segunda-feira, 11 de maio de 2020

"Avante é um festival. Nesta matéria deve seguir-se a ciência", diz líder do BE / O 1º de Maio deu cabo da Festa do Avante!



"Avante é um festival. Nesta matéria deve seguir-se a ciência", diz líder do BE

Catarina Martins afirma não haver dúvidas que o Avante "é um festival, uma grande festa", mas deixa a decisão sobre a sua realização para a ciência. Numa entrevista à TSF, disse ser "preocupante " que Mário Centeno tenha autorizado o dinheiro para o Novo Banco.
Catarina Martins diz que o Governo não tem respondido bem aos efeitos estruturais da crise, como o desemprego

DN
11 Maio 2020 — 14:20

Catarina Martins admite que o Avante é uma ação política mas não tem dúvidas que deve também ser considerado como um festival. "É uma ação política que tem um festival. Toda a gente reconhece o Avante como um festival, uma grande festa. E é uma ação política do PCP. É as duas coisas", afirmou a líder do BE aos microfones da TSF, numa entrevista em que criticou Mário Centeno e considerou preocupante que o ministro autorizasse a injeção de dinheiro no Novo Banco sem conhecimento de António Costa.

Sem tomar uma posição sobre a realização do evento do PCP, Catarina Martins disse que o importante é seguir as recomendações da ciência. "Tenho dificuldades em perceber quem já sabe hoje como será o primeiro fim de semana de setembro do ponto de vista da pandemia. Nestas matérias seguir a ciência é muito importante," afirmou durante a entrevista concedida esta segunda-feira à TSF.

No domingo, no Porto Canal, Jerónimo de Sousa disse que o Avante não é um festival, tendo admitido que o PCP ainda tem uma decisão definitiva sobre o evento agendado para o primeira fim de semana de setembro. O secretário-geral do PCP disse que o partido não tem uma "posição fechada" sobre a sua realização, afirmando que "os comunistas portugueses são muito criativos".

Na entrevista, a coordenadora do BE criticou novamente os 850 milhões de euros concedidos pelo Estado ao Novo Banco, considerando "preocupante" que o ministro Mário Centeno não tenha informado o primeiro-ministro, como António Costa admitiu no debate parlamentar da semana passada.

"Não podemos ter injeções que ninguém sabe como aconteceram, nem mesmo o primeiro-ministro" apontou Catarina Martins, anunciando que o Bloco vai insistir, no Parlamento, com uma proposta em que "qualquer injeção no Novo Banco" passe a precisar de uma autorização dos deputados.

"A exigência é que seja o Parlamento a debater e a aprovar ou não qualquer injeção no fundo de Resolução", disse. "É preocupante que o ministro das Finanças faça uma coisa dessas sem o primeiro-ministro saber e mais preocupante é que o Estado faça injeções no Novo Banco sem saber o que lá se passa", criticou.


O PSD chumbou no passado uma proposta bloquista neste sentido e fez uma outra em que estipulava que teriam de passar pela Parlamento as injeções superiores a 850 milhões de euros. Ora é esse o valor agora em causa e, por isso, Catarina Martins desafia Rui Rio a apoiar a nova proposta do BE. "Agora vejo como o PSD está chocado, mas tem oportunidade de rever a sua posição", disse.

Sobre um orçamento suplementar Catarina Martins assegura que o BE está disponível para o aprovar, caso reúna as condições. "Não será por falta de disponibilidade do BE que o PS procurará a direita para obter a maioria de que necessita."

"Portugal não pode ficar sem a TAP"
A líder do partido de esquerda disse também que o Estado deve apoiar os trabalhadores informais, já que isso permite fazer um retrato mais real do país, revelando que o BE irá fazer mais propostas neste sentido de haver apoios para os trabalhadores que não faziam descontos. Ouvindo essas pessoas, disse, é possível saber onde existe trabalho não declarado. "Quando esses dados chegassem, a ACT ficava com um retrato do que é o trabalho informal do país e podíamos começar a fazer o maior programa de sempre de erradicação do trabalho informal, porque a ACT passava a saber onde existe e podia combatê-lo onde tem de ser combatido", afirmou.

Catarina Martins criticou o governo por não estar a saber dar as respostas adequadas aos efeitos estruturais da crise e no travão aos despedimentos. "Estamos a deixar muita gente sem emprego. O que poupamos em apoios às empresas para as obrigar a manter os postos de trabalho, estamos a gastar com subsídios de desemprego e com o facto de estes trabalhadores não terem descontos para Segurança Social."

