quinta-feira, 28 de julho de 2022

Trump quer ser duro, sujo e mau contra o crime / Trump wants to be tough, dirty and bad against crime

 



EUA

Trump quer ser duro, sujo e mau contra o crime

 

No seu primeiro discurso em Washington desde que deixou a Casa Branca, o ex-Presidente dos EUA não se envolveu nas discussões sobre as políticas republicanas para 2024, mas voltou a prometer como em 2016 a luta contra o sistema político.

 

Michael Scherer e Josh Dawsey

28 de Julho de 2022, 0:50

https://www.publico.pt/2022/07/28/mundo/noticia/trump-quer-duro-sujo-mau-crime-2015281

 

O antigo Presidente Donald Trump voltou a Washington na terça-feira pela primeira vez desde que deixou o cargo para fazer um discurso distópico encorajando novas respostas “duras”, “sujas” e “más” contra o crime violento e a transferência de sem-abrigo para cidades de tendas nos subúrbios das cidades.

 

A intervenção – povoada de imagens violentas de “ruas crivadas de agulhas e encharcadas de sangue de vítimas inocentes”, penas de morte para traficantes de droga e histórias pormenorizadas de violações e homicídios – marcou o regresso à retórica que Trump usou na campanha de 2016, numa altura em que está a considerar o lançamento de uma nova candidatura presidencial o mais tardar no Outono.

 

“Agora, claro que há pessoas que vão dizer ‘Oh”, isso é horrível! Não, horrível é o que se está a passar agora”, afirmou sobre o seu plano de transferência dos sem-abrigo para os arredores das áreas urbanas. Propôs mais fundos para a polícia, penas de prisão mais longas para violações das leis de imigração, um regresso ao “parar e revistar”, o fim da maioria do voto electrónico e novas restrições ao tratamento médico para jovens transgénero.

 

Trump foi convidado para o evento de dois dias que o America First Policy Institute (AFPI), um novo think tank que o ex-presidente ajudou a financiar, organizou e que serviu como uma espécie de esforço público de reformulação de políticas apoiadas pelos republicanos, com uma grande variedade de figuras conservadoras – incluindo o antigo presidente da Câmara dos Representantes Newt Gingrich, o antigo governador do Louisiana, Bobby Jindal, o senador Rick Scott e o líder da minoria republicana na Câmara dos Representantes, Kevin McCarthy –, todos apoiantes do lema America First de Trump.

 

Os organizadores fizeram questão de sublinhar que viam o America First como uma identidade em ascensão para políticas como as da reforma dos serviços públicos, medidas para os cuidados de saúde privados e desenvolvimento de combustíveis fósseis.

 

Um dos vários think tanks criados desde as eleições de 2020, o AFPI foi criado pelo seu presidente, Brooke Rollins, e pelo antigo conselheiro económico da Casa Branca Larry Kudlow com base num plano de políticas que os dois tinham inicialmente planeado na presunção de que Trump conseguiria ser reeleito. O grupo, que não divulga quem são os seus doadores, tem um orçamento anual de 25 milhões de dólares e 150 funcionários.

 

“Em certo sentido esta é uma administração no exílio”, disse Gingrich sobre os oito antigos membros do gabinete de Trump e nove antigos altos cargos da Casa Brancas que participaram no evento.

 

Kudlow diz que o grupo não planeia apoiar formalmente nenhum candidato em 2024 e que Trump não está directamente envolvido, embora alguns líderes do grupo continuem a falar com o ex-Presidente.

 

“Estamos a desenvolver e a expandir ideias e assuntos que sabemos que funcionam”, explicou. “Tem tudo a ver com questões e ideias e tentar trazer o nosso país de volta aos carris.”

 

Russel Vought – um director orçamental de Trump que teve um papel no impeachment de 2019 do ex-Presidente ao demorar a ajuda à Ucrânia – está a trabalhar com outro grupo de antigos colaboradores, o Center for Renewing America, para dar recomendações sobre como emagrecer agências governamentais, fazer “reformas na classificação” e diminuir-lhes os poderes.

 

“Os paradigmas têm de mudar. O nosso objectivo é controlar o deep state [estado paralelo] e a segurança nacional e até algumas agências domésticas”, afirmou Vought. “Há umas mais problemáticas que outras.”

