FINLÂNDIA
Vencedor das eleições da Finlândia chama extrema-direita
para negociar
Petteri Orpo vai tentar formar governo com mais três
partidos e esperam-se negociações difíceis sobre imigração e acção climática.
Finlândia acompanha a viragem à direita da vizinha Suécia.
João Pedro Pincha
27 de Abril de
2023, 17:48
O líder do
partido de centro-direita Coligação Nacional e vencedor das legislativas da
Finlândia vai começar na próxima semana as negociações com vista à formação de
um novo governo com o Partido dos Finlandeses, de extrema-direita, que obteve o
segundo lugar nas eleições, e com dois partidos mais pequenos.
As conversas
arrancam na terça-feira, exactamente um mês depois de a Coligação Nacional, de
Petteri Orpo, ter derrotado o Partido Social Democrata, de Sanna Marin, até
agora primeira-ministra, que já formalizou a sua demissão.
“Claro que há
diferenças entre os partidos, mas depois das negociações [preliminares]
sentimos colectivamente que as questões podem ser resolvidas”, disse Orpo esta
quinta-feira numa conferência de imprensa, citado pela AFP. “Temos grandes
desafios pela frente, temos de tomar decisões difíceis, temos de poupar e fazer
reformas, mas penso que elas se poderão fazer com esta combinação [de
partidos]”, acrescentou, segundo a Reuters.
Com 48 deputados
no Parlamento, a Coligação Nacional passou a ser maior força política
finlandesa, seguida pelo Partido dos Finlandeses, com 46, e pelos
sociais-democratas, com 43. Petteri Orpo vai negociar ainda com o Partido do
Povo Sueco, que integrou a coligação de governo de Sanna Marin, e que obteve
dez lugares nas legislativas de 2 de Abril. Os Democratas Cristãos, com cinco
deputados, também se vão sentar à mesa com Orpo – que, a ser bem-sucedido nas negociações,
conseguiria com estas três forças a maioria na assembleia, que tem 200
deputados no total.
É expectável que
antes de Junho não haja novidades sobre a formação nem sobre o programa do
Governo e os próprios líderes partidários envolvidos não antevêem negociações
fáceis.
Depois de uma
campanha quase exclusivamente centrada em assuntos internos, como o grande
aumento da dívida pública nos últimos dois anos a gerar consenso à direita
sobre a necessidade de fazer cortes na despesa, a imigração pode ser o grande
engulho nas conversas entre Orpo e Riikka Purra, líder do Partido dos
Finlandeses.
Purra, que chefia
esta força política há dois anos e tem tentado descolar-lhe o rótulo de
extrema-direita, disse há umas semanas à televisão pública Yle que não estava
disposta a integrar ou apoiar um governo que não restringisse a imigração na
Finlândia. “A imigração para os sectores mal pagos tem de ter um controlo mais
rigoroso. O Partido dos Finlandeses acredita que não há problema em vir para o
país viver e trabalhar, desde que a pessoa se sustente com o seu salário”,
afirmou Purra.
Já a Coligação
Nacional e o Partido do Povo Sueco tinham nos seus programas eleitorais a
intenção de fazer aumentar a imigração para contrariar o envelhecimento da
população e a falta de trabalhadores em certos sectores.
Também no campo
da acção climática há divergências. A Finlândia comprometeu-se a atingir a
neutralidade carbónica até 2035, uma meta que Petteri Orpo diz querer
respeitar, mas Riikka Purra quer adiar para 2050. A líder da extrema-direita
admitiu esta quinta-feira que há “grandes desacordos” entre os partidos que agora
vão conversar, “mas não há nada que não se possa negociar”.
Se esta ronda de
contactos falhar, Petteri Orpo pode ainda tentar chegar a entendimento com
outras forças políticas.
Semelhanças suecas
O Partido dos
Finlandeses já integrou um governo em 2015, que era liderado pelo Partido do
Centro (liberal) e do qual a Coligação Nacional também fazia parte. Ambas as
forças caíram nas eleições de 2019 e foi a formação nacionalista a crescer,
ficando a duas décimas dos sociais-democratas. Desta vez obteve o seu melhor
resultado eleitoral de sempre, 20,1%, e ficou a sete décimas do primeiro lugar.
“Embora a
Finlândia já estivesse entre os mais conservadores dos países nórdicos, com
esta eleição a política finlandesa teve uma enorme viragem à direita”, analisa
Kristina Birke Daniels, no site da Fundação Friedrich Ebert, sublinhando que “a
população finlandesa tem muito medo de um declínio económico” e que a actual
conjuntura levou muitos eleitores a questionar “se o modelo de Estado social
finlandês se vai manter sustentável”.
