domingo, 5 de janeiro de 2014

Crise. Europa em saldos para milionários chineses e árabes.Lomba quer ACIDI a aliciar imigrantes “de elevado potencial”. Vistos Gold portugueses arrematados por milionários chineses.


Lomba quer ACIDI a aliciar imigrantes “de elevado potencial”
Proposta de nova política migratória está pronta para ser discutida em Conselho de Ministros
Ana Cristina Pereira /  6 jan 2014 / Público

O Alto Comissariado para a Imigração e o Diálogo Intercultural (ACIDI) vai assumir novas funções. Essa é, pelo menos, a proposta que está pronta para ser apreciada em Conselho de Ministros. Se vingar, caberá a esse instituto aliciar estrangeiros “de elevado potencial” para Portugal.
Quem defende a ideia é Pedro Lomba, secretário de Estado adjunto do ministro adjunto e do Desenvolvimento Regional. Parece-lhe que o país tem de se adaptar a uma nova realidade migratória, que apresenta forte caudal de saídas e fraco caudal de entradas.
Segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE), em 2012 saíram 121 mil pessoas. Apesar de a emigração ser hoje muito experimental, graças à livre circulação no espaço comunitário, desde o final dos anos 1960 que não saía tanta gente. O número de estrangeiros residentes também tem vindo a cair – 451 mil em 2009 para 414 mil em 2012, segundo o Serviço de Estrangeiros de Fronteiras.
O movimento faz-se, sobretudo, do Sul para o centro e para o Norte da Europa. Mas, como frisa Lomba, o fluxo migratório actual compreende também profissionais que se deslocam para países em desenvolvimento ou que se servem da tecnologia para trabalhar em qualquer parte, investigadores e estudantes que trabalham em rede e reformados ansiosos por clima ameno.
Com um mercado laboral que já pouco atrai trabalhadores em busca de melhores condições de vida, ganha algum peso outro tipo de vistos. Em 2012, mais de oito mil dos 12.528 emitidos foram atribuídos por via do estudo, intercâmbio de estudantes, estágio profissional ou voluntariado.
Os fluxos, resume Lomba, diversificaram-se. “Precisamos de políticas mais integradas, que tenham em vista os que saem e os que entram”, diz. Na sua opinião, não é por ter um número de saídas “preocupante que o país pode abandonar a abertura que tem tido em relação aos imigrantes”.
Os imigrantes, insiste, tendem a arriscar mais. Imigrantes empreendedores podem criar postos de trabalho e, com isso, fixar quem pensar partir ou resgatar quem já partiu. É nessa lógica que acha que se impõe “identificar e captar imigração de elevado potencial ou de grande valor acrescentado”. Para isso, quer transformar o ACIDI num organismo “transversal” e “pró-activo”.
Este novo ACIDI teria de se relacionar com a Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal, a Direcção-Geral do Ensino Superior, a Direcção-Geral dos Assuntos Consulares e das Comunidades Portuguesas, o Instituto de Emprego e Formação Profissional, o Turismo de Portugal, o SEF. Nesta posição, coordenaria políticas migratórias que envolveriam a rede diplomática e consular, a emissão de vistos, a captação de estudantes, a fixação de reformados, a integração, apelando à participação de fundações, associações, universidades, empresas, autarquias. O governante concretiza: dedicar-se-ia à “análise de necessidades laborais a curto e médio-prazo”, à “articulação destinada ao financiamento ao empreendedorismo imigrante”, a trabalhar a “estratégia de internacionalização do ensino superior” e as “vias verdes para obtenção de vistos”, por exemplo.

Para lá de eventuais diferendos políticos, há um obstáculo: o ACIDI é um instituto público que faz parte da administração indirecta do Estado, dotado de autonomia administrativa, muito focado na integração. Para assumir o novo papel que Lomba lhe quer conferir teria de ser integrado na administração pública.

Vistos Gold portugueses arrematados por milionários chineses
Por Diogo Vaz Pinto
publicado em 3 Jan 2014 in (jornal) i online

"Portugal voltou ao GPS dos países em que é interessante investir"
Paulo Portas está feliz com o primeiro aniversário do seu programa de vistos gold, concedidos a estrangeiros em troca de investimento em Portugal, que excedeu largamente, diz fonte oficial do gabinete do vice-primeiro-ministro, o objectivo inicial da medida, e que está assim a ser um impulso importante para a dinamização do mercado português, especialmente do imobiliário.