 

Vought está a trabalhar com Kash Patel, responsável da segurança nacional de Trump, com Jeffrey Clark, responsável pelo Departamento de Justiça e que é alvo de uma investigação federal pelo seu papel na tentativa de mudar a eleição – e com Ken Cuccinelli, antigo membro do Departamento de Segurança Nacional, entre outros, para elaborar esses planos.

 

“Divulgaremos os documentos assim que estiverem prontos”, adiantou Vought, o que será antes de 2024.

 

Vought, que afirma que Trump apoia o trabalho, mas que não está envolvido nos esforços diários, quer entregar um esquema a Trump ou a outro candidato republicano conservador em 2024 para transformar o governo federal.

 

Nos meses finais da Administração Trump, Vought desempenhou um papel importante na reclassificação do trabalho dos funcionários públicos, criando um novo Schedule F (categoria de funcionários federais responsáveis pelas políticas de certas agências que deixam de ter protecção e podem ser facilmente despedidos), que torna mais fácil aos presidentes mudar as equipas das agências governamentais.

 

“É preciso ter o conhecimento ou a coragem para realmente mudar uma agência”, disse.

 

Não se sabe se Trump aceitará as recomendações, dizem conselheiros. No entanto, dois deles afirmam que o ex-Presidente gosta da ideia de fazer campanha com o seu velho slogan de “Secar o Pântano”, que lhe daria assunto para falar.

 

Os planos estão a preocupar defensores do serviço público actual, que temem que o próximo Presidente republicano avance com os planos começados em 2020 para tornar mais empregos federais sujeitos a nomeação presidencial e facilitar o seu despedimento. E o medo é que isso seja aproveitado pelos republicanos, mesmo que o nomeado não seja Trump.

 

“A nossa democracia está baseada no princípio de que a mais importante infra-estrutura que temos, o Governo federal, é dedicada ao bem público e não ao líder político do dia”, referiu Max Stier, presidente da Partnership for Public Service, grupo que presta apoio a funcionários públicos.

 

Um dos painéis no evento da AFPI estava focado na forma de preparar o próximo Presidente republicano a lidar com funcionários federais que tentam obstruir os objectivos da Casa Branca.

 

“O funcionalismo público não pode resistir activamente”, afirmou David Bernhardt, que serviu Trump como secretário do Interior, na sessão de segunda-feira. “Se alguém usa de subterfúgios ou soluções alternativas, não pode não ser responsabilizado por isso.”

 

Durante o seu tempo na Casa Branca, Trump queixou-se repetidamente de não ser capaz de encontrar as pessoas adequadas para cumprir os seus desejos e demonstrar a sua fiel lealdade. A sua presidência ficou marcada por dezenas de conselheiros, chefes de gabinete e funcionários de agências que foram postos de lado depois de se recusarem a cumprir uma das suas ordens, muitas vezes por razões éticas ou legais – incluindo o director do FBI, James Comey, o procurador-geral Jeff Sessions e o vice-Presidente Mike Pence, só para nomear alguns. Trump ainda se queixa de alguns membros do Governo e diz que no próximo mandato terá de ter “pessoas melhores”, diz um dos seus assessores.

 

“Tenho ouvido o Presidente Trump a dizer que o seu maior arrependimento foi o de não ter a sua equipa pronta no primeiro dia”, disse Rollins antes do começo do evento. “O que estamos a tentar: qual é o objectivo a longo prazo? Como vamos atacar? E eu acho que o nosso lado nunca esteve pronto para essa oportunidade.”

 

Segundo um conselheiro, há alguma preocupação entre os conselheiros de Trump de que, por causa da frustração de ter tido de enfrentar dois processos de impeachment e de ter conselheiros que não lhe eram completamente leais, o ex-Presidente acabe a escolher “bajuladores” não qualificados para postos-chave.

 

Entre outros grupos que procuram os favores de Trump estão a America First Legal Foundation, criada pelo antigo autor de discursos Stephen Miller, e o American Cornerstone Insitute, fundada pelo ex-secretário de Habitação Bem Carson.

