RACISMO
Presidente da República sobre racismo em Portugal: “Não
se deve generalizar”
Dois dias após o episódio de insultos racistas aos filhos
menores dos actores brasileiros Giovanna Ewbank e Bruno Gagliasso, Marcelo
condena a xenofobia mas diz que o “comportamento da sociedade portuguesa é, em
regra, respeitador dos direitos fundamentais”.
Leonete Botelho
1 de Agosto de
2022, 16:46
O Presidente da
República publicou esta segunda-feira, mais uma vez, uma nota contra o racismo
e a xenofobia, mas considera que “não se pode, nem deve, generalizar” esse tipo
de comportamentos a toda a sociedade portuguesa.
Dois dias depois
dos filhos menores dos actores brasileiros Giovanna Ewbank e Bruno Gagliasso
terem, alegadamente, sido alvo de insultos racistas na Costa da Caparica, por
uma mulher já com historial de comportamentos xenófobos, Marcelo Rebelo de
Sousa volta ao assunto sobre o qual tem falado com frequência: “Qualquer
comportamento racista ou xenófobo é condenável e intolerável, e deve ser
devidamente punido, seja qual for a vítima”, defende.
Na sequência do
incidente do último sábado num restaurante da Costa da Caparica, em que os
filhos dos actores brasileiros e alguns turistas angolanos ouviram uma mulher
gritar-lhes impropérios, várias celebridades brasileiras manifestaram-se nas
redes sociais, desde logo o ex-Presidente do Brasil Lula da Silva, mas também a
apresentadora Xuxa, o cantor Felipe Araújo e o youtuber Felipe Neto.
Marcelo Rebelo de
Sousa também não ficou indiferente ao tema: “Não vale a pena negar que há,
infelizmente, sectores racistas e xenófobos entre nós, mas não se pode, nem
deve, generalizar, pois o comportamento da sociedade portuguesa é, em regra,
respeitador dos direitos fundamentais e da dignidade da pessoa humana”,
escreveu.
E não são só os
portugueses que Marcelo diz terem um comportamento respeitador: “O mesmo se
dirá, especificamente, quanto às comunidades dos países irmãos de língua
portuguesa, que têm vindo a aumentar a sua presença entre nós e são motivo de
gratidão e de orgulho para Portugal”. Uma alusão clara à comunidade brasileira,
que tem crescido de forma significativa.
“A sociedade
portuguesa é constituída por pessoas das mais variadas origens, que aqui
chegaram há poucos ou há muitos anos, alguns há séculos, aqui vivem, trabalham,
constituem as suas famílias: não há ‘portugueses puros’, somos todos
descendentes de culturas, civilizações e origens muito diversas”, realça o
Presidente da República.
E acrescenta:
“Somos todos transmigrantes, todos temos familiares e amigos que vivem ou
viveram fora do quadro geográfico físico de um país; tal como tantos que aqui
encontram uma melhor vida. E todos somos Portugal.”
Resposta ao Chega
A nota presidencial
não se refere a nenhum episódio em particular, e embora pareça referir-se
sobretudo ao caso da Costa da Caparica, este poderá ser um bom pretexto para
Marcelo Rebelo de Sousa deixar claro de que lado está na recente querela entre
o Chega e o presidente da Assembleia da República quando o assunto são os
imigrantes.
No passado dia
21, recorde-se, onze dos doze deputados do Chega abandonaram o plenário da
Assembleia da República, quando Augusto Santos Silva respondia a um protesto de
André Ventura contra um comentário que o presidente do Parlamento fizera
minutos antes em defesa dos imigrantes que escolheram Portugal para viver.
“Como presidente
da Assembleia da República considero que Portugal deve muito, mas mesmo muito,
aos muitos milhares de imigrantes que aqui trabalham, que aqui vivem e que aqui
contribuem para a nossa Segurança Social, para a nossa coesão, a nossa vida
colectiva, cidadania, dignidade, porque somos um país aberto, inclusivo e
respeitador dos outros”, afirmou Augusto Santos Silva, quando André Ventura
acabou a sua intervenção. Palavras muito semelhantes às agora usadas por
Marcelo Rebelo de Sousa.
Na sexta-feira
passada, André Ventura foi recebido em Belém para se queixar da actuação de
Augusto Santos Silva. O líder do Chega queria que Marcelo usasse a sua
“magistratura de influência” e dissesse a Augusto Santos Silva que deve mudar
de comportamento. Mas o Presidente apenas diz não se pronunciar sobre
“problemas internos” do Parlamento.
No entanto, o
racismo e a xenofobia não são problemas internos da Assembleia da República, e
o Presidente não perde uma oportunidade para os criticar, mas também para
defender que Portugal não tem um problema estrutural de racismo. Foi isso que
voltou a fazer nesta segunda-feira, ao pedir para não se “generalizar”.
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