terça-feira, 30 de agosto de 2022

Marta Temido: de estrela do PS a ministra do “caos” na saúde

 


SERVIÇO NACIONAL DE SAÚDE

Marta Temido: de estrela do PS a ministra do “caos” na saúde

 

Chega reitera pedido de demissão da ministra da Saúde, ex-ministro Siza Vieira critica falta de capacidade de planeamento do SNS.

 

Sofia Rodrigues

20 de Junho de 2022, 20:00

https://www.publico.pt/2022/06/20/politica/noticia/marta-temido-estrela-ps-ministra-caos-saude-2010678

 

Os encerramentos de urgências hospitalares de ginecologia-obstetrícia, em vários pontos do país, estão a colocar a ministra da Saúde sob crescente pressão, três meses depois de ter sido reconduzida no cargo. Até agora, só o Chega insiste na demissão de Marta Temido face ao “caos” na saúde, embora o deputado do PS Sérgio Sousa Pinto também defenda que a governante já não tem condições para ser “protagonista de reformas” no sector. A ministra da Saúde tem uma audição parlamentar marcada já para quarta-feira de manhã, antes do primeiro debate da legislatura com o primeiro-ministro em plenário, mas que só será confirmada esta terça-feira.

 

Ainda nem há um ano Marta Temido se tornou, inesperadamente, a estrela do congresso do PS ao receber o cartão de militante das mãos de António Costa e de até ser colocada na pole position da corrida à sua sucessão. Agora, três meses depois de ter sido reconduzida na pasta da Saúde, Marta Temido enfrenta dificuldades na sequência de uma série de encerramentos temporários em várias urgências hospitalares do país.

 

À direita, o Chega quis ouvi-la no Parlamento na passada sexta-feira, a propósito do “caos” na saúde. André Ventura aproveitou o palco parlamentar para pedir a demissão da ministra, posição reiterada esta segunda-feira. Em comunicado, o Chega alega que Marta Temido se encontrava de férias quando o problema das urgências se começou a sentir, deixando implícito que a ministra não interrompeu de imediato a sua pausa para acudir à situação.

 

“Depois de a ministra Marta Temido não ter sido capaz de explicar aos deputados e ao país o caos em que vive o SNS, a desorganização dos serviços, a ausência de pessoal e o encerramento de vários serviços de urgências, o Chega entende que é chegado o fim do seu percurso enquanto governante por não reunir condições políticas para se manter no cargo”, defendeu o partido de André Ventura.

 

A Iniciativa Liberal não foi tão longe mas percebendo a fragilidade governativa na área da saúde marcou um debate potestativo sobre a matéria (com o título “SOS SNS") para o dia 30 deste mês e chamou a ministra ao Parlamento para a ouvir sobre o relatório da auditoria do Tribunal de Contas, que concluiu que o acesso à cirurgia oncológica no SNS se degradou entre 2017 e 2020.

 

Só que antes, já nesta quarta-feira de manhã, é provável que a ministra compareça na comissão de Saúde para uma audição regimental. A reunião só será confirmada esta terça-feira, mas está a ser vista como uma forma de esvaziar as iniciativas de outros partidos.

 

O PSD, que está em processo de transição de lideranças, tem sido mais discreto, mas tanto Rui Rio como Luís Montenegro têm dado conta do seu descontentamento nas redes sociais sobre a forma como o Governo tem gerido o SNS. O vice-presidente da bancada social-democrata, Ricardo Baptista Leite, defende “mudanças estruturais” no sistema, lembrando que “quando não há respostas nos cuidados primários base não há respostas no sistema como um todo”.

 

Em reacção às medidas apresentadas por Marta Temido na semana passada, Baptista Leite considerou que “foi um penso rápido”. “Se for esta a solução, então temos uma ministra que não tem a mínima noção dos problemas graves que vive o SNS e um primeiro-ministro que apoia uma visão errada”, afirmou na RTP2 na passada sexta-feira.

 

No espaço socialista, Sérgio Sousa Pinto tirou o tapete à ministra embora a deputada Antónia Almeida Santos tenha vindo garantir que a opinião do seu colega de bancada é singular no partido.

 

Já o ex-ministro da Economia, Pedro Siza Vieira, não atacou a ministra directamente mas deixou expressa a sua surpresa sobre a falta de capacidade de o SNS prever que haveria falta de médicos numa semana com feriados e fins-de-semana prolongados. “Era normal saber que alguns médicos não iam estar ao serviço. Não era possível ter sabido há mais tempo, não sabem os serviços, não sabem as direcções gerais? Não consigo perceber que estas coisas aconteçam assim de surpresa”, afirmou no programa Bloco Central da TSF na passada sexta-feira, acrescentando ter ficado com a “sensação de que não existe no SNS uma capacidade de gestão, de planeamento centralizada”.

 

Contestação aumenta à esquerda

PCP e o Bloco apontam os problemas agora vividos nas urgências hospitalares como a justificação para o voto contra no Orçamento do Estado para 2022 em Outubro passado e que levou a legislativas antecipadas.

 

Face à crescente contestação a Marta Temido já sentida na semana passada, o primeiro-ministro reiterou a confiança na ministra e considerou que os pedidos de demissão de governantes por parte dos partidos da oposição são um “clássico”. António Costa garantiu ainda, na última sexta-feira, que parte dos problemas nas urgências estariam resolvidos esta segunda-feira, numa referência ao período de férias e de descanso que os profissionais de saúde terão gozado por estes dias.

 

Mas já esta segunda-feira, as urgências de Obstetrícia de Setúbal deram o sinal contrário. O director de serviço, José Pinto de Almeida, informou que o encerramento vai ocorrer durante 21 dias ao longo do Verão por insuficiência na constituição das escalas. O PSD de Setúbal pede medidas urgentes para evitar o anunciado encerramento. “São os mais pobres quem paga, em primeiro lugar, a incompetência política, a má gestão, a ausência de planeamento e a falta de resposta capaz do SNS”, afirma o líder distrital, Paulo Ribeiro.

 

Com Marta Temido a perder popularidade apesar de ainda ser o elemento mais popular do Governo, de acordo com a sondagem da Intercampus para o Jornal de Negócios e o Correio da Manhã, Luís Marques Mendes, no seu espaço de opinião na SIC, comentou este domingo que começou “em força” uma campanha para a saída da ministra do executivo, reiterando um conselho: “Ou remodela ou é remodelada.”

 

tp.ocilbup@seugirdors

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