terça-feira, 8 de setembro de 2020

Manuel Alegre lamenta que o PS não tome uma posição oficial sobre as presidenciais

 


ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS

Manuel Alegre lamenta que o PS não tome uma posição oficial sobre as presidenciais

 

O histórico socialista ainda não decidiu se apoia algum candidato nas presidenciais de Janeiro do próximo ano. Direcção do PS não quis comentar anúncio de Ana Gomes.

 

Luciano Alvarez

Luciano Alvarez 8 de Setembro de 2020, 23:55

https://www.publico.pt/2020/09/08/politica/noticia/manuel-alegre-lamenta-ps-nao-tome-posicao-oficial-presidenciais-1930815

 

Manuel Alegre lamenta o facto de o PS se preparar para mais uma vez não tomar uma posição sobre as eleições presidenciais. “Isto é uma desvalorização da natureza do regime semipresidencialista de que o PS é um dos fundadores”, diz. Questionada pelo PÚBLICO, a direcção nacional do PS não quis comentar o anúncio da candidatura de Ana Gomes, que é militante socialista e foi eurodeputada do partido.

 

O histórico socialista não diz que candidato o PS devia apoiar, mas mostra-se incomodado pelo facto de o partido se preparar para não ter agora, como não teve há cinco anos, uma posição oficial sobre as eleições para o Presidente da República. “Não se pode desvalorizar assim o regime semipresidencialista. Os patronos deste regime, como Salgado Zenha, Mário Soares, Sottomayor Cardia e José Luís Nunes, só para falar alguns dos que já não estão entre nós, não ficariam de certeza muito satisfeitos com isto”, afirmou ao PÚBLICO.

 

Já sobre as eleições presidenciais de Janeiro do próximo ano, e numa altura em que a sua camarada de partido Ana Gomes já anunciou que vai avançar, o ex-candidato a Presidente não tomou qualquer decisão sobre se apoia algum dos que já apresentaram na corrida a Belém. “A altura em que o farei sou eu que decido”, acrescentou.

 

Silêncio na direcção

O silêncio na cúpula do PS contrasta com as posições públicas de antigos e actuais militantes do partido. Paulo Pedroso mostrou-se satisfeito com o efeito que o anúncio causou junto do líder da extrema-direita. Henrique Neto defendeu a candidatura. Daniel Adrião sugeriu ao PS que apoie oficialmente Ana Gomes. E Carlos Pereira avançou que não votará na antiga eurodeputada.

 

“Não via o líder da extrema-direita tão nervoso como hoje há muito tempo. Que tenha ido desbragadamente ao saco dos estereótipos misóginos e racistas é revelador. Está com medo da adversária. E tem boas razões para estar”, escreveu o ex-ministro do PS (que entretanto se desfiliou) Paulo Pedroso.

 

Em declarações ao PÚBLICO, Daniel Adrião, que tem assento na comissão política do PS, desafia o partido a mobilizar-se “para derrotar o candidato da extrema-direita e debelar uma séria ameaça para a democracia, unindo-se” no apoio a Ana Gomes. “António Costa, enquanto líder do PS, e a direcção nacional têm agora o imperativo moral e político de tudo fazer para derrotar André Ventura, propondo aos órgãos nacionais do partido o apoio oficial a Ana Gomes”, defende.

 

“No meio da sua deriva autoritária André Ventura, ofereceu aos socialistas um forte motivo para se unirem em torno da candidatura de Ana Gomes: assumiu o compromisso de que abandonaria a liderança do Chega se ficasse atrás da Ana Gomes nas presidenciais. Sendo o grande objectivo dos socialistas travar e esmagar a extrema-direita, então temos aqui uma excelente oportunidade de infligir uma humilhante derrota ao líder do Chega e nos livrarmos da ameaça que ele representa para a nossa democracia”.

 

Notícia interessante

Sem mais explicações, por entender que ainda não é o momento certo para se pronunciar, João Soares (ex-ministro da Cultura de António Costa) partilhou a imagem da primeira página do PÚBLICO, onde Ana Gomes dizia “Serei candidata”, e comentou apenas: “Uma notícia interessante". Contactado pelo PÚBLICO, nada quis acrescentar.

 

Quem não perdeu a oportunidade de considerar “positivo” o anúncio de Ana Gomes foi Henrique Neto. O candidato presidencial independente em 2016 e antigo deputado eleito nas listas do PS, considerou “uma aberração que o partido de Mário Soares apoie o actual Presidente sem discussão democrática”. Sobre Ana Gomes, disse: “Considero-a mesmo uma candidatura potencialmente vencedora.”

 

Para o empresário, que falou à Rádio Observador, “Marcelo Rebelo de Sousa parte com alguma vantagem”, mas é preciso não esquecer que o país está a viver “uma crise complexa, que se vai agudizar até às eleições, que o actual Presidente da República é visto com muito carinho mas também como alguém que sempre esteve ao lado do Governo" durante a crise.

 

 

Além de criticar o “seguidismo” de Marcelo em relação à governação, Henrique Neto afirmou que a candidatura de Ana Gomes é “um ar fresco que surge na política portuguesa para quem não se revê no actual Presidente nem em André Ventura”.

 

Outras vozes

Carlos Pereira, deputado do PS eleito pela Madeira, também reagiu ao anúncio, dizendo que não apoiará a sua candidatura. “Não voto Ana Gomes. Não sei o que fará o meu partido mas não apoiarei Ana Gomes”, escreveu na rede social Facebook.

 

Para o ex-líder do PS-Madeira, Ana Gomes “atrai votos manifestando superioridade moral a todo o custo, por vezes sem fundamento” e “faz do julgamento público arbitrário o seu cartão-de-visita”. “Não votarei numa candidata que está sempre do lado fácil, simplificando os argumentos para amplificar os ‘seus chavões’, ignorando deliberadamente a complexidade da vida real”, explicou.

 

Alfredo Barroso, fundador do PS e ex-chefe da Casa Civil de Mário Soares, assumiu no Facebook que o seu objectivo, na eleição presidencial, é fazer campanha contra André Ventura em marginalmente, contra Marcelo Presidente. “Aqui estará mais uma razão bem forte para apoiarmos as esquerdas convictamente, sem hesitar, e não deixarmos que as direitas conquistem o Governo nos próximos anos”, escreveu, sem, no entanto, fazer qualquer referência a Ana Gomes.

 

À esquerda, sabe-se já que haverá a candidatura de Marisa Matias, que será apresentada nesta quarta-feira, às 17 horas, no Largo do Carmo, na presença de profissionais que estiveram na linha da frente do combate à pandemia, anunciou o Bloco de Esquerda.

 

Do lado do PCP, Jerónimo de Sousa disse esta terça-feira que candidatura comunista deverá ser apresentada “talvez no dia 12” deste mês. Sobre Ana Gomes, o secretário-geral do PCP limitou-se a dizer que regista a notícia. “A nossa preocupação é o papel que a nossa candidatura, que vai ser anunciada dentro em breve, vai propor, nomeadamente na defesa dos trabalhadores”, afirmou após uma visita à Escola Artística António Arroio. com Sónia Sapage

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