 

Alguns republicanos estão cada vez mais chateados que o dinheiro que poderia ajudar o Partido Republicano a ganhar esteja a ser desviado para grupos como o AFPI e o Save America, o PAC (Comité de Acção Política) do ex-Presidente. O AFPI é apenas “um sítio para os membros da Administração Trump fazerem dinheiro”, disse uma figura importante do partido.

 

O que serão essas políticas, especificamente, continua a ser um trabalho em desenvolvimento. A maioria dos painéis de discussão do AFP evitaram ideias políticas pormenorizadas. Um painel sobre políticas económicas revelou fracturas dentro da organização, entre Kudlow e o antigo representante de Trump para o comércio Robert Lighthizer, em relação à sensatez de uma lei bipartidária no Congresso para subsidiar a indústria americana de chips.

 

Outros abraçaram a mudança no pensamento conservador que se seguiu à eleição de Trump em 2016, para políticas específicas destinadas a ajudar os eleitores da classe operária, com menos preocupação em relação a défices e mais abertura a taxas alfandegárias e política industrial.

 

Trump não se envolveu nas minudências dos debates político-ideológicos na terça-feira. Pelo contrário, assinalou que mais uma vez vê uma oportunidade de abanar o mundo político ao adoptar os temas do ressentimento, do medo e da raiva que o ajudaram a chegar ao poder.

 

“Nunca se esqueçam que tudo o que este sistema corrupto me está a fazer tem a ver com a preservação do poder e do controlo sobre o povo americano. Querem prejudicá-los de todas as maneiras e feitios”, afirmou o ex-Presidente, levando a multidão a gritar: “Mais quatro anos!”

 

Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post


USA

Trump wants to be tough, dirty and bad against crime

 

In his first speech in Washington since leaving the White House, the former U.S. President was not involved in discussions on Republican policies for 2024, but again promised how in 2016 the fight against the political system.

 

Michael Scherer e Josh Dawsey

July 28, 2022, 0:50

https://www.publico.pt/2022/07/28/mundo/noticia/trump-quer-duro-sujo-mau-crime-2015281

 

Former President Donald Trump returned to Washington on Tuesday for the first time since leaving office to deliver a dystopian speech encouraging "tough," "dirty" and "bad" new responses to violent crime and the transfer of homelessness to tent cities on the city's suburbs.

 

The intervention - populated with violent images of "needle-riddled streets and drenched in the blood of innocent victims," death sentences for drug traffickers and detailed stories of rape sprees and murders - marked a return to the rhetoric Trump used in the 2016 campaign, at a time when he is considering launching a new presidential bid no later than the fall.

 

"Now, of course there are people who will say 'Oh,' that's horrible! No, horrible is what's happening right now," he said of his plan to transfer homelessness to the outskirts of urban areas. He proposed more funding for the police, longer prison sentences for violations of immigration laws, a return to "stop and search," the end of the majority of electronic voting and new restrictions on medical treatment for transgender youth.

 

Trump was invited to the two-day event that the America First Policy Institute (AFPI), a new think tank that the former president helped fund, organized and served as a kind of public effort to redesign Republican-backed policies with a wide variety of conservative figures – including former House of Representatives Speaker Newt Gingrich,  former Louisiana Governor Bobby Jindal, Senator Rick Scott and Republican Minority Leader in the House of Representatives Kevin McCarthy –all supporters of Trump's America First motto.

 

The organizers stressed that they saw America First as a rising identity for policies such as public service reform, private health care measures and fossil fuel development.

 

One of several think tanks created since the 2020 election, the AFPI was created by its president, Brooke Rollins, and former White House economic adviser Larry Kudlow on the basis of a policy plan that the two had originally planned on the presumption that Trump could be re-elected. The group, which does not disclose who its donors are, has an annual budget of $25 million and 150 employees.

 

"In a sense this is an administration in exile," Gingrich said of trump's eight former cabinet members and nine former Senior White House officials who attended the event.

 

Kudlow says the group does not plan to formally support any candidate in 2024 and that Trump is not directly involved, although some of the group's leaders continue to speak with the former President.

 

"We are developing and expanding ideas and issues that we know work," he explained. "It's all about issues and ideas and trying to get our country back on track."

 

Russel Vought - a Trump budget director who played a role in impeaching the former President's 2019 impeachment by taking aid to Ukraine - is working with another group of former contributors, the Center for Renewing America, to give recommendations on how to slim down government agencies, make "classification reforms" and diminish their powers.

