domingo, 31 de dezembro de 2023

RELEMBRANDO o Ramiro Leão - Benetton: Sempre a destruir desde 2001 / A destruição continua ... Ramiro Leão alienado Por António Sérgio Rosa de Carvalho. Terça feira 11/12/2001 in Público




Paulo Ferrero : Acresce que, como se constata no local, a obra ficou "magnífica": as colunas foram retiradas do seu local de origem, o elevador também, como se fossem bibelots - recordo, a este propósito, que já aquando da instalação da Benetton naquele edifício, tentaram fazer isso, mas foram impedidos pelo IPPAR. Agora, com a dita "comissão técnica de apreciação", as coisas tornaram-se muito mais facilitadas, é verdade. As pinturas não foram recuperadas, é pura mentira, foram apenas postas a descoberto outras pinturas que não o estavam. E pronto, next.
18 de Maio 2017 / Facebook / 10.15




A destruição continua ... Ramiro Leão alienado
Por António Sérgio Rosa de Carvalho. Terça feira 11/12/2001 in Público

Quando somos confrontados com a concretização daquilo que mais receamos, somos lançados num momento de suspensão. Pairamos no horror de uma confirmação daquilo que já intuitivamente conhecíamos no imaginário dos nossos receios. Entorpecidos pela brutalidade do choque, só o nosso sentimento de impotência indignada dá a ele uma resposta trémula.Os andaimes da Ramiro Leão acabam de ser desmontados. Com ansiedade descobrimos, ao "lermos" a fachada, que as janelas que, na última recente recuperação, tinham sido tratadas de forma tradicional e correcta, foram "depuradas". No lugar do discurso do contraste de luz e de sombra, das pausas e dos ritmos do diálogo das janelas originais com a fachada, temos agora a ausência híbrida das superfícies únicas de vidro que cobrem os vãos por inteiro. Os nossos olhos, ao procurarem, através das notáveis janelas do primeiro andar, os famosos tectos, não os encontram. Ao baixarmos os olhos, procurando desesperadamente as duas tabuletas que emolduravam a porta com o nome do estabelecimento, já as não encontramos. Entontecidos pelo choque, procuramos alguém que nos informe do pior, que já receamos... e sim... a escadaria foi totalmente destruída ....o famoso elevador foi desmontado e enviado para um museu... Ainda nos informam que o tecto do andar térreo vai ser mantido, mas entretanto já partimos, no frenesim da indignação.Tem-se ultimamente falado muito da recuperação da Baixa e do seu repovoamento. As associações de dinamização surgem todos dias com novas estratégias, com uma tendência competitiva com as dinâmicas dos centros comerciais.A Baixa é detentora de uma característica única, de uma mais-valia inimitável, que constitui precisamente a diferença que o turismo cultural e com poder de compra procura em sítios como a Burlington Arcade , a St. James Street e a Jeremyn Street londrinas. Esse carácter único e europeu, numa Europa cada vez mais descaracterizada, é-lhe garantido pela qualidade única dos interiores da suas lojas tradicionais que ainda resistiram à destruição.Visitemos agora a Confeitaria Nacional, na Praça da Figueira, exemplarmente restaurada há pouco tempo. Ao olharmos para a sua fachada, que todos os visitantes estrangeiros admiram, somos imediatamente levados a entrar. E sim, aqui as expectativas são respondidas. Notáveis tectos. Ritmos de distribuição interiores e mobiliário original ainda presentes. Uma Fénix renascida.O que vai acontecer aos interiores de estabelecimentos como a Tabacaria Mónaco, no Rossio? A deliciosa luvaria Ulisses? (esta vizinha de um outro desastre - a destruição total do interior original pelo estabelecimento de Ana Salazar, deixando a notável fachada intacta por cruel masoquismo). Etc, etc.Antes de "dinamizarmos", teremos de analisar com critério histórico, de classificar os interiores, a fim de impedirmos esta destruição criminosa.Sempre achei que o Ramiro Leão, com a sua linguagem sofisticada de resíduos parisienses "Haussman", com todas as características de pequena "maison de couture" - que tinha sobrevivido milagrosamente a aventuras menos dignas, determinadas por vivências quase suburbanas impostas pelos armazéns do Conde Barão - merecia outro destino. Num momento em que na Europa todas as capitais se empenham em fazer renascer o fenómeno do Grand Café, esta teria sido uma função admirável e de sucesso, com preservação total do interior. Isto iria confirmar a vocação cosmopolita deste canto do Chiado (já confirmada pelo sucesso do Café no Chiado) e equilibrar a "âncora" turística, obrigando a Brasileira a melhorar a qualidade humana do seu serviço (com um nível abaixo de leitaria) e assim justificar os seus preços (ao nível de brasserie parisiense) Para terminar uma sugestão. O Rossio, depois do desaparecimento de todos os cafés históricos, à excepção do Nicola - que foi alvo de uma notável e correcta recuperação -, e agora depois do seu renascimento como "fórum", precisa de um novo Grand Café . Ele ainda lá está , apesar de esquecido, no seu espaço base. O Café Portugal, que constituiu a "alternativa" modernista ao espírito dos anos 40 (duas faces da mesma moeda), representado pelo notável "Leão de Ouro" , agora muito procurado por turistas. É perfeitamente possível reconstituir na integra o Café Portugal no seu espírito original, com quinas sobre fundo modernista e tudo. Se duvidam visitem o notável hotel de "charme" Britania, na Rodrigues Sampaio, onde proprietários atentos e historicamente rigorosos chegaram ao ponto de construir a porta principal, projectada originalmente por Cassiano Branco, mas nunca executada.É preciso reaportuguesar Portugal!

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