quinta-feira, 27 de abril de 2023

Vencedor das eleições da Finlândia chama extrema-direita para negociar / Finland's election winner calls far-right to negotiate

 


FINLÂNDIA

Vencedor das eleições da Finlândia chama extrema-direita para negociar

 

Petteri Orpo vai tentar formar governo com mais três partidos e esperam-se negociações difíceis sobre imigração e acção climática. Finlândia acompanha a viragem à direita da vizinha Suécia.

 

João Pedro Pincha

27 de Abril de 2023, 17:48

https://www.publico.pt/2023/04/27/mundo/noticia/vencedor-eleicoes-finlandia-chama-extremadireita-negociar-2047671

 

O líder do partido de centro-direita Coligação Nacional e vencedor das legislativas da Finlândia vai começar na próxima semana as negociações com vista à formação de um novo governo com o Partido dos Finlandeses, de extrema-direita, que obteve o segundo lugar nas eleições, e com dois partidos mais pequenos.

 

As conversas arrancam na terça-feira, exactamente um mês depois de a Coligação Nacional, de Petteri Orpo, ter derrotado o Partido Social Democrata, de Sanna Marin, até agora primeira-ministra, que já formalizou a sua demissão.

 

“Claro que há diferenças entre os partidos, mas depois das negociações [preliminares] sentimos colectivamente que as questões podem ser resolvidas”, disse Orpo esta quinta-feira numa conferência de imprensa, citado pela AFP. “Temos grandes desafios pela frente, temos de tomar decisões difíceis, temos de poupar e fazer reformas, mas penso que elas se poderão fazer com esta combinação [de partidos]”, acrescentou, segundo a Reuters.

 

Com 48 deputados no Parlamento, a Coligação Nacional passou a ser maior força política finlandesa, seguida pelo Partido dos Finlandeses, com 46, e pelos sociais-democratas, com 43. Petteri Orpo vai negociar ainda com o Partido do Povo Sueco, que integrou a coligação de governo de Sanna Marin, e que obteve dez lugares nas legislativas de 2 de Abril. Os Democratas Cristãos, com cinco deputados, também se vão sentar à mesa com Orpo – que, a ser bem-sucedido nas negociações, conseguiria com estas três forças a maioria na assembleia, que tem 200 deputados no total.

 

É expectável que antes de Junho não haja novidades sobre a formação nem sobre o programa do Governo e os próprios líderes partidários envolvidos não antevêem negociações fáceis.

 

Depois de uma campanha quase exclusivamente centrada em assuntos internos, como o grande aumento da dívida pública nos últimos dois anos a gerar consenso à direita sobre a necessidade de fazer cortes na despesa, a imigração pode ser o grande engulho nas conversas entre Orpo e Riikka Purra, líder do Partido dos Finlandeses.

 

Purra, que chefia esta força política há dois anos e tem tentado descolar-lhe o rótulo de extrema-direita, disse há umas semanas à televisão pública Yle que não estava disposta a integrar ou apoiar um governo que não restringisse a imigração na Finlândia. “A imigração para os sectores mal pagos tem de ter um controlo mais rigoroso. O Partido dos Finlandeses acredita que não há problema em vir para o país viver e trabalhar, desde que a pessoa se sustente com o seu salário”, afirmou Purra.

 

Já a Coligação Nacional e o Partido do Povo Sueco tinham nos seus programas eleitorais a intenção de fazer aumentar a imigração para contrariar o envelhecimento da população e a falta de trabalhadores em certos sectores.

 

Também no campo da acção climática há divergências. A Finlândia comprometeu-se a atingir a neutralidade carbónica até 2035, uma meta que Petteri Orpo diz querer respeitar, mas Riikka Purra quer adiar para 2050. A líder da extrema-direita admitiu esta quinta-feira que há “grandes desacordos” entre os partidos que agora vão conversar, “mas não há nada que não se possa negociar”.

 

Se esta ronda de contactos falhar, Petteri Orpo pode ainda tentar chegar a entendimento com outras forças políticas.

 

Semelhanças suecas

O Partido dos Finlandeses já integrou um governo em 2015, que era liderado pelo Partido do Centro (liberal) e do qual a Coligação Nacional também fazia parte. Ambas as forças caíram nas eleições de 2019 e foi a formação nacionalista a crescer, ficando a duas décimas dos sociais-democratas. Desta vez obteve o seu melhor resultado eleitoral de sempre, 20,1%, e ficou a sete décimas do primeiro lugar.

 

“Embora a Finlândia já estivesse entre os mais conservadores dos países nórdicos, com esta eleição a política finlandesa teve uma enorme viragem à direita”, analisa Kristina Birke Daniels, no site da Fundação Friedrich Ebert, sublinhando que “a população finlandesa tem muito medo de um declínio económico” e que a actual conjuntura levou muitos eleitores a questionar “se o modelo de Estado social finlandês se vai manter sustentável”.

