PORTO
Do visto gold à acusação de homicídio - os negócios do
empresário acusado de despejar inquilinos com fogo
O empresário, de nacionalidade chinesa, que terá ateado
fogo para despejar inquilinos da Baixa do Porto, está acusado e pronunciado por
seis crimes de homicídio qualificado, dois de incêndio, um de extorsão tentada
e outro de branqueamento de capitais.
André Borges
Vieira 8 de Setembro de 2020, 18:54
Além do prédio da
Baixa do Porto ao qual terá mandado atear fogo, originando a morte de um dos
inquilinos, Chenglong Li, o empresário chinês, que desde a semana passada a
está a ser julgado por seis crimes de homicídio qualificado (um consumado e
cinco tentados), dois incêndios (um consumado e outro tentado), um de extorsão
tentada e outro de branqueamento de capitais, foi confrontado sobre outros
negócios em que se envolveu a título pessoal e por via da sua empresa
Alvoradoásis - Unipessoal, Lda.
O primeiro
negócio de todos deu-lhe acesso a visto gold. Em 2016, o investimento de 500
mil euros na compra de quatro lojas do Leiria Plaza deu-lhe entrada directa
como residente em Portugal e na Europa pelo período de cinco anos. Este foi o
primeiro investimento em território nacional, ainda a título privado. Acabaria
por ser o primeiro investimento já através da empresa que o levaria à prisão
preventiva e a arriscar a pena máxima.
Em três anos, o
seu património e o da empresa foi crescendo. Na segunda sessão de julgamento,
nesta terça-feira no Auditório Municipal de Vila Nova de Gaia, depois de ser
transferido do Tribunal Criminal de São João Novo, onde decorreu a primeira
sessão na semana passada, o investidor foi questionado sobre outros
investimentos. Por explicar estão algumas transacções feitas para a China, de
dinheiros que resultam de negócios do empresário de pouco mais de trinta anos
de idade acusado de ter morto um inquilino no prédio, ao qual terá mandado
atear fogo para o desocupar antes de assinar a escritura da venda do mesmo.
A título
individual, comprou em 2016 as quatro lojas do shopping Plaza Leiria, uma casa
na Avenida de Beira-Mar, em Vila Nova de Gaia, em 2017, e um apartamento no
Campo Grande, em Lisboa. Com a empresa Alvoradoásis, além do prédio que ardeu
perto do mercado do Bolhão, comprado em 2016, adquiriu ainda, segundo o
próprio, uma garagem na Avenida da República, em Gaia, em 2018, por quatro mil
euros, e um terreno por 22 mil euros, na mesma avenida onde comprou a casa de
Gaia, onde tem morada fiscal.
Perante a juíza,
Chenglong Li diz ter criado a empresa para a compra do prédio e para futuros
investimentos. Tanto este imóvel como as quatro lojas de Leiria foram
adquiridos sem acesso a crédito bancário. Só para as casas de Gaia e de Lisboa
é que recorreu à banca, segundo afirma em tribunal.
Para o primeiro
investimento, que lhe valeu o visto gold, recorreu a empréstimo do pai, que lhe
terá disponibilizado 500 mil euros. Esse valor terá sido devolvido anos mais
tarde em transferências realizadas a partir da sua conta pessoal para a China
já quando estava preso preventivamente. Mas o dinheiro que foi parar à sua
conta do Millenium BCP, o único banco onde diz ter conta em Portugal, terá sido
transferido dos cofres da sua empresa. O investidor explica esse movimento bancário
com a justificação de que teria passado dinheiro da sua conta pessoal para a
Alvarodoásis e agora estava a recuperá-lo.
Transferências
para a mãe e para a sogra
Fica por explicar
o motivo pelo qual o valor dessa transferência, cerca de 600 mil euros, mais
100 mil euros do que o valor adiantado inicialmente pelo pai, foi feita para as
contas da mãe e da sogra. Mas há mais dúvidas levantadas em diferentes
estâncias. Uma delas é a circunstância de o arguido não ter sido interpelado
pelo banco para justificar as transferências tendo em conta o montante elevado
das mesmas, sendo que o empresário está a pagar créditos de dinheiro que pediu
à banca para comprar as casas. O investidor garante não ter sido contactado
pelo BCP para qualquer justificação. Adiantou ainda ter acesso a um cartão de
crédito Prestige, mas questionado durante a sessão negou estar vinculado ao
Private Banking do Millennium BCP, uma sala privada de atendimento
personalizado e confidencialidade absoluta. Negou ainda ter contas em paraísos
fiscais, adiantando que, além da conta que tem no banco português, tem mais
três – em Macau, China e Canadá.
Quanto aos
créditos bancários que contraiu no BCP, diz estar a pagá-los com o rendimento
que aufere do arrendamento das lojas de Leiria. Pela casa de Gaia paga ao banco
600 euros mensais. Pela de Lisboa desembolsa 400 euros todos os meses. Na
sessão desta terça-feira adianta receber por três lojas do shopping Plaza 1200
por mês e por uma quarta 5 mil euros por ano. A esse valor é descontado 28% que
vai para o Estado.
Encontros em
espaços nocturnos
Quanto à relação
que tinha com outros três arguidos portugueses acusados de extorsão e de terem
sido contratados para atear o fogo no prédio que matou um dos inquilinos,
continua a afirmar estar relacionada com uma parceria noutro investimento que
estaria na calha na Baixa do Porto. Afirma que todos os encontros que teve com
os mesmos foram profissionais, tendo um tido lugar no Tamariz, espaço nocturno
do Porto onde estiveram até às cinco da manhã, tendo sido a conta, no valor de
3700 mil euros, assegurada pelo principal arguido, como confirma o próprio
perante a juíza.
O julgamento do
empresário acusado de homicídio e fogo posto no prédio do Porto do qual era
proprietário começou na quarta-feira passada. Há mais quatro arguidos no
processo - três de nacionalidade portuguesa respondem por crimes de homicídio
consumado ou tentado e extorsão. A esposa do dono do imóvel e a empresa de
ambos são acusados de branqueamento de capitais.
Chenglong Li terá
mandado atear fogo a um prédio do qual era proprietário, adquirido em Dezembro
2016 na Baixa do Porto na zona do Bolhão por 625 mil euros. A a 28 de Novembro
de 2018 assinou contrato promessa de compra e venda (CPCV) para o vender a novo
proprietário. A escritura estava marcada para 31 de Maio de 2019, com a
garantia de que o prédio estaria livre de pessoas e bens. O empresário terá
negociado com os inquilinos do terceiro piso para abandonarem o imóvel, tendo
chegado a oferecer o máximo de 40 mil euros. Mas a família não aceitou o
acordo.
A 2 de Março de
2019 deflagra um incêndio no imóvel que deu origem à morte de um dos
inquilinos. Recorde-se que este foi o segundo incêndio no prédio do número 100
da Rua Alexandre Braga. O primeiro foi em Fevereiro do mesmo ano. Os dois fogos
terão deflagrado a mando do proprietário do imóvel para conseguir esvaziar o
edifício onde ainda residia a família, no terceiro piso. Se até ao fim do Maio
o prédio não estivesse desocupado, o sinal do CPCV, cerca de 200 mil euros,
seria devolvido a dobrar ao comprador interessado, representando prejuízo. Se o
vendesse o investimento duplicaria para cerca de 1,2 milhões de euros.
Chenglong Li acabou por vender o imóvel já quando se encontrava em prisão
preventiva.
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