quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

O fecho absurdo da Loja do Cidadão dos Restauradores.


O fecho absurdo da Loja do Cidadão dos Restauradores
Além de ser uma falsa economia, a prometida alternativa evaporou-se
Por Eduardo Oliveira Silva
publicado em 3 Jan 2014 – in (jornal) i online

Desde ontem que a população da Grande Lisboa deixou de contar com a Loja do Cidadão dos Restauradores, que foi fechada por alegadamente custar muito dinheiro em rendas, 600 ou 700 mil euros ao ano consoante as fontes.

A medida estava prevista há muito, mas estava também prometida a abertura de um equipamento de substituição com a mesma finalidade na Estação Fluvial de Lisboa, o que não aconteceu nem acontecerá.

A verdade é que o governo decidiu pura e simplesmente fechar a primeira das lojas do cidadão (a funcionar desde 2001), e a mais central, onde diariamente eram atendidas cerca de 3 mil pessoas no centro da capital, para onde confluem transportes públicos, ruas e avenidas de Lisboa. Além disso ficava perto da Margem Sul, onde residem centenas de milhares de cidadãos.

Quem quiser recorrer a uma loja do cidadão em Lisboa terá agora de se deslocar a Marvila ou às Laranjeiras, o que, convenhamos, é completamente diferente em termos de acessos. Já em 2003, no tempo do governo Barroso, se tinha verificado uma ofensiva para fechar a emblemática loja dos Restauradores, mais ou menos com os mesmos argumentos falaciosos.

Falaciosos porque na realidade o que se passa é que na actual maioria (a mesma de então) houve sempre quem convivesse mal, muito mal até, com o facto de a importação deste modelo de serviços de proximidade concentrados ter sido da responsabilidade do Partido Socialista, o que perturbou um determinado grupo da actual maioria governamental, embora o próprio PS tenha agora deixado passar a medida sem reparos de maior.

Mas para além deste aspecto revanchista, que existe de facto, pode analisar-se a questão do ângulo económico. Em primeiro lugar, para procurar perceber por que razão o governo não renegociou o arrendamento ou pura e simplesmente não se fez o que estava previsto, ou seja, arranjar o tal local alternativo sensivelmente na mesma zona ou num eixo central, onde não faltam equipamentos do próprio Estado desafectados, como antigos tribunais, isto para não ir mais longe.

Mais ainda, a ideia de que o país poupa dinheiro está por demonstrar. É certo que se corta a renda, mas quanto custa a mais a cada cidadão a mudança do sítio? Quanto custam as horas de espera ou de trabalho perdido à produtividade do país? Em quanto agrava a eficácia a eventualidade de as pessoas terem de se deslocar a vários sítios para tratar de vários assuntos que ali podiam despachar no mesmo local?


No meio das explicações atabalhoadas dadas no último dia de funcionamento da loja dos Restauradores, o secretário de Estado da Modernização Administrativa (parece uma ironia ostentar este título) não foi minimamente capaz nem de justificar a medida, nem de assumir compromissos concretos quanto à manutenção do serviço aos cidadãos. Lamentável!

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