 

Se se confirmar que o Partido dos Finlandeses integra o próximo governo, a Finlândia dá mais um passo semelhante ao da vizinha Suécia, em que também o centro-esquerda saiu derrotado das eleições de Setembro, também uma mulher deixou a liderança do executivo e também a extrema-direita passou a ser indispensável (embora não integre formalmente o Governo).

 

Com a vizinhança da Rússia e a guerra da Ucrânia a levarem ambos os países a bater à porta da NATO, Kristina Birke Daniels dá a entender que a adesão finlandesa antes das eleições (confirmada dois dias depois) pode ter custado o cargo a Sanna Marin. “As eleições ganham-se com promessas para o futuro e a vontade de mudar as coisas. Embora a segurança estivesse entre as dez prioridades da população, o feito de Sanna Marin neste aspecto era já um fait accompli.”


FINLAND

Finland's election winner calls far-right to negotiate

 

Petteri Orpo will try to form a government with three more parties and tough negotiations on immigration and climate action are expected. Finland follows the right turn of neighboring Sweden.

 

John Peter Pincha

April 27, 2023, 17: 48

https://www.publico.pt/2023/04/27/mundo/noticia/vencedor-eleicoes-finlandia-chama-extremadireita-negociar-2047671

 

The leader of the centre-right National Coalition party and winner of Finland's legislature will begin negotiations next week to form a new government with the far-right Finns Party, which won second place in the elections, and two smaller parties.

 

The talks kick off on Tuesday, exactly one month after Petteri Orpo's National Coalition defeated the Social Democratic Party of Sanna Marin, until now prime minister, who has already formalized her resignation.

 

"Of course there are differences between the parties, but after the [preliminary] negotiations we collectively feel that the issues can be resolved," Orpo told a news conference on Thursday. "We have big challenges ahead, we have to make difficult decisions, we have to save and make reforms, but I think they can be done with this combination [of parties]," he added, according to Reuters.

 

With 48 members of parliament, the National Coalition became the largest Finnish political force, followed by the Finns Party with 46 and the Social Democrats with 43. Petteri Orpo will also negotiate with the Swedish People's Party, which was part of Sanna Marin's governing coalition, and which won ten seats in the April 2 legislative elections. The Christian Democrats, with five MPs, will also sit at the table with Orpo – who, if successful in the negotiations, would win a majority in the assembly, which has 200 MPs in total, with these three forces.

 

It is expected that before June there will be no news about the formation or the program of the Government and the party leaders themselves involved do not foresee easy negotiations.

 

After a campaign almost exclusively focused on domestic affairs, such as the large increase in public debt over the past two years generating consensus on the right on the need to make spending cuts, immigration may be the big stumbling block in talks between Orpo and Riikka Purra, leader of the Finns Party.

 

Purra, who has led this political force for two years and has been trying to take off the far-right label, told public television Yle a few weeks ago that she was not willing to join or support a government that would not restrict immigration in Finland. "Immigration to the low-paid sectors needs to be tightened. The Finns Party believes that it is okay to come to the country to live and work as long as the person supports himself with his salary," Purra said.

 

The National Coalition and the Swedish People's Party, on the other hand, had in their electoral programmes the intention of increasing immigration in order to counter the ageing of the population and the lack of workers in certain sectors.

 

There are also differences in the field of climate action. Finland has pledged to achieve carbon neutrality by 2035, a goal Petteri Orpo says he wants to respect, but Riikka Purra wants to postpone it until 2050. The far-right leader admitted on Thursday that there are "big disagreements" between the parties that will now talk, "but there is nothing that cannot be negotiated."

 

If this round of contacts fails, Petteri Orpo may still try to reach an understanding with other political forces.

 

Swedish similarities

The Finns Party was already part of a government in 2015, which was led by the Centre Party (liberal) and of which the National Coalition was also a part. Both forces fell in the 2019 elections and it was the nationalist formation that grew, coming within two-tenths of the Social Democrats. This time he got his best election result ever, 20.1%, and was seven tenths of the first place.

 

"Although Finland was already among the most conservative of the Nordic countries, with this election Finnish politics had a huge turn to the right," says Kristina Birke Daniels on the website of the Friedrich Ebert Foundation, stressing that "the Finnish population is very afraid of an economic decline" and that the current situation has led many voters to question "whether the Finnish welfare state model will remain sustainable."

 

If it is confirmed that the Finns Party is part of the next government, Finland will take another step similar to that of neighbouring Sweden, in which the centre-left was also defeated in the September elections, a woman also left the leadership of the executive and also the far right became indispensable (although not formally part of the government).

 

With Russia's neighbourhood and the Ukraine war leading both countries to knock on NATO's door, Kristina Birke Daniels hints that Finnish membership before the elections (confirmed two days later) may have cost Sanna Marin her job. "Elections are won with promises for the future and the will to change things. Although safety was among the ten priorities of the population, Sanna Marin's achievement in this regard was already a fait accompli."


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