Pen and Chrupalla have not opened the game. But they assured that the European
parties of the extreme right (or those that "defend the nation", as
they describe themselves) will continue to work together and put on the horizon
"to create a right-wing majority in the European Parliament", a
formation that includes the reformists and conservatives.
A scenario
that they wanted to show was possible given the growth of the radical right in
Europe (in particular, in the Netherlands, where this week the Party for
Freedom won the elections). "This is a meeting of winning parties that
want to change the face of Europe," said André Ventura, seconded by Le
Pen, who said that "the left has reached the end of its cycle and it is
time to give opportunity" to the far right.
The RN and
AfD deputies went further than Ventura in their criticism of the European Union
(EU), which forced him, questioned by journalists, to guarantee that "he
will not defend leaving the EU", but to replicate the idea that a
"reform" is necessary to give "more powers to governments"
and "less to Brussels bureaucrats",
to control "borders and migration" or to counter
"economic policies that are favoring China and other blocs more than the
Europeans."
Earlier, Le
Pen had argued that the EU "is becoming a caricature of itself" and
positioned herself against its four pillars: "deepening", which she
says is a "nice word" to take "substance away from
nations", "enlargement", the "migration pact" and the
"green deal". The parliamentary leader of the RN assured, however,
that she is not "against Europe", but "against the EU".
Chrupalla, on the other hand, defended the "end of Eurocentrism" and
accused the EU of having the "most dangerous policy" due to
"migrations" that "raise security, financial and budgetary
problems". Both took a stand against the "sanctions" applied to
Russia.
Fall of Costa "good" for Portugal and Europe
Asked by
journalists how they saw the political crisis that led to the resignation of
the prime minister, the European protagonists were more cautious than Ventura.
Le Pen (when only two months ago the French Public Prosecutor's Office
recommended that she be tried for misuse of EU funds) limited herself to
arguing that "the dangers" hanging over European countries "have
been manufactured by our leaders and by the EU". And Chrupalla again
attacked the EU for being a "ready-to-wear Eurocrats" and for the
high tax contributions of member states.
Ventura, on
the other hand, took the opportunity to return to the charge against the PS. He
argued that the "fall of António Costa's government in the middle of a
corruption scandal, a judicial scandal, is good, not only for Portugal, but for
Europe", since he may not reach the presidency of the European Commission.
And he insisted on the regulation of lobbying in order to "combat the
behind-the-scenes and shadow politics that the Influencer process has shown to
exist".
The press
conference was part of a broader programme that already included a dinner this
Thursday and will end with a meeting this Friday with leaders and MEPs of the
far-right parties of several European countries: France (National Rally),
Germany (Alternative for Germany), Italy (League), Belgium (Flemish Interest),
Estonia (Estonian Conservative People's Party),
Czech Republic (Freedom and Direct Democracy) and Austria (Austrian
Freedom Party).
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