OPINIÃO
Pôr o Moedas a funcionar?!
Na passada quarta-feira, José Honório, ex-administrador
do BES e do Novo Banco deu a conhecer que, em meados de maio de 2014,
acompanhou Ricardo Salgado a uma reunião com Carlos Moedas.
João Paulo
Correia
27 de Março de
2021, 6:10
https://www.publico.pt/2021/03/27/politica/opiniao/moedas-funcionar-1956083
Foi esta a
sugestão de José Manuel Espírito Santo numa reunião do Conselho Superior do
Grupo Espírito Santo (GES), um mês e meio antes da detenção de Ricardo Salgado
(julho de 2014).
O ex-presidente
do BES ligou a Carlos Moedas. Pediu ajuda para interceder junto do presidente
da Caixa Geral de Depósitos, de forma a obter uma linha de financiamento para a
ESI no valor de 500 a 750 milhões de euros. Carlos Moedas terá dito que iria
falar com o presidente da Caixa e que iria colocar o seu amigo ministro da
Justiça do Luxemburgo em contacto com o GES, tendo em conta que a origem do
problema derivava de um inquérito aberto pela procuradoria do Luxemburgo a três
empresas do GES.
Na quarta-feira,
José Honório, ex-administrador do BES e do Novo Banco, deu a conhecer que, em
meados de maio de 2014, acompanhou Ricardo Salgado a uma reunião com Carlos
Moedas.
Ficámos a saber
com mais detalhe o conteúdo das reuniões que José Honório e Ricardo Salgado
mantiveram com as autoridades políticas, antes da concretização do aumento de
capital do BES. Ricardo Salgado e José Honório reuniram-se com Durão Barroso,
Cavaco Silva, Passos Coelho e Maria Luís Albuquerque e Carlos Moedas.
Disse ainda José
Honório que terá sido entregue um memorando a Carlos Moedas sobre a situação da
área não financeira do GES, que evidenciava um passivo de 7600 milhões de euros
(4,5% do PIB de 2014).
Por esta altura,
todas as autoridades conheciam o grau de exposição do BES ao GES, ou seja, que
uma grande fatia dos títulos de dívida do GES estavam nas mãos dos clientes do
retalho e do private do BES. Como se sabe, tudo isto aconteceu através de
esquemas criminosos, fraudulentos e enganosos, gerando um vasto universo de
lesados, entre particulares, empresas e o Estado.
Foi também
revelado por José Honório que estas reuniões decorreram antes da operação de
aumento de capital do BES, concretizada em meados de junho.
Esta sequência de
factos leva-nos a concluir que as principais autoridades políticas da União
Europeia e nacionais conheceram o “buraco” do GES-BES ainda antes do aumento de
capital do banco. E, aparentemente, nada fizeram para o impedir.
Ricardo Salgado
encabeçou uma fraude gigantesca. Foram cometidos crimes económicos, financeiros
e fiscais graves. Ricardo Salgado é o principal responsável pela queda do
GES-BES.
O que está em
causa são as declarações de José Honório, proferidas esta semana, cuja
idoneidade foi reiteradamente validada, e nunca censurada, pelas autoridades
que o convidaram para administrador do BES-NB.
O telefonema de
Ricardo Salgado a Carlos Moedas e a reunião entre ambos permitiram a Carlos
Moedas aceder a informação relevantíssima. Provavelmente, o mesmo aconteceu com
Durão Barroso, Cavaco Silva, Passos Coelho, Paulo Portas e Maria Luís
Albuquerque.
Os portugueses há
muito que aguardam respostas a determinadas perguntas. Por que razões as
autoridades políticas não agiram atempadamente para evitar o colapso do BES?
Por que razões não impediram o aumento de capital em junho de 2014? Por que
razões vieram a público, a poucos dias da resolução, prestar garantias quanto à
solidez do BES?
Persistem
dúvidas, suposições e exclamações que só podem ser esclarecidas por quem de
direito.
O regime jurídico
dos inquéritos parlamentares não obriga Cavaco Silva a depor, mesmo que por
escrito. Os ex-primeiros-ministros podem depor por escrito. Maria Luís vem
depor no dia 1 de abril.
O Inquérito ao NB
tem revelado factos novos. Isso aborrece e perturba alguns setores. Os que se
doem pela procura da verdade chamam a isto jogada política.
A jogada política
mais feia é continuar a fintar os portugueses, deixando de fora quem pode
responder a tudo isto!
O PS quer
questionar estas autoridades políticas. O PS quer ouvir Carlos Moedas. É a
oportunidade para o próprio esclarecer se funcionou ou não funcionou, o que
soube em concreto, o que fez e o que não fez.
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