Novo Museu dos Coches já recebeu quatro viaturas e as
peças das reservas
O museu, que está pronto
desde 2012 mas só abrirá no próximo ano, já tem as oficinas de manutenção e
conservação a funcionar
3 jan 2014/ Público
As peças das reservas e quatro viaturas da exposição
permanente do Museu Nacional dos Coches, em Lisboa, já foram transferidas para
as instalações do novo museu, que só deverá abrir em 2015.
Silvana Bessone, directora do Museu dos Coches, localizado
na Praça Afonso de Albuquerque, em Belém, confirmou à agência Lusa que no final
do ano passado foram transferidas para o novo museu, situado a cerca de 200
metros, todas as peças que se encontravam nas reservas da instituição.
“O novo museu recebeu estas peças das reservas e também
quatro viaturas antigas que se encontravam na exposição permanente. Vão receber
ali tratamento de conservação”, revelou a directora do museu. Silvana Bessone
disse que o novo museu já tem as oficinas de manutenção e conservação a funcionar.
As reservas do museu, explicou, incluem fardamentos, selas e
arreios e encontram-se agora numa área do novo edifício “com mais espaço e em
muito boas condições”. As viaturas transferidas, adiantou, são três berlindas
do século XVIII e uma carruagem do século XIX, que deverão ser alvo de
tratamento nas oficinas e futuramente expostas, quando o museu abrir.
Questionada sobre outras alterações introduzidas na colecção
permanente do actual Museu dos Coches — que celebra 110 anos em 2015 — Silvana
Bessone afirmou que, “com excepção das viaturas” transferidas, a colecção irá
manter-se.
“Oficialmente está prevista a abertura do novo museu em
2015. Até lá, ainda terão de ser lançados os concursos públicos para o projecto
museográfico, sinalética, conteúdos multimédia e passagem pedonal”, recordou.
A directora sublinhou que a construção da passagem pedonal
sobre a via férrea “será fundamental para o acesso ao museu pelos visitantes”
que chegam pela linha ferroviária situada entre a Avenida da Índia e a Avenida
de Brasília.
Da mesma forma, a passagem será usada para ligar a zona de
estacionamento situada do lado de lá da via férrea, junto à Avenida de
Brasília, onde deverão estacionar os autocarros de transporte de turistas.
O novo Museu Nacional dos Coches é composto por dois
edifícios, um expositivo e outro anexo, com quatro pisos, com a recepção, as
bilheteiras, a loja, o restaurante/ bar, a cafetaria, duas salas de exposição
permanente, a sala de exposições temporárias, o auditório, o serviço educativo,
os gabinetes da direcção, os serviços administrativos, o laboratório, as
oficinas e as zonas técnicas. Ocupando 15.177 metros quadrados nos terrenos das
antigas Oficinas Gerais do Exército, o projecto foi concebido em consórcio
pelos ateliers MMBB Arquitetos (Brasil), Bak Gordon Arquitectos e Nuno Sampaio
Arquitectos (Portugal), com o arquitecto brasileiro Paulo Mendes da Rocha.
Criado por iniciativa da rainha D. Amélia, mulher do rei D.
Carlos I, em 1905, o museu, actualmente instalado no antigo Picadeiro Real do
Palácio de Belém, reúne uma colecção única no mundo de viaturas de gala e de
passeio do século XVII ao século XIX, na sua maioria provenientes dos bens da
coroa ou propriedade particular da Casa Real portuguesa.
Em Outubro do ano passado, no Parlamento, o secretário de
Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier, disse aos deputados que, mesmo
fechado, o novo museu iria custar ao Estado entre 200 mil e 300 mil euros em
2013. Disse ainda que, depois de aberto, os custos anuais iriam subir para três
milhões de euros e que o actual museu custa um milhão, gerando receitas de
500.000 euros.
Adjudicado durante o Governo de José Sócrates e finalizado
em 2012, o projecto de construção do novo Museu dos Coches destinouse à
execução das contrapartidas do Casino Lisboa, envolvendo um investimento total
de 35 milhões de euros.