Se se confirmar
que o Partido dos Finlandeses integra o próximo governo, a Finlândia dá mais um
passo semelhante ao da vizinha Suécia, em que também o centro-esquerda saiu
derrotado das eleições de Setembro, também uma mulher deixou a liderança do
executivo e também a extrema-direita passou a ser indispensável (embora não
integre formalmente o Governo).
Com a vizinhança
da Rússia e a guerra da Ucrânia a levarem ambos os países a bater à porta da
NATO, Kristina Birke Daniels dá a entender que a adesão finlandesa antes das
eleições (confirmada dois dias depois) pode ter custado o cargo a Sanna Marin.
“As eleições ganham-se com promessas para o futuro e a vontade de mudar as
coisas. Embora a segurança estivesse entre as dez prioridades da população, o
feito de Sanna Marin neste aspecto era já um fait accompli.”
FINLAND
Finland's
election winner calls far-right to negotiate
Petteri Orpo will try to form a government with three
more parties and tough negotiations on immigration and climate action are
expected. Finland follows the right turn of neighboring Sweden.
John Peter Pincha
April 27, 2023,
17: 48
The leader of the
centre-right National Coalition party and winner of Finland's legislature will
begin negotiations next week to form a new government with the far-right Finns
Party, which won second place in the elections, and two smaller parties.
The talks kick
off on Tuesday, exactly one month after Petteri Orpo's National Coalition
defeated the Social Democratic Party of Sanna Marin, until now prime minister,
who has already formalized her resignation.
"Of course
there are differences between the parties, but after the [preliminary]
negotiations we collectively feel that the issues can be resolved," Orpo
told a news conference on Thursday. "We have big challenges ahead, we have
to make difficult decisions, we have to save and make reforms, but I think they
can be done with this combination [of parties]," he added, according to
Reuters.
With 48 members
of parliament, the National Coalition became the largest Finnish political
force, followed by the Finns Party with 46 and the Social Democrats with 43. Petteri
Orpo will also negotiate with the Swedish People's Party, which was part of
Sanna Marin's governing coalition, and which won ten seats in the April 2
legislative elections. The Christian Democrats, with five MPs, will also sit at
the table with Orpo – who, if successful in the negotiations, would win a
majority in the assembly, which has 200 MPs in total, with these three forces.
It is expected
that before June there will be no news about the formation or the program of
the Government and the party leaders themselves involved do not foresee easy
negotiations.
After a campaign
almost exclusively focused on domestic affairs, such as the large increase in
public debt over the past two years generating consensus on the right on the
need to make spending cuts, immigration may be the big stumbling block in talks
between Orpo and Riikka Purra, leader of the Finns Party.
Purra, who has
led this political force for two years and has been trying to take off the
far-right label, told public television Yle a few weeks ago that she was not
willing to join or support a government that would not restrict immigration in
Finland. "Immigration to the low-paid sectors needs to be tightened. The
Finns Party believes that it is okay to come to the country to live and work as
long as the person supports himself with his salary," Purra said.
The National
Coalition and the Swedish People's Party, on the other hand, had in their
electoral programmes the intention of increasing immigration in order to
counter the ageing of the population and the lack of workers in certain
sectors.
There are also
differences in the field of climate action. Finland has pledged to achieve
carbon neutrality by 2035, a goal Petteri Orpo says he wants to respect, but
Riikka Purra wants to postpone it until 2050. The far-right leader admitted on
Thursday that there are "big disagreements" between the parties that
will now talk, "but there is nothing that cannot be negotiated."
If this round of
contacts fails, Petteri Orpo may still try to reach an understanding with other
political forces.
Swedish similarities
The Finns Party
was already part of a government in 2015, which was led by the Centre Party
(liberal) and of which the National Coalition was also a part. Both forces fell
in the 2019 elections and it was the nationalist formation that grew, coming
within two-tenths of the Social Democrats. This time he got his best election
result ever, 20.1%, and was seven tenths of the first place.
"Although
Finland was already among the most conservative of the Nordic countries, with
this election Finnish politics had a huge turn to the right," says
Kristina Birke Daniels on the website of the Friedrich Ebert Foundation,
stressing that "the Finnish population is very afraid of an economic
decline" and that the current situation has led many voters to question
"whether the Finnish welfare state model will remain sustainable."
If it is
confirmed that the Finns Party is part of the next government, Finland will
take another step similar to that of neighbouring Sweden, in which the
centre-left was also defeated in the September elections, a woman also left the
leadership of the executive and also the far right became indispensable
(although not formally part of the government).
With Russia's
neighbourhood and the Ukraine war leading both countries to knock on NATO's
door, Kristina Birke Daniels hints that Finnish membership before the elections
(confirmed two days later) may have cost Sanna Marin her job. "Elections
are won with promises for the future and the will to change things. Although
safety was among the ten priorities of the population, Sanna Marin's
achievement in this regard was already a fait accompli."
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