OPINIÃO
A definitiva viagem da TAP
Nacionalize-se a TAP, mas impondo ao Estado Português as
mesmas exigências ambientais na sua gestão na linha do Green Deal!
António Sérgio Rosa de Carvalho
5 de Maio de
2020, 16:45
Kate Raworth, a
autora da Economia Donut (Doughnut Economics, Creating a 21st century economy),
ou seja, uma Economia Circular em lugar de Linear, que mantém a ideia do
crescimento dentro dos limites do permitido ecologicamente e aceitável na nossa
coabitação com a Natureza, compara o conceito do crescimento ilimitado a um
avião, em cujos passageiros se encontram prisioneiros de uma linha ascendente
imparável. Avião esse que nunca poderá voltar a aterrar.
O corona
obrigou-nos repentinamente a uma ‘aterragem forçada’, interrompendo
abruptamente o transe orgiástico do festim consumista, libertando-nos, num
processo doloroso e dramático.
Assim, o
“Lockdown” roubando-nos a, tida como natural, liberdade de acção no fluxo da
vida, ofereceu-nos uma outra liberdade. A liberdade do “Slowdown”, uma pausa
para reflectir e assumir um novo curso e uma trajectória alternativa de Vida.
Uma Vida de maior diálogo com a Natureza e sintonia com o Planeta.
Ursula Von Der
Leyen já tinha avisado a 16 de Abril, no tumulto das decisões das ajudas
financeiras, que não iria abdicar do “Green Deal”. O pacote ‘Bazuka’ a ser
apresentado nos meados de Maio, irá associar as ajudas financeiras às
exigências ambientais.
Para ficarmos
dentro da metáfora da ‘viagem aérea’, a aviação tem conhecido um crescimento
selvagem e irresponsável na perspectiva ambiental. O sector não parou de
crescer, e hoje em dia conta com, pelo menos, mais de duas centenas entre
companhias privadas e públicas.
A pegada de carbono
também não parou de aumentar, e as companhias de aviação têm demonstrado muito
mais inclinação para especularem com o seu capital financeiro em
autovalorização, investindo milhares de milhões na compra das próprias acções,
as famosas “buy backs”, do que para investirem em verdadeiras e efectivas
medidas capazes de minimizarem os efeitos dessa pegada.
A atitude tem
sido a de uma gestão financeira absolutamente privada, dentro do lema “não se
metam nos nossos assuntos financeiros”.
Agora que o
pânico se instalou, pois tudo indica que vamos a caminho de uma selecção real e
natural de viabilidade comercial, o que implica a falência de várias dezenas de
Companhias, passou-se do princípio dos ‘Lucros são Privados’ para o princípio
de os ‘Riscos são Públicos’ e devem ser sustentados com o dinheiro do
contribuinte.
Ora a TAP, com o
pedido dos seus 600 ou 700 milhões de euros, não é um caso único.
Apenas para
utilizar um exemplo: a Air France vai receber 7 mil milhões de euros. 4 mil
milhões virão dos Bancos com garantias de 90% do Estado. Os outros 3 mil
milhões virão directamente do Estado.
Mas este verdadeiro
“tiro de Bazuka” não irá ser oferecido sem exigências. O que o Ministro Bruno
Le Maire exige é que a Air France se transforme na Companhia mais Verde da
Europa.
Como a França tem
de reduzir a sua pegada de carbono em 50% nos voos domésticos nos próximos
cinco anos, o Ministro propõe a substituição total das short trips por viagens
de comboio.
Isto, de resto,
vai ao encontro do pacote a apresentar este mês por Von der Leyen, que anuncia
grandes investimentos no transporte ferroviário e fortes exigências ambientais
para o tráfego aéreo.
Falar em Portugal
de transporte ferroviário é ridículo. O país ainda se encontra prisioneiro da
cega e irresponsável síndroma ‘Montijo”.
Só há uma medida
verdadeiramente efectiva na gestão ambiental do transporte aéreo: voar menos!
Deixe-se então a
selecção natural de viabilidade financeira e comercial real funcionar,
reduzindo as companhias ao número essencial de algumas dezenas. Nacionalizando
uma grande parte delas.
Nacionalize-se a
TAP, mas impondo ao Estado Português as mesmas exigências ambientais na sua
gestão na linha do Green Deal!
Historiador de Arquitectura
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