Cristina Albuquerque, a mulher que terá autorizado a
caçada na Torre Bela
23.12.2020 19:54
por Marco Alves
Registos prediais consultados pela SÁBADO dizem que cedeu
775 hectares para central fotovoltaica "livres de quaisquer pessoas, bens,
ónus ou encargos e sem quaisquer condições ou restrições".
Prazo: 29 anos,
11 meses e 9 dias. No dia 24 de março de 2020, a Sociedade Agrícola da Quinta
do Convento da Visitação SAG, Lda cedeu os direitos de superfície de duas
parcelas da Quinta da Torre Bela (freguesia de Manique do Intendente, Azambuja)
a duas empresas internacionais para "construir e explorar uma central
solar fotovoltaica".
Associações
Associações "repudiam abate massivo" de animais na Torre Bela e pedem
investigação às autoridadesA CSRTB, Unipessoal ficou com uma área de 160
hectares "livre de quaisquer pessoas, bens, ónus ou encargos e sem
quaisquer condições ou restrições que possam limitar ou impedir a construção,
instalação e exploração da infraestrutura [central solar fotovoltaica]". A
Aura Power Rio Maior, SA ficou com 615 hectares.
A morte de 540
animais por um grupo de 16 caçadores em dois dias deste mês terá sido essa
"limpeza" do terreno para a construção do projeto, segundo acusam
associações ambientalistas e políticas. As duas empresas promotoras da central
solar já emitiram entretanto um comunicado onde dizem que "não estão de
nenhuma forma relacionadas com o ocorrido, nem com a atual gestão, propriedade
ou exploração da Herdade da Torre Bela".
A Sociedade
Agrícola da Quinta do Convento da Visitação SAG foi criada em setembro de 1997.
Tem hoje um capital social de €5.000, sendo que Ana Cristina Nunes de
Albuquerque (que usa como nome profissional Cristina Albuquerque) tem 80%. A
empresa faturou em 2019 cerca de €875 mil, com resultados líquidos de apenas
€397. O outro sócio é o sogro, Josué de Assunção Carvalho.
Não há
aparentemente qualquer ligação da Sociedade Agrícola da Quinta do Convento da
Visitação SAG, Lda com acionistas angolanos, nomeadamente Isabel dos Santos
(como é falado na zona). A empresa comprou a Torre Bela (ou grande parte dela)
ainda no século passado, em maio de 1998, segundo os registos prediais. Os
vendedores pertenciam à família do duque de Lafões (incluindo o próprio): Lopo
de Bragança, Diogo de Bragança e Miguel de Bragança.
No âmbito desta
empresa, nora e sogro gerem ainda a Quinta do Convento, em Vila Verde dos
Francos (a 30 km da Quinta da Torre Bela) que acolhe festas e casamentos e tem
produção de vinho. O site diz que "a gestão da Quinta é da responsabilidade
de Cristina [Albuquerque] que se orgulha de ter progressivamente e
completamente reestruturado as vinhas, adquirindo algumas, renovando
equipamentos técnicos e edifícios de exploração vínica."
É nesse site da
Quinta do Convento que se pode ver uma cerimónia em 2011, onde Cristina
Albuquerque recebeu uma medalha de ouro do município de Alenquer
"referente ao vinho Merlot-Touriga Nacional de 2005, um vinho que apesar
da sua idade continua a dar cartas a nível internacional".
A Sociedade
Agrícola da Quinta do Convento da Visitação SAG tem ainda como atividades
abertas "viticultura, olivicultura, silvicultura, turismo no espaço rural,
cultura de citrinos e caça e repovoamento cinegético."
Cristina
Albuquerque está ligada a mais oito empresas, ligadas ao imobiliário, turismo e
explorações agrícolas. Partilha o capital social quase sempre com familiares,
sendo a sede num escritório do edifício das Amoreiras, em Lisboa. A principal
empresa da família Nunes de Albuquerque aparenta ser a Trustworthy, que faz a
gestão de participações sociais em 10 empresas. Tem um capital social de €5
milhões, divididos em cinco partes iguais por membros dos Nunes de Albuquerque.
A SÁBADO
contactou a sede da Sociedade Agrícola da Quinta do Convento da Visitação SAG
por via telefónica, bem como o escritório das Amoreiras, não obtendo resposta.
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