O fecho absurdo da Loja do Cidadão dos Restauradores
Além de ser uma falsa
economia, a prometida alternativa evaporou-se
Por Eduardo Oliveira Silva
publicado em 3 Jan 2014 – in (jornal) i online
Desde ontem que a população da Grande Lisboa deixou de
contar com a Loja do Cidadão dos Restauradores, que foi fechada por
alegadamente custar muito dinheiro em rendas, 600 ou 700 mil euros ao ano
consoante as fontes.
A medida estava prevista há muito, mas estava também
prometida a abertura de um equipamento de substituição com a mesma finalidade
na Estação Fluvial de Lisboa, o que não aconteceu nem acontecerá.
A verdade é que o governo decidiu pura e simplesmente fechar
a primeira das lojas do cidadão (a funcionar desde 2001), e a mais central,
onde diariamente eram atendidas cerca de 3 mil pessoas no centro da capital,
para onde confluem transportes públicos, ruas e avenidas de Lisboa. Além disso
ficava perto da Margem Sul, onde residem centenas de milhares de cidadãos.
Quem quiser recorrer a uma loja do cidadão em Lisboa terá
agora de se deslocar a Marvila ou às Laranjeiras, o que, convenhamos, é
completamente diferente em termos de acessos. Já em 2003, no tempo do governo
Barroso, se tinha verificado uma ofensiva para fechar a emblemática loja dos
Restauradores, mais ou menos com os mesmos argumentos falaciosos.
Falaciosos porque na realidade o que se passa é que na
actual maioria (a mesma de então) houve sempre quem convivesse mal, muito mal
até, com o facto de a importação deste modelo de serviços de proximidade
concentrados ter sido da responsabilidade do Partido Socialista, o que
perturbou um determinado grupo da actual maioria governamental, embora o
próprio PS tenha agora deixado passar a medida sem reparos de maior.
Mas para além deste aspecto revanchista, que existe de
facto, pode analisar-se a questão do ângulo económico. Em primeiro lugar, para
procurar perceber por que razão o governo não renegociou o arrendamento ou pura
e simplesmente não se fez o que estava previsto, ou seja, arranjar o tal local
alternativo sensivelmente na mesma zona ou num eixo central, onde não faltam
equipamentos do próprio Estado desafectados, como antigos tribunais, isto para
não ir mais longe.
Mais ainda, a ideia de que o país poupa dinheiro está por
demonstrar. É certo que se corta a renda, mas quanto custa a mais a cada
cidadão a mudança do sítio? Quanto custam as horas de espera ou de trabalho
perdido à produtividade do país? Em quanto agrava a eficácia a eventualidade de
as pessoas terem de se deslocar a vários sítios para tratar de vários assuntos que
ali podiam despachar no mesmo local?
No meio das explicações atabalhoadas dadas no último dia de
funcionamento da loja dos Restauradores, o secretário de Estado da Modernização
Administrativa (parece uma ironia ostentar este título) não foi minimamente
capaz nem de justificar a medida, nem de assumir compromissos concretos quanto
à manutenção do serviço aos cidadãos. Lamentável!
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