Foram concedidas 471 autorizações de residência para a actividade de investimento, o que se traduziu num volume de investimento de 306,7 milhões de euros, tendo 272,4 milhões ficado no sector imobiliário. Os chineses encimaram o topo do lista dos cidadãos estrangeiros a receberem os chamados vistos gold, e de forma destacada, sendo seguidos depois por cidadãos oriundos da Rússia, Brasil, Angola e África do Sul.

Para a atribuição do visto, o despacho impõe que a actividade de investimento, promovida por um indivíduo ou uma sociedade, seja desenvolvida por um período mínimo de cinco anos, prevendo-se várias opções, em que se incluem a transferência de capital num montante igual ou superior a um milhão de euros, a criação de pelo menos dez postos de trabalho ou a compra de imóveis num valor mínimo de 500 mil euros.

Para efeitos de renovação da autorização de residência, exige-se ainda ao investidor, para além do período de investimento mínimo de cinco anos contado a partir da data da concessão da autorização de residência, que comprove ter cumprido o período mínimo de permanência no território português exigido, de sete dias consecutivos ou interpolados no primeiro ano, ou 14 dias consecutivos ou interpolados no período subsequente de dois anos.

"O facto de termos captado mais de 300 milhões de euros de investimento só através dos chamados vistos gold, em apenas um ano, é um sinal muito prático de que Portugal está de volta ao GPS dos países em que é interessante investir", disse Paulo Portas à Lusa.


Crise. Europa em saldos para milionários chineses e árabes
Por Diogo Vaz Pinto
publicado em 3 Jan 2014 in (jornal) i online

Fustigada pela crise, a velha Europa vendetudo e está em período de saldos para grandes fortunas da China e do Médio Oriente
Castigada pelo regime de dietas que lhe foram impostas pela austeridade, a velha Europa, desesperada por fazer uns cobres e reanimar a gula dos mercados, começa a apelar cada vez mais às fortunas que, no estrangeiro, sempre sonharam afundar nela os dentes. Com o seu fabuloso catálogo amadurecido pela glória de séculos, castelos e outros edifícios históricos, paisagens idílicas, ilhas encantadoras e (para muitos, o grande prémio) a cidadania, o velho continente está hoje em saldos.

Para um cidadão se dizer do mundo não pode faltar-lhe a liberdade de circular à lagardère pelos territórios que compõem o espaço da União Europeia, e quem queira deleitar-se com os requintes que o Velho Mundo foi apurando, e desde que tenha milhões no banco, só tem de consultar o catálogo e pagar o preço certo. Começa a haver muito por onde escolher e 2014 promete ser um bom ano para a satisfação destes desejos.

A cidadania maltesa, e, por conseguinte, o passaporte da UE, custa 1,15 milhões de euros. Com ela vem a oportunidade de investir numa villa em tempos pertencente a um distinto cardeal italiano como residência permanente. E, para umas escapadas de Inverno com o aquecido conforto dos conto de fadas, há uma larga oferta de castelos na Polónia. Mas para reinar como nos bons velhos tempos vale a pena esperar pelo Verão depois de pagar 8,5 milhões de euros por todo um arquipélago grego. Nem os velhos deuses poderiam com os actuais titãs do capitalismo.

O grande leilão europeu, que ouviu o soar da corneta no momento em que os governos se viram forçados pela crise económica a arranjar à pressa esquemas para ir tapando os buracos nos seus cada vez mais limitados orçamentos, atingiu contornos que seriam há uns anos inimagináveis, com o património dos estados-membros alinhado para chamar os cobiçosos olhos estrangeiros.

Mas uma reacção enfurecida dos povos europeus começa a ganhar expressão, com os governos e os cidadãos a entrarem em confronto em relação a quem cabe, no fim, decidir sobre a disposição de valores que se confundem com a história e a cultura de uma nação.

CONTESTAÇÃO
 Ao contrário do que por cá se tem passado com o programa de concessão de vistos gold a investidores estrangeiros, da responsabilidade do vice--primeiro-ministro, Paulo Portas, a concessão do passaporte maltês está a provocar clamor público e obrigou entretanto o governo a repensar os seus planos. Em Itália, os residentes da Sardenha indignaram-se com o anúncio da venda de uma ilha a um empresário neozelandês e não se calaram enquanto não deram cabo do negócio.