Sobre a TAP, a dirigente do BE disse que há "sinais contraditórios" pelo Governo. "Portugal não pode ficar sem a TAP", realçou, mas com a garantia de que se "é o Estado a pagar, deve ser o Estado a mandar".




OPINIÃO
O 1º de Maio deu cabo da Festa do Avante!

A opinião pública ainda tem peso numa democracia e nem o Governo nem a Presidência da República se poderiam dar ao luxo de permitir mais um ajuntamento de milhares de bandeirinhas vermelhas em prado verde, transmitido em directo pelas televisões.

JOÃO MIGUEL TAVARES
9 de Maio de 2020, 0:30

A festa da CGTP na Alameda D. Afonso Henriques saiu muito cara ao PCP. O coro generalizado de vozes indignadas com aquilo que lá aconteceu, mais as terríveis fotografias que mostravam várias centenas de sindicalistas espalhados pela relva e uma dezena de autocarros de câmaras comunistas coladinhos uns aos outros, tornaram absolutamente insustentável a manutenção da Festa do Avante!, que estava planeada, como sempre, para os primeiros dias de Setembro.

A festa, aliás, não só estava planeada como já estava em andamento, e a todo o vapor. Havia grupos convidados, um cartaz construído em torno de artistas portugueses e ensaios de reportório, apesar da pandemia. Era o único festival de Verão que continuava a mexer, e o PCP estava a trabalhar nele como se fosse 2019, mesmo depois de António Costa ter afirmado, há uma semana, que com “enorme probabilidade” não iriam existir festivais este ano.


Quando a proibição foi finalmente anunciada esta quinta-feira, num comunicado emitido após o Conselho de Ministros, o Governo começou por escrever: “Impõe-se a proibição de realização de festivais de música, até 30 de Setembro de 2020.” O PCP apressou-se a emitir o um comunicado de resposta, no qual declarava: “A Festa do Avante! não é um simples festival de música, é uma grande realização político-cultural que se realiza desde 1976, muitos anos antes da existência daquele tipo de festivais.”

Não se percebe bem a pertinência do comentário, a não ser que algum laboratório da Coreia do Norte tenha provado que o SARS-CoV-2 é um vírus melómano e extremamente exigente ao nível do reportório, que só ataca no Primavera Sound, recusando-se a frequentar a Quinta da Atalaia. Seja como for, e para não dar azo a confusões, 40 minutos depois desta reacção do PCP o Governo corrigiu o primeiro comunicado, modificando a formulação da medida: “Impõe-se a proibição de realização de festivais e espectáculos de natureza análoga, até 30 de Setembro de 2020.”

Embora a festa seja muito importante para os cofres do partido, a desobediência civil é impossível. A prova de força da CGTP na Alameda colocou um cadeado nos portões da Quinta da Atalaia

O pingue-pongue de comunicados torna tudo bastante evidente: até esta quinta-feira, o Partido Comunista estava realmente convencido de que a festa se iria realizar. Aliás, mesmo sem o debate filosófico sobre o que é, ou não, um festival de música, bastaria que a proibição fosse decretada até 31 de Agosto e a Festa do Avante! (prevista para 4, 5 e 6 de Setembro) estaria safa. Era, com certeza, com isso que o PCP contava. Só que o Governo tirou-lhe o tapete debaixo dos pés.

Porquê? Obviamente, por causa da coreografia da Alameda e das reacções quase unânimes que ela gerou, devido ao usufruto de um privilégio inaceitável por parte de uma central sindical. A opinião pública ainda tem peso numa democracia e nem o Governo nem a Presidência da República se poderiam dar ao luxo de permitir mais um ajuntamento de milhares de bandeirinhas vermelhas em prado verde, transmitido em directo pelas televisões.

E agora, o que é que vai o PCP fazer? Só pode fazer isto: cancelar a festa, arriscar Outubro, ou, para não perder a face, reduzi-la a um formato tão simbólico que talvez a DGS possa encolher os ombros. No comunicado de quinta-feira, o PCP declarou que irá tomar “uma posição mais detalhada” somente quando tiver “conhecimento concreto da disposição legal”. Mas não se vê que outra coisa possa fazer. Embora a festa seja muito importante para os cofres do partido, a desobediência civil é impossível. A prova de força da CGTP na Alameda colocou um cadeado nos portões da Quinta da Atalaia.

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