"Avante é um festival. Nesta matéria deve seguir-se
a ciência", diz líder do BE
Catarina Martins afirma não haver dúvidas que o Avante
"é um festival, uma grande festa", mas deixa a decisão sobre a sua
realização para a ciência. Numa entrevista à TSF, disse ser "preocupante
" que Mário Centeno tenha autorizado o dinheiro para o Novo Banco.
Catarina Martins diz que o Governo não tem respondido bem
aos efeitos estruturais da crise, como o desemprego
DN
11 Maio 2020 —
14:20
Catarina Martins
admite que o Avante é uma ação política mas não tem dúvidas que deve também ser
considerado como um festival. "É uma ação política que tem um festival.
Toda a gente reconhece o Avante como um festival, uma grande festa. E é uma
ação política do PCP. É as duas coisas", afirmou a líder do BE aos
microfones da TSF, numa entrevista em que criticou Mário Centeno e considerou
preocupante que o ministro autorizasse a injeção de dinheiro no Novo Banco sem
conhecimento de António Costa.
Sem tomar uma
posição sobre a realização do evento do PCP, Catarina Martins disse que o
importante é seguir as recomendações da ciência. "Tenho dificuldades em
perceber quem já sabe hoje como será o primeiro fim de semana de setembro do
ponto de vista da pandemia. Nestas matérias seguir a ciência é muito
importante," afirmou durante a entrevista concedida esta segunda-feira à
TSF.
No domingo, no
Porto Canal, Jerónimo de Sousa disse que o Avante não é um festival, tendo
admitido que o PCP ainda tem uma decisão definitiva sobre o evento agendado
para o primeira fim de semana de setembro. O secretário-geral do PCP disse que
o partido não tem uma "posição fechada" sobre a sua realização,
afirmando que "os comunistas portugueses são muito criativos".
Na entrevista, a
coordenadora do BE criticou novamente os 850 milhões de euros concedidos pelo
Estado ao Novo Banco, considerando "preocupante" que o ministro Mário
Centeno não tenha informado o primeiro-ministro, como António Costa admitiu no
debate parlamentar da semana passada.
"Não podemos
ter injeções que ninguém sabe como aconteceram, nem mesmo o
primeiro-ministro" apontou Catarina Martins, anunciando que o Bloco vai
insistir, no Parlamento, com uma proposta em que "qualquer injeção no Novo
Banco" passe a precisar de uma autorização dos deputados.
"A exigência
é que seja o Parlamento a debater e a aprovar ou não qualquer injeção no fundo
de Resolução", disse. "É preocupante que o ministro das Finanças faça
uma coisa dessas sem o primeiro-ministro saber e mais preocupante é que o Estado
faça injeções no Novo Banco sem saber o que lá se passa", criticou.
O PSD chumbou no
passado uma proposta bloquista neste sentido e fez uma outra em que estipulava
que teriam de passar pela Parlamento as injeções superiores a 850 milhões de
euros. Ora é esse o valor agora em causa e, por isso, Catarina Martins desafia
Rui Rio a apoiar a nova proposta do BE. "Agora vejo como o PSD está
chocado, mas tem oportunidade de rever a sua posição", disse.
Sobre um
orçamento suplementar Catarina Martins assegura que o BE está disponível para o
aprovar, caso reúna as condições. "Não será por falta de disponibilidade
do BE que o PS procurará a direita para obter a maioria de que necessita."
"Portugal
não pode ficar sem a TAP"
A líder do
partido de esquerda disse também que o Estado deve apoiar os trabalhadores
informais, já que isso permite fazer um retrato mais real do país, revelando
que o BE irá fazer mais propostas neste sentido de haver apoios para os
trabalhadores que não faziam descontos. Ouvindo essas pessoas, disse, é possível
saber onde existe trabalho não declarado. "Quando esses dados chegassem, a
ACT ficava com um retrato do que é o trabalho informal do país e podíamos
começar a fazer o maior programa de sempre de erradicação do trabalho informal,
porque a ACT passava a saber onde existe e podia combatê-lo onde tem de ser
combatido", afirmou.
Catarina Martins
criticou o governo por não estar a saber dar as respostas adequadas aos efeitos
estruturais da crise e no travão aos despedimentos. "Estamos a deixar
muita gente sem emprego. O que poupamos em apoios às empresas para as obrigar a
manter os postos de trabalho, estamos a gastar com subsídios de desemprego e
com o facto de estes trabalhadores não terem descontos para Segurança
Social."
Sobre a TAP, a
dirigente do BE disse que há "sinais contraditórios" pelo Governo.
"Portugal não pode ficar sem a TAP", realçou, mas com a garantia de
que se "é o Estado a pagar, deve ser o Estado a mandar".
OPINIÃO
O 1º de Maio deu cabo da Festa do Avante!
A opinião pública ainda tem peso numa democracia e nem o
Governo nem a Presidência da República se poderiam dar ao luxo de permitir mais
um ajuntamento de milhares de bandeirinhas vermelhas em prado verde,
transmitido em directo pelas televisões.
JOÃO MIGUEL
TAVARES
9 de Maio de
2020, 0:30
A festa da CGTP
na Alameda D. Afonso Henriques saiu muito cara ao PCP. O coro generalizado de
vozes indignadas com aquilo que lá aconteceu, mais as terríveis fotografias que
mostravam várias centenas de sindicalistas espalhados pela relva e uma dezena
de autocarros de câmaras comunistas coladinhos uns aos outros, tornaram
absolutamente insustentável a manutenção da Festa do Avante!, que estava
planeada, como sempre, para os primeiros dias de Setembro.
A festa, aliás,
não só estava planeada como já estava em andamento, e a todo o vapor. Havia
grupos convidados, um cartaz construído em torno de artistas portugueses e
ensaios de reportório, apesar da pandemia. Era o único festival de Verão que
continuava a mexer, e o PCP estava a trabalhar nele como se fosse 2019, mesmo
depois de António Costa ter afirmado, há uma semana, que com “enorme
probabilidade” não iriam existir festivais este ano.
Quando a
proibição foi finalmente anunciada esta quinta-feira, num comunicado emitido
após o Conselho de Ministros, o Governo começou por escrever: “Impõe-se a
proibição de realização de festivais de música, até 30 de Setembro de 2020.” O
PCP apressou-se a emitir o um comunicado de resposta, no qual declarava: “A
Festa do Avante! não é um simples festival de música, é uma grande realização
político-cultural que se realiza desde 1976, muitos anos antes da existência
daquele tipo de festivais.”
Não se percebe
bem a pertinência do comentário, a não ser que algum laboratório da Coreia do
Norte tenha provado que o SARS-CoV-2 é um vírus melómano e extremamente
exigente ao nível do reportório, que só ataca no Primavera Sound, recusando-se
a frequentar a Quinta da Atalaia. Seja como for, e para não dar azo a
confusões, 40 minutos depois desta reacção do PCP o Governo corrigiu o primeiro
comunicado, modificando a formulação da medida: “Impõe-se a proibição de
realização de festivais e espectáculos de natureza análoga, até 30 de Setembro
de 2020.”
Embora a festa seja muito importante para os cofres do
partido, a desobediência civil é impossível. A prova de força da CGTP na Alameda
colocou um cadeado nos portões da Quinta da Atalaia
O pingue-pongue
de comunicados torna tudo bastante evidente: até esta quinta-feira, o Partido
Comunista estava realmente convencido de que a festa se iria realizar. Aliás,
mesmo sem o debate filosófico sobre o que é, ou não, um festival de música,
bastaria que a proibição fosse decretada até 31 de Agosto e a Festa do Avante!
(prevista para 4, 5 e 6 de Setembro) estaria safa. Era, com certeza, com isso
que o PCP contava. Só que o Governo tirou-lhe o tapete debaixo dos pés.
Porquê?
Obviamente, por causa da coreografia da Alameda e das reacções quase unânimes
que ela gerou, devido ao usufruto de um privilégio inaceitável por parte de uma
central sindical. A opinião pública ainda tem peso numa democracia e nem o
Governo nem a Presidência da República se poderiam dar ao luxo de permitir mais
um ajuntamento de milhares de bandeirinhas vermelhas em prado verde,
transmitido em directo pelas televisões.
E agora, o que é
que vai o PCP fazer? Só pode fazer isto: cancelar a festa, arriscar Outubro,
ou, para não perder a face, reduzi-la a um formato tão simbólico que talvez a
DGS possa encolher os ombros. No comunicado de quinta-feira, o PCP declarou que
irá tomar “uma posição mais detalhada” somente quando tiver “conhecimento concreto
da disposição legal”. Mas não se vê que outra coisa possa fazer. Embora a festa
seja muito importante para os cofres do partido, a desobediência civil é
impossível. A prova de força da CGTP na Alameda colocou um cadeado nos portões
da Quinta da Atalaia.
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