sexta-feira, 1 de dezembro de 2023

24 de Novembro de 2023: Figuras da extrema-direita europeia vieram a Portugal apoiar o Chega e fazer campanha anti-UE / European far-right figures came to Portugal to support Chega and campaign against the EU

 



Figuras da extrema-direita europeia vieram a Portugal apoiar o Chega e fazer campanha anti-UE

 

André Ventura garantiu que o Chega não defende a saída de Portugal da União Europeia, mas pediu uma “reforma” da política dos 27, nomeadamente no que toca à imigração.

 

Ana Bacelar Begonha

24 de Novembro de 2023, 17:55

https://www.publico.pt/2023/11/24/politica/noticia/figuras-extremadireita-europeia-vieram-apoiar-chega-campanha-antiue-2071398

 

"Seja paciente, chegará" o tempo. Foi em tom de brincadeira que Marine Le Pen respondeu esta sexta-feira na Assembleia da República a uma jornalista que a questionou sobre a dificuldade dos partidos de extrema-direita em chegarem ao poder ou, mesmo quando ganham eleições, conseguirem governar. Mas alavancados pelas recentes vitórias de Javier Milei na Argentina e de Geert Wilders nos Países Baixos, foi precisamente a ideia de que "chegou o tempo" dos partidos nacionalistas que as principais figuras da extrema-direita francesa e alemã procuraram passar, junto ao líder do Chega, numa conferência de imprensa. Com promessas de unidade, os partidos europeus de extrema-direita vieram a Lisboa fazer campanha às eleições para o Parlamento Europeu com críticas à União Europeia e apoiar o partido de André Ventura para os próximos actos eleitorais.

 

Não é a primeira vez que a ex-presidente e líder parlamentar do Reagrupamento Nacional (RN), Marine Le Pen, vem a Portugal a convite do Chega, tendo estado presente no arranque da campanha às presidenciais de 2021 de André Ventura. Na altura, desfez-se em elogios ao partido e, agora, repetiu o gesto, afirmando que o "sucesso" do líder partidário não é fruto do "acaso", mas um "acto reflectido" devido ao "fracasso dos governos".

 

Desta vez, teve a companhia do líder da Alternativa para a Alemanha (AfD), Tino Chrupalla, que, com as eleições legislativas antecipadas e as eleições europeias a aproximarem-se, disse não só esperar que o partido venha a fazer parte da família do Identidade e Democracia (ID) no Parlamento Europeu a partir de Junho — Le Pen falou mesmo em "impaciência" para ver o Chega na Europa —, como apoiou o partido para as eleições de 10 de Março.

 

O líder do Chega aproveitou o embalo para garantir que “vai disputar a vitória” nas eleições vindouras e, usando a actual crise política, traçou como objectivos fazer uma reforma da justiça (que diz estar em “perigo” devido à “interferência permanente dos socialistas”), “controlar a imigração descontrolada” e criar uma “Europa de valores europeus”.

 

 

Já no fim da conferência, integrada num encontro do ID, Ventura havia de associar essa alegada "imigração descontrolada" à guerra entre Israel e o Hamas, aproveitando para se colocar novamente do lado de Israel e defender que "o nível de conflito civilizacional" da Europa deve-se "muito" ao "excesso e descontrolo da imigração islâmica para o território europeu".

 

Maioria de direita e combate à imigração

Numa altura em que já há conversas sobre uma união da extrema-direita nas europeias, Le Pen e Chrupalla não abriram o jogo. Mas garantiram que os partidos europeus da extrema-direita (ou que "defendem a nação", como se autodescrevem) vão continuar a trabalhar de forma conjunta e colocaram no horizonte "criar uma maioria de direita no Parlamento Europeu", formação onde se incluem os reformistas e conservadores.

 

Um cenário que quiseram mostrar ser possível tendo em conta o crescimento da direita radical na Europa (em particular, nos Países Baixos, onde esta semana o Partido pela Liberdade ganhou as eleições). "Este é um encontro de partidos vencedores que querem mudar a face da Europa", resumiu André Ventura, secundado por Le Pen, que afirmou que "a esquerda chegou ao fim de ciclo e é tempo de dar oportunidade" à extrema-direita.

