OPINIÃO
Portugal dos pequeninos
Não se queira reeditar uma espécie de “linha de Torres
Vedras” para proteger a capital deste ou de futuros agentes infeciosos que, não
respeitando distâncias continentais, muito menos serão travados por barreiras
concelhias.
Jorge Almeida
29 de Março de
2021, 0:25
https://www.publico.pt/2021/03/29/opiniao/opiniao/portugal-pequeninos-1956301
Fazendo fé nas
notícias, o reputado e mediático virologista Pedro Simas teria aceitado com
entusiasmo o desafio do Dr. Carlos Moedas para coordenar um plano de
contingência de maneira a “proteger Lisboa de novas pandemias”. Segundo
palavras do candidato à Câmara de Lisboa, o objetivo é “preparar a cidade com
um plano de contingência ágil que responda atempadamente a futuras pandemias”.
Chama-se a tão
nobre objetivo meter o Rossio na Betesga. Lidamos hoje com um problema
sanitário grave à escala mundial, longe de estar resolvido. O País, agindo como
um todo, viu-se na necessidade de convocar o setor público (SNS), privado e
social para, dentro do possível, conter e minimizar as consequências do surto
covid na saúde da população. Neste esforço nacional solidário, assistimos à
transferência de doentes entre hospitais do continente e ilhas, sempre que tal
se mostrou necessário.… Vamos agora “microscopar” transformando um problema
nacional numa questão da capital!
Face à situação
difícil que vivemos em resultado desta pandemia e do risco de novas ameaças,
mesmo reduzindo um problema mundial à dimensão nacional, é para o País no todo
que é preciso encontrar soluções no campo da Saúde. Não se queira, pois,
reeditar uma espécie de “linha de Torres Vedras” para proteger a capital deste
ou de futuros agentes infeciosos que, não respeitando distâncias continentais,
muito menos serão travados por barreiras concelhias.
Pretender solucionar o problema envolvendo a capital numa
espécie de redoma protetora, para além de ilusório, pode conduzir a um aumento
iníquo e improdutivo da despesa pública
Segundo dados do
Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, a região de Lisboa e Vale
do Tejo tem uma letalidade covid acima da média nacional (2,17% vs. 2%), sendo
claramente superior à do Norte do País (1,52%), embora inferior à verificada no
Alentejo (3,17%). Várias causas podem explicar estas diferenças, desde razões
sociológicas à organização dos cuidados de saúde – é assim fundamental
clarificar a crueza dos números.
Não sendo
conhecidas as razões que levam a que a região do País com maior rendimento per
capita apresente (aparentemente?) uma taxa de mortalidade covid acima da média
nacional, pretender solucionar o problema envolvendo a capital numa espécie de
redoma protetora, para além de ilusório, pode conduzir a um aumento iníquo e
improdutivo da despesa pública.
A história do SNS
mostra que contributos importantes para o seu desenvolvimento vieram de
personalidades ligadas ao PSD. A este propósito, lembram-se os nomes de Albino
Aroso, Paulo Mendo e Leonor Beleza. Face aos novos desafios de saúde pública é
fundamental que o SNS seja reforçado, sendo fundamental alargar consensos.
Porém, pretender cuidar da parte isolando-a do todo só serve para aprofundar
divisões territoriais, abrindo portas a populismos que, de todo, não se
desejam.
O autor escreve segundo o novo acordo ortográfic
Sem comentários:
Enviar um comentário