EDITORIAL
Os aumentos na TAP são uma indigência moral
Numa empresa à beira do precipício pagar aos seus
administradores salários muito acima do que ganha o Presidente da República
deve ser o equivalente a brindar com Barca Velha no dia do anúncio dos
despedimentos.
Ana Sá Lopes
29 de Dezembro de
2020, 22:30
https://www.publico.pt/2020/12/29/politica/editorial/aumentos-tap-sao-indigencia-moral-1944578
O que se está
agora a passar na empresa de transporte aéreo “de bandeira” que estava para
fechar e que o Estado, com o dinheiro dos contribuintes, resgatou é social e
politicamente imoral. Já se sabe que o plano de reestruturação entregue em
Bruxelas será uma máquina trituradora de empregos e de salários. O ministro das
Infra-Estruturas admitiu em Dezembro que “os custos laborais são um peso na
TAP” e “que tornam difícil a sua recuperação”.
Como é possível
que o salário de Miguel Frasquilho tenha sido aumentado (decisão entretanto
revertida) e que as promoções de Ramiro Sequeira e Alexandra Vieira Reis
permitam que estes dois novos administradores vejam, na prática, duplicar os
seus vencimentos? Se é normal que a uma promoção corresponda um aumento de
salário, uma empresa tem de ser altamente lucrativa para que tal signifique
passar de 17 mil euros mensais para 35 mil (caso de Ramiro Sequeira) ou de 14
mil por mês para 25 mil (caso de Alexandra Vieira Reis). É para ficar a ganhar
o mesmo que os outros que já lá estão?
A questão é essa:
numa empresa à beira do precipício pagar aos seus administradores (em nome de
quê? Vão fugir para a concorrência?) salários muito acima do que ganha o
Presidente da República deve ser o equivalente a brindar com Barca Velha no dia
do anúncio dos despedimentos.
Nas últimas
décadas tem-se agravado exponencialmente, praticamente em todo o mundo, a
diferença entre o salário da pessoa que ocupa o topo da hierarquia e o salário
daquela que está no último escalão. O argumento de que a pessoa que ocupa o
topo é insubstituível e rara está por provar num número muito elevado de casos.
Infelizmente, não há grande concorrência por estes dias em empresas de aviação,
o que torna o argumento ainda mais disparatado.
O PSD tem razão
quando diz ser “deplorável” que isto aconteça “quando está na iminência de se
verificar na TAP o maior despedimento colectivo de que há memória e de se impor
perdas significativas nos salários dos seus colaboradores”. Também o Bloco de
Esquerda afirma legitimamente que “não se podem pedir todos os sacrifícios aos
trabalhadores, enquanto os elementos da administração, que auferem salários
muito acima da média da empresa, vêem o seu rendimento aumentado de forma
substancial”. O Governo tem de se explicar – e não chega fazer saber que pediu
a Miguel Frasquilho para se “desaumentar”.
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