 

Os deputados do RN e da AfD foram mais longe do que Ventura nas críticas à União Europeia (UE), o que o forçou, questionado pelos jornalistas, a garantir que “não defenderá a saída da UE”, mas a replicar a ideia de que é necessária uma “reforma” para dar “mais poderes aos governos” e “menos aos burocratas de Bruxelas”, para controlar as “fronteiras e as migrações” ou contrariar as “políticas económicas que estão a favorecer mais a China e outros blocos do que os europeus”.

 

Antes, Le Pen havia defendido que a UE “está a tornar-se uma caricatura de si própria” e posicionou-se contra os seus quatro pilares: o “aprofundamento”, que diz ser uma “palavra bonita” para tirar “substância às nações”, o “alargamento”, o “pacto das migrações” e o “pacto verde”. A líder parlamentar do RN assegurou, contudo, que não é “contra a Europa”, antes “contra a UE”. Já Chrupalla defendeu o “fim do eurocentrismo” e acusou a UE de ter a “política mais perigosa” devido às "migrações" que “levantam problemas de segurança, financeiros e orçamentais”. Ambos se posicionaram contra as "sanções" aplicadas à Rússia.

 

Queda de Costa “boa” para Portugal e a Europa

Questionados pelos jornalistas sobre como viram a crise política que levou à demissão do primeiro-ministro, os protagonistas europeus foram mais cautelosos do que Ventura. Le Pen (quando ainda há dois meses o Ministério Público francês recomendou que fosse julgada por utilização indevida de fundos da UE) limitou-se a defender que “os perigos” que pairam sobre os países europeus “foram fabricados pelos nossos dirigentes e pela UE”. E Chrupalla voltou a atacar a UE por ser um “prêt-a-porter [pronto-a-vestir] de eurocratas” e pelas elevadas contribuições fiscais dos Estados-membros.

 

Já Ventura aproveitou para voltar à carga contra o PS. Defendeu que a “queda do Governo de António Costa no meio de um escândalo de corrupção, escândalo judicial, é boa, não só para Portugal, mas para a Europa”, já que talvez assim não chegue à presidência da Comissão Europeia. E insistiu na regulamentação do lobbying de forma a "combater a política de bastidores e sombras que o processo Influencer mostrou existir".

 

A conferência de imprensa fez parte de um programa mais alargado que já contou com um jantar esta quinta-feira e terminará com uma reunião esta sexta-feira com dirigentes e eurodeputados dos partidos de extrema-direita de vários países europeus: França (Reagrupamento Nacional), Alemanha (Alternativa para a Alemanha), Itália (Liga), Bélgica (Interesse Flamengo), Estónia (Partido Popular Conservador da Estónia), República Checa (​​Liberdade e Democracia Directa) e Áustria (Partido da Liberdade da Áustria).


European far-right figures came to Portugal to support Chega and campaign against the EU

 

André Ventura assured that Chega does not defend Portugal's exit from the European Union, but called for a "reform" of the policy of the 27, namely with regard to immigration.

 

Ana Bacelar Begonha

24 November 2023, 17:55

https://www.publico.pt/2023/11/24/politica/noticia/figuras-extremadireita-europeia-vieram-apoiar-chega-campanha-antiue-2071398

 

"Be patient, the time will come." It was in a joking tone that Marine Le Pen responded this Friday in the Assembly of the Republic to a journalist who questioned her about the difficulty of far-right parties in coming to power or, even when they win elections, being able to govern. But leveraged by the recent victories of Javier Milei in Argentina and Geert Wilders in the Netherlands, it was precisely the idea that "the time has come" for nationalist parties that the main figures of the French and German far right sought to convey, together with the leader of Chega, at a press conference. With promises of unity, the far-right European parties came to Lisbon to campaign for the European Parliament elections with criticism of the European Union and to support André Ventura's party for the next elections.

 

It is not the first time that the former president and parliamentary leader of the National Regroupment (RN), Marine Le Pen, comes to Portugal at the invitation of Chega, having been present at the start of André Ventura's 2021 presidential campaign. At the time, he was full of praise for the party and now he has repeated the gesture, stating that the "success" of the party leader is not the result of "chance", but a "reflected act" due to the "failure of governments".

 

This time, he was joined by the leader of the Alternative for Germany (AfD), Tino Chrupalla, who, with the early parliamentary elections and the European elections approaching, said not only did he hope that the party would become part of the Identity and Democracy (ID) family in the European Parliament from June – Le Pen even spoke of "impatience" to see Chega in Europe -,  as it supported the party for the March 10 elections.

 

The leader of Chega took advantage of the momentum to guarantee that "he will dispute victory" in the upcoming elections and, using the current political crisis, outlined as objectives to reform the justice system (which he says is in "danger" due to the "permanent interference of the socialists"), "control uncontrolled immigration" and create a "Europe of European values".

 

 

At the end of the conference, as part of an ID meeting, Ventura would associate this alleged "uncontrolled immigration" with the war between Israel and Hamas, taking the opportunity to once again side with Israel and argue that "the level of civilizational conflict" in Europe is "a lot" due to the "excess and lack of control of Islamic immigration to European territory".

 

Right-wing majority and the fight against immigration

At a time when there is already talk of a far-right union in the European elections, Le Pen and Chrupalla have not opened the game. But they assured that the European parties of the extreme right (or those that "defend the nation", as they describe themselves) will continue to work together and put on the horizon "to create a right-wing majority in the European Parliament", a formation that includes the reformists and conservatives.

 

A scenario that they wanted to show was possible given the growth of the radical right in Europe (in particular, in the Netherlands, where this week the Party for Freedom won the elections). "This is a meeting of winning parties that want to change the face of Europe," said André Ventura, seconded by Le Pen, who said that "the left has reached the end of its cycle and it is time to give opportunity" to the far right.

 

The RN and AfD deputies went further than Ventura in their criticism of the European Union (EU), which forced him, questioned by journalists, to guarantee that "he will not defend leaving the EU", but to replicate the idea that a "reform" is necessary to give "more powers to governments" and "less to Brussels bureaucrats",  to control "borders and migration" or to counter "economic policies that are favoring China and other blocs more than the Europeans."

 

Earlier, Le Pen had argued that the EU "is becoming a caricature of itself" and positioned herself against its four pillars: "deepening", which she says is a "nice word" to take "substance away from nations", "enlargement", the "migration pact" and the "green deal". The parliamentary leader of the RN assured, however, that she is not "against Europe", but "against the EU". Chrupalla, on the other hand, defended the "end of Eurocentrism" and accused the EU of having the "most dangerous policy" due to "migrations" that "raise security, financial and budgetary problems". Both took a stand against the "sanctions" applied to Russia.

 

Fall of Costa "good" for Portugal and Europe

Asked by journalists how they saw the political crisis that led to the resignation of the prime minister, the European protagonists were more cautious than Ventura. Le Pen (when only two months ago the French Public Prosecutor's Office recommended that she be tried for misuse of EU funds) limited herself to arguing that "the dangers" hanging over European countries "have been manufactured by our leaders and by the EU". And Chrupalla again attacked the EU for being a "ready-to-wear Eurocrats" and for the high tax contributions of member states.

 

Ventura, on the other hand, took the opportunity to return to the charge against the PS. He argued that the "fall of António Costa's government in the middle of a corruption scandal, a judicial scandal, is good, not only for Portugal, but for Europe", since he may not reach the presidency of the European Commission. And he insisted on the regulation of lobbying in order to "combat the behind-the-scenes and shadow politics that the Influencer process has shown to exist".

 

The press conference was part of a broader programme that already included a dinner this Thursday and will end with a meeting this Friday with leaders and MEPs of the far-right parties of several European countries: France (National Rally), Germany (Alternative for Germany), Italy (League), Belgium (Flemish Interest), Estonia (Estonian Conservative People's Party),  Czech Republic (Freedom and Direct Democracy) and Austria (Austrian Freedom Party).


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