Rui
Moreira ameaça TAP com boicote nortenho
PATRÍCIA CARVALHO
10/02/2016 - PÚBLICO
Conflito
da Câmara do Porto com a transportadora aérea passou a envolver o
município espanhol de Vigo, cujo alcaide fez queixa de Moreira à
União Europeia.
Há uma escalada na
“guerra” da Câmara do Porto à estratégia anunciada pela TAP
para este ano, no que envolve o Aeroporto Francisco Sá Carneiro, e o
presidente da autarquia, Rui Moreira, garante que as duras críticas
que tem feito não vão parar. “Não é o momento de inverter a
estratégia”, disse esta quarta-feira na reunião do executivo, em
que deixou claro que as próximas batalhas podem chegar mesmo a um
apelo ao boicote. A polémica já ultrapassou, entretanto,
fronteiras, com o alcaide de Vigo, Abel Caballero, a pedir “uma
investigação” à União Europeia por causa das declarações de
Moreira sobre a futura ligação Lisboa-Vigo da TAP.
Com a garantia de
apoio de todas as forças políticas representadas no executivo, Rui
Moreira não aceitou a sugestão do vereador Amorim Pereira, do PSD,
para que a região pare “de correr atrás do prejuízo” no caso
da TAP e se concentre nas companhias que querem, de facto, estar no
Porto. “Fazer exigências é uma guerra perdida. Devemos negociar
com as companhias aéreas que estão interessadas no Porto: a British
Airways, a Lufthansa e as low-cost”, disse o social-democrata.
“Ainda não chegou o tempo de nos calarmos e conformarmos. Poderá
chegar o tempo de apelarmos à população da Região Norte para não
voar na TAP, mas esse tempo ainda não chegou”, contrapôs Rui
Moreira.
Referindo-se às
recentes alterações ao capital da companhia, que fará aumentar o
capital do Estado para 50%, o presidente disse “querer acreditar”
que ainda se pode “reclamar alguma coisa”, mesmo defendendo que
toda a estratégia da companhia aérea, centrada em Lisboa, tem
objectivos bem definidos — construir um novo aeroporto na capital,
fazer o TGV e “uma nova Expo do lado sul”. “Isto já não se
resolve com a regionalização, isto é um problema de regime”,
defendeu o autarca, argumentando: “Temos sido uns carneiros e
temo-nos iludido com promessas sucessivas. Lembro o TGV e todas as
versões para o Norte. O que se vai construir vai ser Lisboa-Madrid,
não tenho dúvidas. O Porto de Leixões está prestes a esgotar a
capacidade, mas não é aqui que se vai investir, é no Barreiro. E
vão fazer a terceira ponte [sobre o Tejo], não tenho dúvidas. É
um objectivo do regime”, disse.
Durante o debate no
executivo foi o próprio Rui Moreira a informar os vereadores de que
a polémica ultrapassara as fronteiras do país, ao anunciar que o
alcaide da cidade galega de Vigo, Abel Caballero, tinha pedido à
União Europeia que investigue as declarações do autarca portuense
sobre a anunciada ligação Lisboa-Vigo — um anúncio feito na
terça-feira pelo governante espanhol e que está reproduzido na
edição desta quarta-feira do diário galego Faro de Vigo.
“[Caballero] até pode chamar a PIDE”, insurgiu-se Moreira,
afirmando que não aceita “lições” do outro lado da fronteira e
que mantém as críticas que suscitaram a indignação galega. “A
ligação Lisboa-Vigo é um insulto ao Porto e pretende destruir o
aeroporto do Porto”, reiterou.
E esta não é a
única pedra no sapato do autarca. “Não me conformo com a ponte
aérea [Lisboa-Porto]”, defendeu Rui Moreira, declarando aos
vereadores que esta ponte aérea – que começa a 27 de Março, com
voos de hora a hora, desde as 5h30 e as 22h25 – “é muito
interessante para um accionista que tem aviões parados no Brasil e
não sabe o que lhes há-de fazer”, numa referência a David
Neeleman, proprietário da Azul e um dos donos da TAP. “Não é o
interesse da TAP que está a ser privilegiado, quem está a ser
privilegiada é a White”, concluiu o autarca.
Os aviões da White
Airways vão operar a maior parte dos voos da ponte aérea e são
alugados à Azul Linhas Aéreas Brasileiras, a empresa de David
Neeleman, que é um dos novos donos da TAP. Rui Moreira questionou se
a companhia portuguesa iria agora funcionar em regime de
“outsourcing”.
O Estado português
vendeu 61% do capital da TAP, a 12 de Novembro de 2015, ao consórcio
Atlantic Gateway, liderado pelos empresários Humberto Pedrosa e
David Neeleman. A operação foi concluída ainda pelo anterior
Governo PSD-CDS, e contra a vontade do PS, que viria a a formar
Governo, duas semanas depois do negócio, com o apoio de uma maioria
parlamentar de esquerda. Na altura do negócio – que o novo Governo
entretanto alterou, com o compromisso de recomprar parte do capital
até ficar com 50% para o Estado –, Neeleman prometeu fazer
concorrência à Easyjet e à Ryanair, duas companhias low cost.
"Vamos fazer uma Ryanair em cada nave", disse o empresário
na altura, acrescentando que haveria "tarifas mais baratas".
A 19 de Janeiro foi
noticiado que a administração da TAP iria cancelar "rotas
deficitárias" de Lisboa e do Porto, cidade que perderia os voos
directos de e para Barcelona, Milão, Bruxelas e Roma. O autarca do
Porto argumenta que esses voos "deficitários", na verdade,
estariam sempre cheios, e criticou a ligação Lisboa-Vigo, porque
tira ao Porto todo o tráfego de passageiros oriundos da Galiza e
que, a prazo, diz Moreira, representará o fim das ligações
intercontinentais a partir do Porto.
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