ELEIÇÕES
PRESIDENCIAIS
Manuel Alegre lamenta que o PS não tome uma posição
oficial sobre as presidenciais
O histórico socialista ainda não decidiu se apoia algum
candidato nas presidenciais de Janeiro do próximo ano. Direcção do PS não quis
comentar anúncio de Ana Gomes.
Luciano Alvarez
Luciano Alvarez 8
de Setembro de 2020, 23:55
Manuel Alegre
lamenta o facto de o PS se preparar para mais uma vez não tomar uma posição
sobre as eleições presidenciais. “Isto é uma desvalorização da natureza do
regime semipresidencialista de que o PS é um dos fundadores”, diz. Questionada
pelo PÚBLICO, a direcção nacional do PS não quis comentar o anúncio da candidatura
de Ana Gomes, que é militante socialista e foi eurodeputada do partido.
O histórico
socialista não diz que candidato o PS devia apoiar, mas mostra-se incomodado
pelo facto de o partido se preparar para não ter agora, como não teve há cinco
anos, uma posição oficial sobre as eleições para o Presidente da República.
“Não se pode desvalorizar assim o regime semipresidencialista. Os patronos
deste regime, como Salgado Zenha, Mário Soares, Sottomayor Cardia e José Luís
Nunes, só para falar alguns dos que já não estão entre nós, não ficariam de
certeza muito satisfeitos com isto”, afirmou ao PÚBLICO.
Já sobre as
eleições presidenciais de Janeiro do próximo ano, e numa altura em que a sua
camarada de partido Ana Gomes já anunciou que vai avançar, o ex-candidato a
Presidente não tomou qualquer decisão sobre se apoia algum dos que já
apresentaram na corrida a Belém. “A altura em que o farei sou eu que decido”,
acrescentou.
Silêncio na
direcção
O silêncio na
cúpula do PS contrasta com as posições públicas de antigos e actuais militantes
do partido. Paulo Pedroso mostrou-se satisfeito com o efeito que o anúncio
causou junto do líder da extrema-direita. Henrique Neto defendeu a candidatura.
Daniel Adrião sugeriu ao PS que apoie oficialmente Ana Gomes. E Carlos Pereira
avançou que não votará na antiga eurodeputada.
“Não via o líder
da extrema-direita tão nervoso como hoje há muito tempo. Que tenha ido
desbragadamente ao saco dos estereótipos misóginos e racistas é revelador. Está
com medo da adversária. E tem boas razões para estar”, escreveu o ex-ministro
do PS (que entretanto se desfiliou) Paulo Pedroso.
Em declarações ao
PÚBLICO, Daniel Adrião, que tem assento na comissão política do PS, desafia o
partido a mobilizar-se “para derrotar o candidato da extrema-direita e debelar
uma séria ameaça para a democracia, unindo-se” no apoio a Ana Gomes. “António
Costa, enquanto líder do PS, e a direcção nacional têm agora o imperativo moral
e político de tudo fazer para derrotar André Ventura, propondo aos órgãos
nacionais do partido o apoio oficial a Ana Gomes”, defende.
“No meio da sua
deriva autoritária André Ventura, ofereceu aos socialistas um forte motivo para
se unirem em torno da candidatura de Ana Gomes: assumiu o compromisso de que
abandonaria a liderança do Chega se ficasse atrás da Ana Gomes nas
presidenciais. Sendo o grande objectivo dos socialistas travar e esmagar a
extrema-direita, então temos aqui uma excelente oportunidade de infligir uma
humilhante derrota ao líder do Chega e nos livrarmos da ameaça que ele
representa para a nossa democracia”.
Notícia
interessante
Sem mais
explicações, por entender que ainda não é o momento certo para se pronunciar,
João Soares (ex-ministro da Cultura de António Costa) partilhou a imagem da
primeira página do PÚBLICO, onde Ana Gomes dizia “Serei candidata”, e comentou
apenas: “Uma notícia interessante". Contactado pelo PÚBLICO, nada quis
acrescentar.
Quem não perdeu a
oportunidade de considerar “positivo” o anúncio de Ana Gomes foi Henrique Neto.
O candidato presidencial independente em 2016 e antigo deputado eleito nas
listas do PS, considerou “uma aberração que o partido de Mário Soares apoie o
actual Presidente sem discussão democrática”. Sobre Ana Gomes, disse: “Considero-a
mesmo uma candidatura potencialmente vencedora.”
Para o
empresário, que falou à Rádio Observador, “Marcelo Rebelo de Sousa parte com
alguma vantagem”, mas é preciso não esquecer que o país está a viver “uma crise
complexa, que se vai agudizar até às eleições, que o actual Presidente da
República é visto com muito carinho mas também como alguém que sempre esteve ao
lado do Governo" durante a crise.
Além de criticar
o “seguidismo” de Marcelo em relação à governação, Henrique Neto afirmou que a
candidatura de Ana Gomes é “um ar fresco que surge na política portuguesa para
quem não se revê no actual Presidente nem em André Ventura”.
Outras vozes
Carlos Pereira,
deputado do PS eleito pela Madeira, também reagiu ao anúncio, dizendo que não
apoiará a sua candidatura. “Não voto Ana Gomes. Não sei o que fará o meu
partido mas não apoiarei Ana Gomes”, escreveu na rede social Facebook.
Para o ex-líder
do PS-Madeira, Ana Gomes “atrai votos manifestando superioridade moral a todo o
custo, por vezes sem fundamento” e “faz do julgamento público arbitrário o seu
cartão-de-visita”. “Não votarei numa candidata que está sempre do lado fácil, simplificando
os argumentos para amplificar os ‘seus chavões’, ignorando deliberadamente a
complexidade da vida real”, explicou.
Alfredo Barroso,
fundador do PS e ex-chefe da Casa Civil de Mário Soares, assumiu no Facebook
que o seu objectivo, na eleição presidencial, é fazer campanha contra André
Ventura em marginalmente, contra Marcelo Presidente. “Aqui estará mais uma
razão bem forte para apoiarmos as esquerdas convictamente, sem hesitar, e não
deixarmos que as direitas conquistem o Governo nos próximos anos”, escreveu,
sem, no entanto, fazer qualquer referência a Ana Gomes.
À esquerda,
sabe-se já que haverá a candidatura de Marisa Matias, que será apresentada
nesta quarta-feira, às 17 horas, no Largo do Carmo, na presença de
profissionais que estiveram na linha da frente do combate à pandemia, anunciou
o Bloco de Esquerda.
Do lado do PCP,
Jerónimo de Sousa disse esta terça-feira que candidatura comunista deverá ser
apresentada “talvez no dia 12” deste mês. Sobre Ana Gomes, o secretário-geral
do PCP limitou-se a dizer que regista a notícia. “A nossa preocupação é o papel
que a nossa candidatura, que vai ser anunciada dentro em breve, vai propor,
nomeadamente na defesa dos trabalhadores”, afirmou após uma visita à Escola
Artística António Arroio. com Sónia Sapage
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