SERVIÇO NACIONAL
DE SAÚDE
Marta Temido: de estrela do PS a ministra do “caos” na
saúde
Chega reitera pedido de demissão da ministra da Saúde,
ex-ministro Siza Vieira critica falta de capacidade de planeamento do SNS.
Sofia Rodrigues
20 de Junho de
2022, 20:00
Os encerramentos
de urgências hospitalares de ginecologia-obstetrícia, em vários pontos do país,
estão a colocar a ministra da Saúde sob crescente pressão, três meses depois de
ter sido reconduzida no cargo. Até agora, só o Chega insiste na demissão de
Marta Temido face ao “caos” na saúde, embora o deputado do PS Sérgio Sousa
Pinto também defenda que a governante já não tem condições para ser
“protagonista de reformas” no sector. A ministra da Saúde tem uma audição
parlamentar marcada já para quarta-feira de manhã, antes do primeiro debate da
legislatura com o primeiro-ministro em plenário, mas que só será confirmada
esta terça-feira.
Ainda nem há um
ano Marta Temido se tornou, inesperadamente, a estrela do congresso do PS ao
receber o cartão de militante das mãos de António Costa e de até ser colocada
na pole position da corrida à sua sucessão. Agora, três meses depois de ter
sido reconduzida na pasta da Saúde, Marta Temido enfrenta dificuldades na
sequência de uma série de encerramentos temporários em várias urgências hospitalares
do país.
À direita, o
Chega quis ouvi-la no Parlamento na passada sexta-feira, a propósito do “caos”
na saúde. André Ventura aproveitou o palco parlamentar para pedir a demissão da
ministra, posição reiterada esta segunda-feira. Em comunicado, o Chega alega
que Marta Temido se encontrava de férias quando o problema das urgências se
começou a sentir, deixando implícito que a ministra não interrompeu de imediato
a sua pausa para acudir à situação.
“Depois de a
ministra Marta Temido não ter sido capaz de explicar aos deputados e ao país o
caos em que vive o SNS, a desorganização dos serviços, a ausência de pessoal e
o encerramento de vários serviços de urgências, o Chega entende que é chegado o
fim do seu percurso enquanto governante por não reunir condições políticas para
se manter no cargo”, defendeu o partido de André Ventura.
A Iniciativa
Liberal não foi tão longe mas percebendo a fragilidade governativa na área da
saúde marcou um debate potestativo sobre a matéria (com o título “SOS
SNS") para o dia 30 deste mês e chamou a ministra ao Parlamento para a
ouvir sobre o relatório da auditoria do Tribunal de Contas, que concluiu que o
acesso à cirurgia oncológica no SNS se degradou entre 2017 e 2020.
Só que antes, já
nesta quarta-feira de manhã, é provável que a ministra compareça na comissão de
Saúde para uma audição regimental. A reunião só será confirmada esta
terça-feira, mas está a ser vista como uma forma de esvaziar as iniciativas de
outros partidos.
O PSD, que está
em processo de transição de lideranças, tem sido mais discreto, mas tanto Rui
Rio como Luís Montenegro têm dado conta do seu descontentamento nas redes
sociais sobre a forma como o Governo tem gerido o SNS. O vice-presidente da bancada
social-democrata, Ricardo Baptista Leite, defende “mudanças estruturais” no
sistema, lembrando que “quando não há respostas nos cuidados primários base não
há respostas no sistema como um todo”.
Em reacção às
medidas apresentadas por Marta Temido na semana passada, Baptista Leite
considerou que “foi um penso rápido”. “Se for esta a solução, então temos uma
ministra que não tem a mínima noção dos problemas graves que vive o SNS e um
primeiro-ministro que apoia uma visão errada”, afirmou na RTP2 na passada
sexta-feira.
No espaço
socialista, Sérgio Sousa Pinto tirou o tapete à ministra embora a deputada
Antónia Almeida Santos tenha vindo garantir que a opinião do seu colega de
bancada é singular no partido.
Já o ex-ministro
da Economia, Pedro Siza Vieira, não atacou a ministra directamente mas deixou
expressa a sua surpresa sobre a falta de capacidade de o SNS prever que haveria
falta de médicos numa semana com feriados e fins-de-semana prolongados. “Era
normal saber que alguns médicos não iam estar ao serviço. Não era possível ter
sabido há mais tempo, não sabem os serviços, não sabem as direcções gerais? Não
consigo perceber que estas coisas aconteçam assim de surpresa”, afirmou no
programa Bloco Central da TSF na passada sexta-feira, acrescentando ter ficado
com a “sensação de que não existe no SNS uma capacidade de gestão, de
planeamento centralizada”.
Contestação aumenta à esquerda
PCP e o Bloco
apontam os problemas agora vividos nas urgências hospitalares como a
justificação para o voto contra no Orçamento do Estado para 2022 em Outubro
passado e que levou a legislativas antecipadas.
Face à crescente
contestação a Marta Temido já sentida na semana passada, o primeiro-ministro
reiterou a confiança na ministra e considerou que os pedidos de demissão de
governantes por parte dos partidos da oposição são um “clássico”. António Costa
garantiu ainda, na última sexta-feira, que parte dos problemas nas urgências
estariam resolvidos esta segunda-feira, numa referência ao período de férias e
de descanso que os profissionais de saúde terão gozado por estes dias.
Mas já esta
segunda-feira, as urgências de Obstetrícia de Setúbal deram o sinal contrário.
O director de serviço, José Pinto de Almeida, informou que o encerramento vai
ocorrer durante 21 dias ao longo do Verão por insuficiência na constituição das
escalas. O PSD de Setúbal pede medidas urgentes para evitar o anunciado
encerramento. “São os mais pobres quem paga, em primeiro lugar, a incompetência
política, a má gestão, a ausência de planeamento e a falta de resposta capaz do
SNS”, afirma o líder distrital, Paulo Ribeiro.
Com Marta Temido
a perder popularidade apesar de ainda ser o elemento mais popular do Governo,
de acordo com a sondagem da Intercampus para o Jornal de Negócios e o Correio
da Manhã, Luís Marques Mendes, no seu espaço de opinião na SIC, comentou este
domingo que começou “em força” uma campanha para a saída da ministra do
executivo, reiterando um conselho: “Ou remodela ou é remodelada.”
tp.ocilbup@seugirdors
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