Mesmo quando os governos conseguem superar, silenciar ou, por outros meios, dar a volta à oposição política que se levanta quando tentam desfazer-se das pratas da família, os especialistas lembram que se levantam uma série de problemas relativos a direitos de propriedade quando estes entretêm a hipótese de alienar pedaços do território nacional.

Se até ao momento não se registou uma grande vaga no sentido da privatização na Europa do pós-crise, alguns cabeçalhos têm causado arrepios quanto à venda de património do Estado, sobretudo no país que se viu mais exposto à necrofagia capitalista, a Grécia.

Em Maio, um mês antes de abdicar a favor do filho, o emir do Qatar, Hamad bin Khalifa Al Thani, comprou seis ilhas no mar Jónico - as quais já estavam em mãos privadas - por 8,5 milhões de euros. O negócio foi considerado uma pechincha para o emir, que planeia construir um luxuoso retiro para as suas três mulheres e 24 filhos.

Já as autoridades italianas, ansiosas por encher os cofres com a venda de um par de ilhas, podem não ter tanta sorte com os seus cidadãos. Em Outubro, o neozelandês Michael Harte deu 2,9 milhões de euros pela ilha Budelli - um parque nacional com os contornos ornados por praias de areias douradas, ao largo da costa da Sardenha. O empresário jurou que ia preservá-lo, mas os ambientalistas indignaram-se. Recolheram 85 mil assinaturas exigindo a anulação do negócio e agora o governo considera a possibilidade de devolver o dinheiro para reintegrar a ilha.

A Itália pode vir a enfrentar obstáculos semelhantes com dezenas de outras propriedades históricas que tinha planeado pôr à venda. A austeridade obrigou a cortes profundos nas despesas de manutenção de várias propriedades do Estado, deixando muitas ao abandono ou a necessitar de obras de conservação. Em relação às grandes jóias da sua coroa turística, como o Coliseu de Roma ou a Ponte de Rialto, em Veneza, a ideia do governo foi permitir que empresas do ramo da moda as usassem como fundo para os seus filmes publicitários.

Já relativamente aos monumentos ou locais menos ilustres, foi necessária uma abordagem diferente. O Local - uma página online italiana que cobre em inglês a actualidade italiana - informou no mês passado que cerca de 50 destas propriedades deverão ser leiloadas com vista a colectar 500 milhões de euros para aliviar a dívida nacional. Entre elas inclui--se o castelo onde os actores Tom Cruise e Katie Holmes deram o nó, um antiga colónia prisional e Villa Mirabellino, uma antiga residência de um cardeal da Lombardia do século xviii.

Enquanto o governo italiano argumenta que estas vendas são a única maneira de preservar monumentos históricos da completa ruína, os críticos mostram-se horrorizados com a perspectiva de verem tesouros nacionais cair em mãos privadas, e os residentes têm-se organizado e lançado campanhas determinadas a frustrar a venda de propriedades como a Villa Mirabellino.

VISTOS GOLD E OUTROS
Além de Portugal e Malta, há vários outros países europeus que estão a oferecer a cidadania a estrangeiros que invistam grandes somas no país, mas a maioria impõe como requisito alguns anos de residência.

Anunciado em Novembro, o programa de Malta prescindiu deste requisito pedindo apenas aos aspirantes à nacionalidade que desembolsassem 650 mil euros, num esquema que o primeiro-ministro, Joseph Muscat, defendeu como uma manobra inteligente para arrecadar para os cofres do Estado cerca de 30 milhões de euros por ano.


Os malteses não foram na conversa do primeiro-ministro e manifestaram indignação geral face à intenção. Esta acabou por ser temporariamente engavetada antes de ser ressuscitada há uns dias com uma revisão das suas condições. Ficou mais caro o passaporte, subindo para 1,15 milhões de euros, com a obrigação de 500 mil serem investidos em imóveis, títulos ou acções na ilha. A questão é que, mesmo que a lei siga em frente, os novos malteses devem considerar bem antes de pagarem pelos sonhos de uma vida à europeu uma vez que o Partido Nacionalista (oposição) já deixou claro que, chegando ao governo, não descarta a possibilidade de revogar as novas cidadanias.

Sem comentários: