quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Arrependido do caso Nóos confirma acusações contra cunhado do rei de Espanha


Arrependido do caso Nóos confirma acusações contra cunhado do rei de Espanha

Infanta Cristina de Borbón regressou a Palma de Maiorca para o julgamento por corrupção no qual é arguida com o marido

Rita Siza / 10-2-2016 / PÚBLICO

O julgamento do caso Nóos, no âmbito do qual Cristina de Borbón, irmã do rei Felipe VI de Espanha, está acusada de cumplicidade em fraude fiscal, foi ontem retomado em Palma de Maiorca, com a audição do único “arrependido” do processo, José Luis Pepote Ballester, que confirmou a culpa do marido da infanta, Iñaki Urdangarin num esquema de corrupção que lesou o erário público espanhol em mais de seis milhões de euros.
O depoimento de Ballester, antigo campeão olímpico de vela e exdirector geral de Desporto do governo autónomo das Ilhas Baleares, sustentou as queixas contra Iñaki Urdangarin e Diego Torres, sócios do Instituto Nóos para a promoção da prática desportiva e dinamização de projectos sociais. Segundo a justiça espanhola, aquela fundação sem fins lucrativos servia como fachada num esquema de corrupção, fraude fiscal e branqueamento de capitais: os dois sócios desviavam fundos públicos e privados entregues ao Instituto Nóos em proveito próprio.
Pepote Ballester foi o primeiro a depor em tribunal, na condição de arrependido: como explicou, decidiu colaborar com a justiça em troca de uma redução de pena, para salvaguardar a sua posição “perante as mentiras” dos restantes acusados. No desempenho das suas funções no governo autónomo, Ballester disse ter recebido instruções para celebrar contratos com o Instituto Nóos e avançar pagamentos, sem colocar questões. “O objectivo era contratar Urdangarin e tudo o que viesse indicado por ele sem discutir o preço”, afirmou. “Todos sabíamos quais eram as directrizes e qual era a nossa função. Não havia dúvidas”, acrescentou.
Ballester afirmou ainda que as “directrizes” vinham directamente de Jaume Matas, um antigo ministro do Governo conservador de José Maria Aznar, e que foi entre 2003 e 2007 o chefe do Govern das Baleares. Matas, que acaba de cumprir uma pena de prisão por outro caso de corrupção, é um dos 17 arguidos envolvidos no megaprocesso. O primeiro testemunho validou a tese da acusação, que alega que o Instituto Nóos beneficiou de favorecimento em contratos inflacionados, celebrados com entidades públicas como os governos autónomos de Maiorca, Valencia e Madrid, todos liderados pelo Partido Popular.
As verbas entregues à fundação eram depois distribuídas, através de uma teia de facturação fictícia, por outras sociedades criadas por Urdangarin e Torres — entre elas, a empresa familiar Aizóon, que o cunhado do rei mantinha com a mulher, Cristina de Borbón, e utilizava para pagar despesas familiares.
Enquanto sócia da Aizóon, Cristina foi acusada de cooperar numa fraude fiscal, na qual o Estado terá sido burlado em mais de 300 mil euros. Se condenada, pode enfrentar uma pena de prisão até oito anos. Já Iñaki Urdangarin, contra quem pendem queixas de vários crimes graves, corre o risco de ser condenado a uma pena entre os 19 e os 26 anos de prisão.
De acordo com a imprensa espanhola, a infanta assistiu com ar “descontraído” ao interrogatório de Ballester, ao contrário do marido, que tomou várias notas. Os dois estão obrigados a assistir à inquirição dos arguidos, que se prolonga pelas próximas três semanas. Cristina deverá ser interrogada a 26 de Fevereiro - o seu nome foi o último a ser acrescentado à lista de arguidos.


Os advogados de Cristina de Borbón tinham pedido que a queixa contra ela fosse arquivada, mas um colectivo de três juízes decidiu no fim de Janeiro que a infanta teria de ir a julgamento. É a primeira vez que um membro da família real espanhola está formalmente acusado de crime.

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