 

"Paradigms have to change. Our goal is to control the deep state and national security and even some domestic agencies," Vought said. "There are some more problematic than others."

 

Vought is working with Kash Patel, Trump's national security officer, Jeffrey Clark, head of the Justice Department, who is the subject of a federal investigation for his role in trying to change the election - and Ken Cuccinelli, a former member of the Department of Homeland Security, among others, to craft those plans.

 

"We will release the documents as soon as they are ready," Vought said, which will be before 2024.

 

Vought, who claims that Trump supports the job but is not involved in daily efforts, wants to hand over a scheme to Trump or another conservative Republican candidate in 2024 to transform the federal government.

 

In the final months of the Trump Administration, Vought played an important role in reclassifying the work of public employees by creating a new Schedule F (category of federal employees responsible for the policies of certain agencies that no longer have protection and can be easily fired), which makes it easier for presidents to change government agency teams.

 

"You have to have the knowledge or the courage to really change an agency," he said.

 

It is not known whether Trump will accept the recommendations, advisers say. However, two of them claim that the former President likes the idea of campaigning with his old slogan of "Dry the Swamp", which would give him a subject to talk about.

 

The plans are worrying advocates of the current public service, who fear that the next Republican President will move forward with plans begun in 2020 to make more federal jobs subject to the presidential nomination and facilitate his dismissal. And the fear is that it will be taken advantage of by Republicans, even if the nominee is not Trump.

 

"Our democracy is based on the principle that the most important infrastructure we have, the federal government, is dedicated to the public good and not to the political leader of the day," said Max Stier, president of the Partnership for Public Service, a group that supports public officials.

 

One of the panels at the AFPI event was focused on how to prepare the next Republican President to deal with federal officials trying to obstruct the White House's goals.

 

"Public service cannot actively resist," said David Bernhardt, who served Trump as interior secretary, at Monday's session. "If someone uses subterfuge or alternative solutions, they cannot not be held responsible for it."

 

During his time in the White House, Trump repeatedly complained about not being able to find the right people to fulfill his wishes and demonstrate his faithful loyalty. His presidency was marked by dozens of advisers, chiefs of staff and agency officials who were set aside after refusing to comply with one of his orders, often for ethical or legal reasons - including FBI Director James Comey, Attorney General Jeff Sessions and Vice President Mike Pence, just to name a few. Trump still complains about some members of the Government and says that in the next term he will have to have "better people," says one of his aides.

 

"I've heard President Trump say that his biggest regret was not having his team ready on the first day," Rollins said before the event began. "What are we trying to do: what is the long-term goal? How are we going to attack? And I don't think our side has ever been ready for that opportunity."

 

According to one adviser, there is some concern among Trump's advisers that because of the frustration of having faced two impeachment proceedings and having advisers who were not completely loyal to him, the former President would eventually choose unqualified "sycophants" for key posts.

 

Other groups seeking Trump's favors include the America First Legal Foundation, created by former speechwriter Stephen Miller, and the American Cornerstone Insitute, founded by former Housing Secretary Bem Carson.

 

Some Republicans are increasingly upset that the money that could help the Republican Party win is being diverted to groups like the AFPI and Save America, the former President's Political Action Committee (PAC). The AFPI is just "a place for members of the Trump Administration to make money," said a senior party figure.

 

What will be these policies, specifically, remains a work in development. Most AFP panel discussions avoided detailed policy ideas. A panel on economic policies revealed fractures within the organization, between Kudlow and Trump's former trade representative Robert Lighthizer, over the wisdom of a bipartisan law in Congress to subsidize the American chip industry.

 

Others embraced the shift in conservative thinking that followed Trump's election in 2016, to specific policies designed to help working-class voters with less concern about deficits and more openness to customs rates and industrial policy.

 

Trump was not involved in the minudences of the political-ideological debates on Tuesday. On the contrary, he pointed out that he once again sees an opportunity to shake the political world by adopting the themes of resentment, fear and anger that helped him come to power.

 

"Never forget that everything this corrupt system is doing to me has to do with preserving power and control over the American people. They want to harm them in every way and so," the former President said, prompting the crowd to shout, "Four more years!"

 

Exclusive PUBLIC/The Washington Post


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