Crise no turismo. Alojamento passa para arrendamento?
Uma parte dos edifícios restaurados para alojamento local
poderá ficar disponível para arrendamento no pós-pandemia, porque o conceito de
turismo de massas deverá mudar e Portugal não terá tantos turistas como no
passado
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Lusa
20 Março 2021 —
10:21
O especialista em
Geografia Humana, João Ferrão, acredita que parte dos edifícios que estavam
reservados para alojamento local possam vir a ter que ser transformados em
casas para arrendamentos. No seu entender, os centros históricos das cidades
portuguesas "estavam sob uma pressão excessiva de turismo", ficando
muito organizadas em função do setor.
"O turismo,
a partir de certa altura, se é demasiado intenso, se começa a aumentar os
preços, se começa a expulsar as pessoas que lá vivem, é mais negativo do que
positivo. Portanto, este contexto em que nós vivemos parou ou suspendeu esse
processo e devíamos aprender com isso", lembrou João Ferrão, que foi
secretário de Estado do Ordenamento do Território e das Cidades
Para o
investigador, não se trata de estar contra ou a favor do turismo, porque
Portugal necessita de turistas, mas, sim, olhar de uma outra forma para os
centros das cidades e pensar em novas soluções aproveitando os benefícios do
setor, "sem que o remédio se transforme em veneno".
"O
alojamento local hoje está numa grande crise, porque não há turismo. Quando o
turismo voltar, parte desse alojamento local vai outra vez ser ocupado. Mas
será uma parte ou todo? Essa é a grande dúvida", observou.
A procura
turística e o alojamento local, sublinhou, foram determinantes na recuperação
de muitos edifícios antigos, mas as cidades têm "vida sobretudo com as
pessoas que lá vivem" e isso não pode ser esquecido.
Viver no centro
da cidade
"Penso que muito
daquilo que foi recuperado para o alojamento local, no futuro, não vai poder
ser para alojamento local, porque nós não vamos voltar a ter aquela enchente de
turistas. Também o próprio conceito de massa vai provavelmente mudar um pouco.
Se é assim, uma parte vai voltar para as atividades turísticas, outra parte
fica liberta, por exemplo, para o mercado do arrendamento, que é
fundamental", explicou.
João Ferrão
salientou ainda a importância de levar outro tipo de pessoas para o centro das
cidades, para nele viver, e não apenas as que as visitam.
"Não é ser
contra o turismo, não é também ser a favor de qualquer solução desde que traga
turistas. [...] Sabemos como é penalizador para a cidade o excesso de turismo e
sabemos também como é penalizador para a cidade não ter turismo nenhum",
sustentou.
Recordando os
riscos dos extremos, o especialista reforçou que deve ser encontrado um balanço
no sentido de o turismo e o repovoamento dos centros das cidades coabitarem,
com o arrendamento a estudantes, a jovens casais e a famílias.
"Se nós
voltarmos outra vez para o extremo do 'muito turismo', mais tarde ou mais cedo,
numa outra situação idêntica à que nós vivemos agora, vamos ter outra vez o
problema de o turismo desaparecer de um dia para o outro e haver uma nova
crise", apontou, acrescentando que "o repovoar os centros das cidades
é um fator fundamental".
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