Foi você que pediu uma garagem para coches antigos?
A Opinião de António Sérgio Rosa de Carvalho.27/08/2011 in
Público.
Belém, espaço simbólico da lusitanidade, é caracterizado de
forma única pela luminosidade do Tejo-Oceano, pelo tom pastel do seu edificado
vernáculo e erudito e pelo simbolismo da sua vegetação arquetipamente
mediterrânica.
Este espaço de identidade foi criado por várias gerações,
num processo acumulativo, baseado num consenso de leitura, apreciação e
reconhecimento da sua importância. Na Praça Afonso de Albuquerque, a elegância
apropriada do estilo "Seize" do Picadeiro Real e a erudição
neoclássica dos seus interiores constituem o contexto perfeito para a apreciação
da internacionalmente reconhecida colecção de coches.
O êxito do museu ilustra um produto cultural consolidado,
com desafios de conservação, mas perfeito no seu conjunto.
Num processo apressado, sem concurso público, decidido por
um ministro pouco económico (mais do que três dezenas de milhões) determinado a
deixar marca de regime através da afirmação pelo contraste e ruptura, este
projecto deixa-nos preocupados.
Acima de tudo porque é um símbolo de um despesismo
inconsciente e irresponsável, destruidor de um equilíbrio perfeito já existente
e criador de novas despesas num futuro muito incerto de penúria e crise no
universo do património cultural e museus.
Além disso, ao o compararmos na mesma zona com o Centro
Cultural de Belém, concluimos que o projecto do mesmo revelava preocupações de
contextualização arquitectónica com a envolvente, esta já determinada na
Exposição do Mundo Português em 1940. Volumetrias sintonizadas com a massa dos
Jerónimos, jardins suspensos para usufruto tanto do horizonte natural como simbólico,
contextualização cuidada dos materiais, linguagem arquitectónica intemporal,
monumentalidade apropriada à gravitas e "tectónica" da zona. Além
disso, apresentava um programa de funções e de apropriação do espaço de
usufruto quotidiano muito claro na sua relação com a arquitectura.
Ora o novo Museu dos Coches, apesar das suas promessas de
valorização urbana e pretendidas garantias de vivência turística (elevação do
solo); apesar da sua pretensão de monumentalidade minimalista, capaz de
valorizar através da imensidão abstracta e branca a exposição de objectos de
"ourivesaria" movíveis (coches), deixa-nos muito apreensivos. Porque,
apesar de todos os argumentos, é um projecto formalista, dirigido
fundamentalmente à forma e estilo do objecto arquitectónico, ao qual a função
tem que se adaptar, afirmando-se este objecto pela ruptura, tanto em forma como
em materiais.
Enfim, receita apropriada e aliciante para políticos que
desejam deixar marca dinástica de regime, mas altamente preocupante quando
falamos do Genius Loci de Belém e das suas características cuidadosamente
consolidadas.
O projecto lembra-nos um modelo de garagem com rampas, saído
de uma miniatura do nosso quarto de brincadeiras, ou um espaço caricatural de
um filme de Jacques Tati.
A imensidão branca e clínica dos seus espaços interiores
(salas ou hangares [?] com 130 metros por 20 e oito de altura) vai obrigar ao
restauro exaustivo de todos os objectos, expostos agora a um escrutínio
detalhado e implacável. Os seus espaços ("praça" e rampas) exteriores
correm o risco de confirmarem a sua vocação de "garagem", ou no place
vazio, inóspito e sujeito às correntes de ar - enquanto a elegância perfeita e
erudita do picadeiro fica condenada à subavaliação e subutilização.
Um projecto desnecessário, como até António Costa reconheceu
publicamente. No entanto, a Associação de Arquitectos, tal como no Largo do
Rato, veio apoiar publicamente com 200 assinaturas este projecto, apesar de
ausência de qualquer concurso.
Continua a ser a associação, tal como os seus estatutos o
afirmam, uma instituição de utilidade pública, ou transformou-se descaradamente
num clube de interesses corporativos?
Historiador de Arquitectura
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