A
decisão coerente da direita
DIRECÇÃO EDITORIAL
01/12/2015 - PÚBLICO
A
moção da rejeição é um registo simbólico. Para guerras futuras.
A decisão dos
partidos da direita de apresentarem uma moção de rejeição ao
programa do Governo minoritário do PS era inevitável. E nem se
percebe como pode ter havido quaisquer dúvidas sobre o assunto,
depois do forte combate que PSD e CDS travaram contra a solução
política que, in extremis, acabou por ser aceite pelo Presidente da
República.
É verdade que o
clima de animosidade política e social abrandou, mas isso não
significa qualquer sentimento de conformismo por parte do eleitorado
dos dois partidos. Pelo contrário, significa que PSD e CDS têm
necessidade de conter o radicalismo das suas hostes para passar a
outra fase da resistência com que, obviamente, vão marcar a
governação socialista apoiada por bloquistas e comunistas. A moção
de rejeição é o momento simbólico, não para enterrarem o machado
de guerra, mas para dizerem aos seus apoiantes que tudo tentaram a
nível político e institucional para vencer esta batalha. Vencidos,
mas não convencidos, levam a votos a sua tese da “ilegitimidade”
do Governo de António Costa, sabendo que não vai passar, mas
cientes de que é isso (ainda) que o seu eleitorado deseja ouvir.
Nos próximos tempos
não é provável que o argumento da “usurpação” e da “golpada”
seja o mote principal dos discursos da direita, mas o registo
histórico da moção de rejeição poderá ser desenterrado sempre
que os abalos à esquerda fizerem tremer o Governo. A qualquer sinal
de instabilidade, lá estará a “ilegitimidade” à espreita em
todo o esplendor da sua gloriosa linha argumentativa e como mote para
a reivindicação de eleições antecipadas.
É por tudo isto que
esta decisão é inevitável e coerente. Tanto mais que os programas
de Governo só vão a votos caso sejam apresentadas moções de
confiança ou de rejeição. Ora como, para já, António Costa não
tenciona avançar com uma moção de confiança, a ausência de uma
iniciativa de sentido contrário serviria, na prática, para
caucionar uma solução que a direita abomina. Uma omissão que PSD e
CDS pagariam caro por parte do seu campo eleitoral e cujos louros
Costa não deixaria de reclamar.
Não se sabe por
quanto tempo mais Passos Coelho e Paulo Portas continuarão juntos,
mas entenderam-se nesta decisão. E fizeram tudo bem, acertando
posições entre si antes de as levarem aos respectivos partidos,
onde não havia unanimidade. Surgiu até um argumento absurdo segundo
o qual a derrota da moção de rejeição poderia assumir contornos
de “humilhação” para a direita, quando, na verdade, o silêncio
é que corria o risco de ser lido como uma espécie de rendição.
Sinais (muito ténues) de que já há quem não queira cortar todas
as pontes com o PS? Indícios de mal-estar sobre o alegado
“radicalismo” das lideranças? Pode ser tudo isto, mas Passos e
Portas não abandonarão o barco enquanto sentirem que a reconquista
do poder é capaz de surgir ali ao virar da esquina. Não depende só
deles, é certo, mas não é uma missão impossível.
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