Pacheco
Pereira desafiado a sair do PSD "pelo próprio pé"
LEONETE BOTELHO e
FRANCISCO SOARES GRAÇA 08/12/2015 - PÚBLICO
Ângelo
Correia e Duarte Marques criticam a posição crítica do historiador
e participação em acções de candidaturas presidenciais de
esquerda, mas recusam expulsão do partido. Pacheco diz que foi o PSD
que mudou e elogia Marcelo Rebelo de Sousa.
O ex-deputado
Pacheco Pereira foi esta terça-feira desafiado a sair do PSD pelo
próprio pé pelo dirigente social-democrata Duarte Marques, que
considera “incoerente Pacheco Pereira continuar a ser militante do
PSD”. "Alguém que passa 95% do tempo a dizer mal do partido,
se fosse coerente, saía pelo próprio pé", reafirmou Duarte
Marques ao PÚBLICO, insistindo na ideia que defendeu primeiro ao
jornal i.
O ex-presidente da
JSD não se surpreende, aliás, que Pacheco Pereira vá participar,
como o próprio já admitiu, em acções organizadas pelas
candidaturas presidenciais de Sampaio da Nóvoa e Marisa Matias.
“Acho perfeitamente normal e coerente com tudo o que disse nos
últimos cinco anos”, diz Duarte Marques. O problema para os
dirigentes do PSD é a continuidade do historiador nas fileiras
sociais-democratas: “Se pensasse como ele, teria vergonha de ser
militante do PSD”, critica Duarte Marques.
O i diz que a
possibilidade de expulsão de Pacheco Pereira já foi discutida “ao
mais alto nível” dentro do partido, mas Duarte Marques ignora este
debate: "Eu não acredito que alguém com responsabilidades no
partido tenha pensado seriamente nesse assunto", afirma ao
PÚBLICO.
Também o
ex-deputado pelo PSD Ângelo Correia, citado pelo i, é contra uma
expulsão de Pacheco Pereira do partido, até porque isso é “a
vontade dele: manter-se no PSD e esperar alguma sanção”, “ser
provocado e ser mártir”.
Os estatutos do PSD
são claros: “Cessa a inscrição no partido dos militantes que se
apresentem em qualquer acto eleitoral nacional, regional ou local, na
qualidade de candidatos, mandatários ou apoiantes de candidatura
adversária da que foi apresentada pelo PPD-PSD”. É permitida
oposição interna no partido, mas apoiar uma candidatura que não a
de Marcelo Rebelo de Sousa pode constituir “quebra”.
No blogue Abrupto,
Pacheco Pereira já disse que participará em debates das candidatura
de Sampaio da Nóvoa e Marisa Matias, mas sem ser “propriedade”
de nenhuma candidatura presidencial. O político diz ter sido
“convidado” e que não se furta a “discutir Portugal e os
portugueses”. “Se entender vir tomar posição pública,
tomá-la-ei, até lá interessa-me mais a discussão e o debate
público”, conclui Pacheco Pereira.
Esta participação
de Pacheco Pereira em acções potencialmente críticas do anterior
Governo é a última de uma longa lista de posições desaprovadoras
do ex-deputado em relação ao seu próprio partido. Muito crítico
de Passos Coelho, Pacheco Pereira tinha intervindo, em 2013, nas
reuniões da Aula Magna organizadas por Mário Soares para repudiar a
“engenharia cultural, social e política” da direita. Em 2014
disse que não iria votar a favor do Governo PSD/CDS-PP nas eleições
europeias, promessa que repetiu para as legislativas deste ano.
Marcelo é "o
que o PSD já não é"
Em entrevista à
Antena 1 divulgada nesta terça-feira, o historiador foi mais
explícito: "Uma coisa é participar em acções programadas,
outra coisa é apoiar uma candidatura”. E se Marcelo o convidar
para participar nalguma acção? “Depende do contexto”, responde,
sem escamotear que vê com bons olhos a candidatura do ex-presidente
do PSD.
Pacheco Pereira
reconhece “o esforço que Marcelo Rebelo de Sousa está a fazer
para colocar a sua candidatura no centro-direita”. O que não é
fácil, afirma, uma vez que “o PSD virou tanto à direita que é
inevitável que haja fricções entre a candidatura de Marcelo e os
partidos que o vão, inevitavelmente, apoiar”, justifica.
Por seu lado,
analisa Pacheco Pereira, Marcelo "não se limita a colocar a sua
candidatura numa posição mais centrista, não, ele quer que haja
uma fronteira com a direita", e isso diz ser “positivo a
prazo”. Porquê? “Marcelo Rebelo de Sousa pode vir a ser – e
não tenho dúvidas de que será, de acordo com as circunstâncias –
um bom apoio para o governo de esquerda”, tendo em conta o seu
entendimento da função presidencial, mas também a sua “preocupação
social” que Pacheco afirma ser “genuína”. “Ele no fundo
corresponde àquilo que era o PSD e infelizmente hoje não é”.
A jornalista Maria
Flor Pedroso constata, e Pacheco concorda, que o PSD e o CDS vão
apoiar um candidato que não defende as ideias deles. “Não estou a
dizer que não haja alguma identidade de pontos de vista, mas quanto
àquilo que eles quereriam que acontecesse, há 50 mil sinais de que
não o vai fazer”.
Questionado sobre se
está confortável nas fileiras do PSD, o antigo dirigente
social-democrata reconhece que não. "Por uma razão,
provavelmente quixotesca: eu entendo que, para a vida política
portuguesa, a existência de um partido reformista com a tradição
genética que vem de Sá Carneiro e histórica do PSD é fundamental,
o PS não chega. Sem essa tradição não é possível fazer reformas
de fundo em Portugal", explica.
Para Pacheco
Pereira, o problema está no esvaziamento do centro. "O que eu
penso é que é necessário a prazo reconstruir um centro politico
diferente. Eu exerço a minha actividade cívica tendo preocupação
de ser fiel àquilo que é o programa do PSD - quem não fiel é a
actual direcção - evitando qualquer choque com os estatutos do
partido. Eu nunca apoiei nenhuma candidatura contra o PSD mas isso
não significa que tenha de apoiar a candidatura do PSD. Sá Carneiro
nunca quis que o PSD fosse um partido de direita e há muito mais
gente no PSD que concorda comigo", afirma.
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