terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Portugal, um pouco mais de auto-estima, por favor! / Lucy Pepper


VÍDEO DA ADMIRADORA DINAMARQUESA
Portugal, um pouco mais de auto-estima, por favor!
Lucy Pepper
9/2/2016, OBSERVADOR

Por que raio é que a opinião de um estrangeiro é tão importante para os portugueses? (E quase sempre, um estrangeiro extremamente mal-informado). Por amor de Deus, Portugal, dá-te ao respeito!

Por muito que eu aqui deixe críticas e faça queixas, a verdade é que Portugal é um país maravilhoso, não é?

Começando pelas praias, que são deslumbrantes e para todos os gostos. A água é fria, mas as ondas são fantásticas! O sol brilha quase todos os dias e ilumina todo o território com um brilho mágico. Não admira que tantos pintores gostem de trabalhar neste país. As serras são altas, e bonitas, com poucos – mas pitorescos – habitantes. Ah, sim, e também há aldeias e vilas piscatórias. São lindas e têm barcos antiquados e peixe… Toda a gente é bondosa e simpática. Portugal tem uma histórica tão rica e tantos futebolistas. Tem um bocadinho de tudo para todos.

As paisagens deslumbrantes, mais a história e um povo fantástico bastam para um blah blah blah blah blah blah blah…. Meu Deus! Ainda não está farto desta conversa?

Quando lê ou ouve um monte de banalidades como estas, escritas ou ditas por um estrangeiro, o que é que faz? Pensa «Olha, que simpático, alguém escreveu coisas boas sobre nós, mesmo sem ter acertado em tudo. E ainda bem, porque é bom para o turismo e para a economia», e passa à frente?

Não, Portugal, não é isso que vocês fazem. O que fazem é embaraçoso.

Na semana que passou, uma rapariga dinamarquesa publicou um vídeo, disse «Oh, Portugal é muito bom!», justificou essa afirmação com uma lengalenga condescendente sobre o CR7 e o Mourinho, fez umas piadolas fraquinhas, e vocês ficaram todos a rebentar de alegria.

«OLHEM, olhem todos!!! Ela disse que nós somos os maiores!!!», gritam, enquanto dão pulinhos como uma menina de doze anos com aparelho nos dentes e muitas borbulhas a quem o miúdo mais giro do 9º Ano tivesse concedido um olhar. O efeito que teve em vocês foi ainda mais significativo porque a dinamarquesa, por acaso, era o supra-sumo do espetacular – jovem, bonita, loira e norte-europeia.

Não é preciso que seja uma jovem e bonita escandinava a elogiar-vos para que os joelhos vos comecem a fraquejar, certo? Normalmente basta que uma qualquer obscura publicação de qualquer parte do mundo inclua uma praia portuguesa numa lista das vinte mil “melhores” praias do mundo para um montão de vocês ficarem excitadíssimos, enchendo a Internet com coisas como «OLHEM!!! A Revista de Iscos e Anzóis da Terranova disse que uma das nossas praias é a 19.999ª melhor praia do mundo!!!» Um chef estrangeiro diz algo como «Oh, Portugal, o vosso chouriço é mesmo bom!», e vocês desmaiam como se só acreditassem que o chouriço português é realmente bom quando um cozinheiro estrangeiro diz que é bom.

A mesma lógica aplica-se quando um estrangeiro diz alguma coisa muito má sobre Portugal. Vocês “atiram-se” logo todos a ele nas redes sociais, mesmo sem fazer ideia do que ele disse (veja-se o caso de Giles Coren).

Por amor de Deus, Portugal, dá-te ao respeito! Portugueses, tenham amor próprio, pode ser? Imaginam os espanhóis, ou os franceses, ou os ingleses, ou os italianos a fazerem isso? Não.

Eu não vos entendo. Vocês sabem que são espetaculares. Vocês sabem que este país é um sítio fabuloso, ainda que um bocadinho estragado em alguns lugares, mas no geral, este é um país com gente fantástica, uma história incrível, paisagens de cortar a respiração e que grande parte do resto do mundo nunca viu. Sabem ainda que a comida é fabulosa, o vinho é praticamente infalível e que… enfim, vocês sabem… se calhar usam demasiados ovos nos doces, mas que importa? Se VOCÊS gostam de ovos, força! Por que raio é que a opinião de um estrangeiro é tão importante para vocês? (E quase sempre, um estrangeiro extremamente mal-informado.)

Portugueses, não sejam aquela menina de doze anos com aparelho. Não vos fica bem.


(traduzido do original inglês pela autora)

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